Uma das principais dúvidas de quem planeja frequentar espaços de coworking é se vale a pena largar o conforto do home office para utilizar um local compartilhado. Trabalhar em casa parece muito melhor, não? Os gastos com aluguel extra são inexistentes, a geladeira está sempre próxima, não é preciso se vestir formalmente (ou nem vestir-se, às vezes) e os horários podem ser mais fluidos e menos engessados.

Mas a informalidade do ambiente doméstico pode acabar trazendo mais problemas do que soluções. O que fazer quando precisar receber um cliente? E se uma tia for passar as férias na sua casa, como garantir que ela não interrompa sua rotina? Opções não faltam, mas é mais fácil escolher quando se tem a completa noção de que dedicar recursos para melhorar a sua produtividade não deve ser encarado como apenas mais um item a pagar nas contas do mês.

Investimento x custo

Para facilitar, vamos entender a diferença entre investimento e custo. O investimento é todo o dinheiro que você emprega com o objetivo de ter algum retorno futuro. A chave é esta: no investimento, o recurso volta, necessariamente com um valor mais alto do que o empregado no início. Já os custos são recursos utilizados para garantir que o seu trabalho possa ser executado. Simples? Mais ou menos. Vamos explicar porquê.

Tecnicamente, pagar pelo local onde você vai trabalhar é um custo. Ele é essencial para que sua atividade seja realizada. Se você precisa de uma mesa, cadeira e computador, tem que arcar com os gastos que isso implica. Porém, escolher “refinar” um recurso que você já possui (no caso, seu escritório) pode ser considerado um investimento. É um tipo de custo que agrega valor ao seu produto; no caso da maior parte dos profissionais liberais, sua hora de trabalho.

Você começa a perceber que os clientes não veem uma empresa em casa como algo muito sério. Ter um bom endereço é importante para não parecer um negócio doméstico.

Quanto mais profissional o serviço que você presta, maior a chance de poder cobrar melhor por ele. Muitos espaços de coworking oferecem vantagens como sala de reuniões, motoboy, ambiente climatizado, internet de alta velocidade e estrutura física bem decorada. O preço, em geral, é muito mais barato do que alugar uma sala comercial individualmente, e você se livra de ter que faxinar a casa toda vez que precisar conversar com um cliente pessoalmente.

Foi o que aconteceu com o empresário Aitor Marin, que trabalha no coworking Space 242, em São Paulo. Ele é dono da startup Plano A, que produz um software de gestão de Recursos Humanos. Como acontece com muitos empreendedores, Aitor começou trabalhando em casa para reduzir custos, mas chegou um momento em que precisava dar um tom mais profissional ao negócio: “Você começa a perceber que os clientes não veem uma empresa em casa como algo muito sério. Ter um bom endereço é importante para não parecer um negócio doméstico”.

O fato de ter que trabalhar com mais funcionários também o motivou a sair do home office. Não era possível receber mais pessoas no espaço que ele tinha em casa. Além disso, seria mais fácil acomodar novos profissionais em um ambiente já pronto. Para o Aitor, abrir um escritório próprio seria complicado demais: “Eu precisaria gastar tempo com burocracias de aluguel, contratos, a pessoa que vai limpar e cuidar de uma série de faturas. Tudo isso demanda tempo. Quero focar o tempo no meu produto”.

Além disso, durante o tempo em que está em casa, você continua utilizando a energia elétrica e água. Pode parecer pouco, mas o valor consumido apenas pelo uso de aparelhos convencionais, como computador e ar condicionado, deve ser considerado. Ainda mais em épocas como a atual, em que os valores de energia elétrica sobem com mais velocidade nas principais capitais do Brasil e o racionamento de água deixa de ser um risco para se tornar uma realidade em diversos locais.

Boa parte da sensação de economia financeira ao trabalhar em casa é falsa.

Outro ponto importante é que o ambiente fica menos organizado com o passar das horas. Caso não seja possível estabelecer uma rotina de organização e limpeza com mais afinco, o que era para ser um escritório acaba se tornando uma extensão do próprio quarto. Em algumas situações fica difícil estabelecer o momento final do turno de trabalho. Uma vez que os ambientes de lazer e foco são misturados, mesclar as agendas pode ser bastante natural.

No final das contas, a diferença entre um custo maior para fazer o seu trabalho e o investimento na profissionalização do seu ambiente fica muito mais clara. Boa parte da sensação de economia financeira ao trabalhar em casa é falsa. É relativamente fácil dimensionar quanto vale o tempo que você gastou se dispersando com afazeres domésticos quando tudo é mais interessante que o material a ser entregue.