Algumas semanas atrás fiz uma ótima viagem a São Paulo. Entre todas as coisas que tinha por fazer, tirei alguns dias para visitar alguns espaços de coworking da cidade. Essa é sempre minha principal dica para todos que estão neste mercado. Visite o máximo de espaços possível. Esteja a trabalho ou de férias, sempre que passar por algum lugar tente ao menos dar uma passada na frente do espaço. Se possível, entre e conheça tudo. Idealmente, se apresente e tente conversar com os responsáveis pelo lugar. Isso vai trazer muitos insights legais, eu garanto.

Mas enfim, entre uma atividade e outra, pude pela primeira vez realmente circular por São Paulo. Confesso que nunca tinha de fato conhecido a cidade. Eu sempre vou até lá, faço o que tenho que fazer e logo volto pro aeroporto. Dessa vez foi diferente; pude caminhar por bairros onde nunca tinha passado, visitar espaços que não conhecia, entender um pouco como é a caótica rotina paulistana.

Em meio a tanto brilho, barulho e loucura da cidade, me deparei com a pergunta: mas por que nunca morei aqui mesmo?

Fiquei com isso na cabeça por alguns dias, até que decidi sair de carro em um final de tarde. Então me lembrei de como detesto trânsito.

Vivi boa parte da minha vida em cidades de pequeno e de médio porte. Em Porto Alegre, onde nasci, você dificilmente leva mais de 30 min pra chegar a qualquer parte da cidade. Normalmente os trajetos se resolvem em 15/20 no máximo.

4h do meu dia valem muito mais que qualquer coisa que uma cidade grande possa me oferecer.

Pra mim é incabível uma pessoa perder 2h pra ir e 2h pra voltar diariamente, porque 4h do meu dia valem muito mais que qualquer coisa que uma cidade grande possa me oferecer. Cara, estamos falando de quase 1500 horas por ano. Eu jamais gastaria isso sentado em um carro.

E foi nesse dia – em meio a um dos maiores engarrafamentos que já vi – que percebi uma das coisas mais óbvias de todas. Hoje, mesmo em uma cidade do tamanho de São Paulo, jogar esse tempo fora é uma opção pessoal. Seja sua, seja do seu chefe. Alguém escolhe deliberadamente tentar reunir em um mesmo local, na mesma hora, diversas pessoas de regiões completamente diferentes.

Com os mais de 100 espaços de coworking na região da grande São Paulo, você certamente poderia estar trabalhando aí no seu bairro, indo a pé para seu trabalho. Na pior das hipóteses, com uns 15 min de pedalada. Mas a sua empresa ainda não entendeu quanto dinheiro ela coloca fora diariamente levando você para o mesmo endereço todos os dias.

Por que as cidades precisam ser tão centralizadas?

Ainda hoje, grande parte das metrópoles ao redor do mundo concentra as atividades econômicas em uma ou duas regiões da área urbana.

Esse movimento fazia sentido algumas décadas atrás. Quando você reunia os principais clientes, fornecedores e parceiros na mesma região, isso acabava fazendo você economizar tempo e dinheiro. Mas hoje o cenário é diferente.

Tentar deslocar milhares de pessoas diariamente para os mesmos pontos da cidade é simplesmente estúpido. Você sobrecarrega o sistema viário e dimensionar um sistema de transporte público eficiente tanto no rush quanto no horário normal vira tarefa impossível. Seus colaboradores gastam todo o tempo que poderia ser de lazer tentando chegar ao trabalho e, quando chegam, já estão tão cansados que começam a pensar em sair. Além, é claro, de que você coloca todos os ovos em uma única cesta. Se você tiver qualquer problema – leia-se: protesto na Paulista – sua cesta está f*****.

Uma alternativa mais moderna: distribua sua equipe

Imagine o cenário: sua empresa tem 50 colaboradores. Algumas pessoas moram perto, outras moram longe. Vamos pôr uma média de 1h de deslocamento. 2h/dia/pessoa. São 2000h por mês que sua empresa gasta sentada dentro de um carro, parada no trânsito.

Você até pode pensar: “Ah, mas essas não são horas de trabalho, eu não pago por elas”.

Errado amigo, você paga sim. E paga caro. Paga quando seu funcionário já chega cansado no trabalho. Paga novamente quando ele magicamente fica doente no dia de chuva. Paga quando ele se atrasa pra uma reunião importante. Paga mais ainda quando você perde talentos simplesmente porque eles não querem perder metade da vida no trânsito.

Agora imagine uma arquitetura diferente. Sua empresa dividida em 5 hubs espalhados por 5 regiões da cidade. Hubs menores, mais flexíveis, escaláveis e de fácil manutenção.

Cada membro do time pode ir para o endereço que faz mais sentido pra ele naquele momento. Se mudar de casa, tudo bem, muda de hub.

Imagine a flexibilidade de oferecer 5 endereços diferentes pra fazer reuniões com seu cliente? Tente calcular o valor de ter 4 endereços de backup caso aconteça um imprevisto com um de seus prédios. Tente imaginar a facilidade de encontrar um bom espaço, a preço justo, pra 10 pessoas em vez de 50. Parece bom, né?

E agora continue o raciocínio comigo: e se, além de tudo isso, você ainda não precisar se preocupar com nada relacionado a estrutura? Não se preocupar com a limpeza, com a internet, com o condomínio, com nada. Apenas desenvolver seu trabalho.

Pense em uma estrutura que permite a você escalar seu time de 50 pra 100 pessoas em 24h. Que permite pagar apenas pelos espaços que você de fato usa, sem manter cadeiras vazias ociosas.

Você já entendeu aonde eu quero chegar né?

Você já tem, hoje mesmo, a opção de distribuir sua equipe em espaços de coworking pela cidade. Existem dezenas de espaços, de todos os perfis possíveis e imagináveis. Com todo tipo de estrutura e preço. Você pode, a hora que quiser, testar essa estrutura descentralizada que estou falando.

Se você acha que estou maluco, saiba que recentemente a Microsoft moveu 30% do seu time para espaços de coworking em NY.

A fábula de manter o time junto

Deixa eu te contar. A menos que seu negócio seja industrial, que você demande de equipamentos específicos e linha de montagem definida, não existe motivo pra você não poder separar sua equipe.

Se você organizar os processos, confiar no talento dos seus colaboradores e entrar realmente de cabeça nessa ideia, em pouco tempo vai ver que seu time vai estar produzindo tanto ou mesmo mais do que antes. No início talvez você bata um pouco a cabeça, algumas informações se percam, alguns processos demorem mais que o planejado. Mas em poucas semanas, à medida que os processos se estabelecem, a produtividade extra que seu time ganha ao trabalhar perto de casa faz compensar qualquer problema de comunicação.

A chave está em você entender que times distribuídos têm demandas diferentes e adequar os processos. Plus: no momento que definir todo o workflow, você abre sua empresa pra todo um novo leque de talentos, os profissionais remotos. Imagine poder contar com os maiores talentos da área sem precisar pagar por um pacote de realocação?

A questão do custo

Dependendo da sua negociação no seu endereço atual, em um primeiro cálculo pode parecer que o custo de manter um time distribuído é maior que o custo de alugar apenas um conjunto comercial. Mas este cálculo não é tão simples quanto parece.

Você já pensou na depreciação dos móveis? Já analisou o custo de estacionamento? O gasto com limpeza, portaria, segurança? E a manutenção geral, quando algo estraga? Ou mesmo o custo de manter uma estrutura maior ou menor que a necessária quando a carga de trabalho varia?

Esses são apenas alguns custos diretos. Agora, o maior custo é na verdade indireto. Qual é o custo de oportunidade que a sua empresa perde anualmente por estar fechada em um casulo, onde todos pensam da mesma forma, com as mesmas referências?

Será que abrir um pouco seus horizontes, permitir que pessoas diferentes, com backgrounds e objetivos diferentes participem mais, mesmo que só na hora do cafezinho, não tem o potencial de fazer o seu negócio sair da caixa e encontrar respostas para perguntas que nem tinha imaginado ainda?

Eu sou suspeito pra responder, então deixo pra você pensar.

Me conta nos comentários o que você acha?

Grande abraço,
Fernando Aguirre