No final de julho, aconteceu a segunda edição do Encontro Coworking Brasil, no Rio de Janeiro. Foi um evento lindo, organizado inteiramente por entusiastas da cultura coworking, de todos os cantos do Brasil e de forma 100% colaborativa. Um time de pessoas incríveis que em pouco mais de 30 dias tiraram do papel uma ideia absolutamente fantástica.

O Encontro é um evento criado por founders, para founders. É uma oportunidade ótima para encontrar os amigos, trocar experiências, conhecer fornecedores e debater ideias. O principal objetivo é levar as pessoas a refletir sobre o mercado, sobre o dia a dia e sobre o futuro.

Quando você vende seu espaço, você diz que é o espaço mais barato ou aquele que tem a rede de pessoas mais fantásticas?

Esse não foi daquele tipo de evento onde você sai anotando mil ideias no caderninho pra aplicar no dia seguinte. Certamente não é um programa pra quem procura um passo a passo de como gerenciar seu espaço. E, apesar de às vezes eu sentir um pouco a falta desse tipo de conteúdo, principalmente em português, entendo que a proposta do encontro deve ser outra.

Quando você vai para um local com representantes do seu mercado dos quatro cantos do país, você não pode se focar no básico. É preciso aproveitar essa oportunidade para algo mais profundo. Entender o que está acontecendo em outras regiões e analisar como isso pode se comportar na sua. Escutar as histórias de empreendedores incríveis, com experiências fantásticas, que normalmente estão em um nível acima.

A discussão deixa de ser o hoje e passa a focar no amanhã. No que vem pela frente. Pra onde o mercado está indo? O que podemos fazer para expandir cada vez mais essa cultura?

Discussões que engajam

E como tivemos bons papos nesse evento. Debates interessantíssimos sobre qual a responsabilidade de um espaço de coworking em relação a sua comunidade. Deveriam os espaços se empenhar ao máximo em ajudar as empresas residentes a prosperar? Deveriam os fundadores assumir parte da responsabilidade de guiar jovens empreendedores por esse difícil caminho? Times de consultores? Parceiros estratégicos? O que mais podem os espaços fazer para evitar que as empresas de seus clientes morram?

Ou, por outro lado, é mais interessante distribuir essa responsabilidade entre todos os membros da rede, mantendo o founder livre para justamente trabalhar na criação de conexões  entre profissionais mais ricas. Diluir o custo de uma grande estrutura mantendo um valor de entrada mais acessível estaria fazendo um bem maior à comunidade do que oferecer um canivete suíço?

O que você vende?

Algum tempo atrás escrevi este artigo aqui no site, abordando um tema controverso. Afinal, qual é o produto de um espaço de coworking? O que você coloca na sua planilha de métricas mensal? É o total de cadeiras ocupadas × vazias? É o número de horas alugadas da sala de reuniões? Ou é o total de pessoas que passaram pelo seu espaço? Ou a quantidade de negócios diretos e indiretos que aconteceram?

Estariam os founders mensurando as métricas certas? E como quantificar e qualificar os ganhos indiretos de espaços de coworking? Quando você vende seu espaço, você diz que é o espaço mais barato da região ou aquele que tem a rede de pessoas mais fantásticas? Aquele onde os membros fecham contratos, apresentam pessoas, trocam experiências? Como podemos mensurar esse tipo de recurso indireto, porém absolutamente fundamental em qualquer espaço de colaboração?

O futuro está chegando

E, afinal, o que vem pela frente? Como o coworking se encaixa na nova sociedade, cada vez mais aberta, compartilhada e sustentável? Será que estamos sabendo expor para o público com eficiência do que estamos falando? Ou mantemos nosso papo restrito a um grupo seleto de pessoas interessadas em sharing economy?

Em uma rotina em que se perde 3h por dia no trânsito, será que termos 100 espaços de coworking dentro de São Paulo é o suficiente? Não deveriam ser 1.000? Como esses espaços podem ajudar cidades a descentralizar capital? Criar ambientes de convívio, trabalho e lazer em regiões que antes eram esquecidas seria uma solução?

Podemos nós, pioneiros de uma das revoluções corporativas mais bacanas entre as que surgiram na última década, ajudar o resto do país a se desenvolver com mais eficiência? De forma mais colaborativa, sustentável e inteligente?

O número de conexões é proporcional ao número de pessoas que está na sua rede.

Hoje o importante não é o que você tem, ou o que você sabe. É aqueles que você conhece e o que eles sabem.

A diversidade de pessoas que frequentam ambientes de coworking é o principal ativo desse negócio. Dia após dia, nós criamos uma rede de conhecimento inimaginável. Conectamos empresas, profissionais, amigos. No trabalho ou em casa, o coworking influencia a vida das pessoas em um nível tão profundo que pouquíssimas indústrias conseguem entender. Estamos aproveitando todo esse potencial?

Além disso, se diariamente trabalhamos para trazer o máximo de conexões para nossos coworkers, porque entre nós – gestores de espaços – parece que ainda está cada um em sua bolha? Estamos realmente aproveitando o máximo potencial daquilo que usamos como principal argumento de venda?

Eu lembro quando comecei, e eram pouco mais de dez espaços no país. Todos os founders se conheciam, e a gente aprendia uns com os outros. Quando foi que perdemos isso? Por mais que existam boas iniciativas de troca no mercado, como o grupo Coworking Founders do Facebook, o Slack Coworking Brasil, o Google Groups Coworking e tantas outras, muitas vezes sinto que esses espaços estão às moscas e só se movimentam quando alguém precisa de algo.

É então que eventos como o Encontro acontecem, e me mostram que temos, sim, um potencial absurdo em conjunto. Que um grupo de pessoas trabalhando pela na mesma iniciativa pode amplificar uma causa infinitamente.

No fim, é muito difícil resumir o que foi o Encontro 2016. Porque o que eu vi lá não foi meia dúzia de palestras; foi mais de 100 malucos conversando, trocando e criando.

Gente completamente pirada, que acredita que pode ganhar mais fazendo o próximo ganhar primeiro. Que vibra toda vez que vê um novo negócio fechado dentro da sua rede. Que diariamente está pensando se tudo está perfeito para pessoas que há poucas semanas nem se quer conhecia. E que, sem exceção, fica arrasada toda vez que algo dentro do seu espaço sai errado.

Então o que trago do Rio são duas perguntas: 1) quando vamos começar a ver os espaços ao redor do país trabalhando em conjunto mais de uma vez ao ano? 2) você estará junto com a gente em 2017?

Grande abraço,
Fernando Aguirre

PS: O Encontro Coworking Brasil 2016 foi um evento apoiado por nós, mas de organização independente e descentralizada. Que lindo, não?

PS2: Você esteve lá? Deixe nos comentários o que achou do evento. Vou adorar saber sua opinião. 😉

 

Ver todas as fotos