Todo mês eu recebo uma infinidade de dúvidas e questionamentos em relação a Coworking. É até previsível, afinal, estou envolvido com esse movimento já faz bastante tempo. Fundei meu espaço em 2011. O Coworking Brasil nasceu em 2012. E o Coworking Map em 2014. Ou seja, já deu pra aprender algumas coisas.

Uma das questões que mais recebo, e que me deixa mais feliz, é de pessoas, empresas e instituições querendo mais informações pra entrar nesse mercado — seja abrir seu espaço, seja investir no segmento de forma geral. Estou há tempos pra escrever um artigo com informações relacionadas a isso. Mas como é um assunto gigante, que varia muito de região pra região, fico empurrando pra mais tarde. E, na verdade, esse artigo é apenas uma introdução ao assunto. Com o tempo novos textos virão.

1º: Coworking = pessoas

Antes de você pensar em abrir um espaço de coworking é necessário entender o ponto mais importante: Coworking é sobre pessoas, não sobre cadeiras. Você não está alugando metro quadrado, mesas ou salas. Você está construindo uma comunidade de profissionais. A grande maioria dos espaços oferece serviços diversos, como espaço para eventos, salas privativas/compartilhadas e consultorias. Mas aqueles espaços que realmente prosperam e dão orgulho ao mercado são os que têm uma comunidade de pessoas incríveis ao redor. Esse sempre será seu principal argumento de venda.

2º: Não é uma atividade paralela

Conheço diversos espaços que nasceram como uma segunda atividade de seus fundadores. Tanto no Brasil como lá fora é muito comum que os founders partam de uma demanda pessoal e decidam construir um espaço.

O ato de compartilhar um escritório em si é ótimo. Agrega muito valor ao dia a dia das pessoas. Mas você se engana ao pensar que conseguirá administrar um espaço de coworking comercial junto com sua carreira ou atividade “principal”. Como eu disse, coworking trata de pessoas. E pessoas têm problemas. E problemas atrapalham o seu dia se você não souber administrar.

Uma decisão importante precisa ser tomada. Você irá criar um projeto ou uma empresa?

Mas, veja bem, não digo que você não possa iniciar pequeno, mantendo a segurança de uma fonte de renda principal. Durante todo o tempo que estive à frente do meu espaço esse era meu cenário. Mas uma decisão importante precisa ser tomada. Você irá criar um projeto ou uma empresa? Se você quer apenas reunir algumas pessoas interessantes, compartilhar os custos, trocar experiências, pense sobre criar um projeto sem fins lucrativos. As pessoas tendem a ser menos exigentes e mais colaborativas dessa forma.

Entretanto, se deseja criar uma empresa e viver dela, você precisa se dedicar fulltime a essa tarefa. E, na verdade, provavelmente você precisará de ajuda. Pense sobre ter um sócio ou contratar alguém para ajudar no operacional. Você terá muito mais tempo pra gerir o networking do seu espaço se não precisar se preocupar em comprar mais sabonete para o banheiro.

3º: Coworking ainda não é totalmente reconhecido

Não vou me estender muito aqui, porque o assunto é longo. Mas perceba que estamos falando de uma atividade bastante nova no país. As leis ainda não sabem lidar muito bem com ela. Então tenha em mente, por exemplo:

Entre outras diversas questões legais que você precisa conversar com seu advogado e contador pra resolver. Não é impossível, basta ver os mais de 800 espaços existentes no Brasil. Apenas não é assim tão fácil como parece.

4º: Coworking também é sobre ambiente

Eu conheço espaços que vão de 10 a 500 pessoas. Se você navegar um pouco pelo mundo através do Coworking Map irá perceber a diferença de estrutura. O que penso é o seguinte: você não precisa ter uma sala/casa de 500 m² pra ter um bom ambiente. Mas precisa ter em mente que bons espaços dedicam uma grande área para a convivência dos coworkers.

Conéctar Coworking, em Ribeirão Preto

Lembre-se, você vende histórias de vida. Ninguém irá trocar experiências se sentir que está atrapalhando o colega ao lado. Não existe uma regra, mas eu diria que, para um espaço pequeno, pelo menos 40% da área deve ser dedicada a ambientes de convivência. Se você tem mais de 200 m², talvez possa diminuir essa porcentagem.

5º: Ninguém sabe muito bem como esse jogo funciona

Converse com qualquer founder e você sempre ouvirá frases como “nós testamos isso” ou “descobrimos aquilo”. É um mercado com 13 anos de idade, em torno de 10 no Brasil. Todos estamos descobrindo juntos como jogar. Essa é a beleza do negócio. A comunidade de founders é muito ativa e colaborativa ao redor do mundo. Trocamos muitas experiências entre nós. Sempre que testamos algo novo na gestão de espaços, gostamos de contar para os colegas. Claro que em algumas regiões existe uma certa competição. Mas, em geral, o espírito colaborativo predomina.

Algumas coisas já são provadas que funcionam. Outras nem tanto. E ainda existe aquelas que funcionam na Europa, mas não aqui. Ou as que funcionam na capital, mas não no interior. Estamos todos aprendendo.

6º: É só o começo

Também não vou me estender muito nesse assunto. Mas, veja bem, estamos falando de um mercado que em 10 anos saiu de zero a mais de 6 mil empreendimentos. Que tem abrangência global. Que já criou suas primeiras grandes redes. Que já recebeu investimentos milionários. Que já provou funcionar em cidade grande e pequena, ao sul, norte, leste e oeste.

Global Coworking Map

É claro que nesse tempo alguns espaços fecharam. Como eu disse, pouca gente sabe realmente o que está fazendo. Mas o crescimento do mercado é exponencial. E, na minha visão, em um futuro próximo, coworking será como mercado ou farmácia. Você irá alugar um apartamento, olhar a vizinhança e pensar: “Ok, tem escola pro meu filho, mercado pras compras, praça para o lazer e Coworking para o trabalho. Parece uma boa região para se morar”. =)

 

Bom, esses são apenas alguns pontos iniciais pra levantar. Existe muito mais a se discutir. Mas, se você pretende começar a brincar, provavelmente precisa conhecer também:

E por último e mais importante: converse com outros founders. Visite espaços. Na sua região, no mundo. Não pense em investir nesse ramo sem conversar com a comunidade antes. Seja franco, diga que está pensando em abrir o seu próprio espaço de coworking e que gostaria de trocar uma ideia. Geralmente o pessoal é bem receptivo.

Boa sorte e seja bem-vindo ao clube! =)

Fernando Aguirre

 

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