Neste final de semana aconteceu em São Paulo, durante a virada empreendedora, o quinto encontro de fundadores de espaços de Coworking. Eu tive o privilégio de apresentar rapidamente o Coworking Brasil para a comunidade. Nós estamos crescendo e muita gente nova tem surgido.

Jamais pense que você só precisa administrar quantas cadeiras vazias e ocupadas você tem. Isso é exatamente a última coisa que você deveria estar fazendo.

Um dos pontos mais interessantes, e provavelmente polêmicos, que eu vi ser abordado foi a questão de salas compartilhadas x salas privativas. O Censo Coworking Brasil 2015 apontou que mais de 30% dos espaços brasileiros contam hoje com aluguel de salas privadas. Um espaço que você ou o seu time pode locar e ficar “sozinho”. Esse é um movimento interessante do mercado. Oferecer um serviço de transição entre um escritório próprio e o compartilhado.

No evento, diversos pontos foram levantados. Alguns a favor, outros contra. A verdade é que o mercado vem experimentando e aprendendo constantemente. Estamos testando diversas alternativas para capitalizar a empresa, principalmente nos meses iniciais. E salas próprias têm se mostrado uma boa alternativa, tanto para ajudar no fluxo de caixa, como para atrair os perfis mais conservadores.

Neste artigo, eu enfatizei que Coworking é sobre pessoas. Seu argumento de venda é sempre a troca de experiências entre os coworkers. Isso é fato e não pode ser diferente. No entanto, pessoas vêm de todos os backgrounds possíveis. Por isso o Coworking é tão fantástico. Você junta no mesmo espaço desde o recém-formado até o CEO de uma startup. Algumas pessoas viajaram o mundo, outras conhecem sua cidade como a palma da mão. Alguns são profissionais renomados, outros são completos anônimos. Uns estão atrás de conhecer pessoas, criar redes de contatos, já outros só buscam um lugar mais confortável que a Starbucks.

Durante os quatro anos que atuei como founder, bateu à minha porta todo tipo de pessoa. Normalmente nos primeiros dois minutos de conversa você já percebe o perfil do cliente e se ele vai se dar bem em um ambiente compartilhado. Perguntas como “mas ficam todos na mesma sala?” ou “eu posso trazer minha própria impressora?” geralmente denunciam os menos confortáveis com Open Space. E, confesso, o meu espaço convertia muito pouco deste perfil. A maioria esmagadora de coworkers que tivemos foi da indústria criativa e de tecnologia.

Designers, publicitários, jornalistas, programadores, produtores de conteúdo, arquitetos. Todas essas profissões são habituadas com grandes espaços de trabalho. Enquanto o setor todo de criação fica em um andar da agência, muitas vezes o contador fica em sua sala separado. Enquanto a redação completa do jornal se digladia para descobrir onde vai almoçar, o pessoal do jurídico está concentrado no seu canto.

Talvez eu esteja sendo muito generalista, mas vejo que alguns perfis realmente precisam do seu espaço. Seja por questões de privacidade ou mesmo por personalidade da pessoa. Então surge a dúvida: essa galera pode aproveitar os benefícios do coworking?

Salas privativas podem funcionar com coworking?

Claro que sim. Devem! Espaços de coworking são espaços de trabalho. A forma como você trabalha, em geral, não influencia tanto assim na comunidade. O importante é a forma como você se comporta quando não está trabalhando. Na hora do café, nos 15 min inicias ou finais da jornada. Durante o happy hour da galera. É ali que a mágica acontece. O resto do tempo, em geral, não difere muito do tradicional.

Mas o mágico nunca entra no palco sem preparar o truque atrás das cortinas. E essa é exatamente a sua responsabilidade como gestor de um espaço. Você deve, desde o primeiro rascunho, projetar o seu ambiente para que aconteçam interações entre as pessoas, não importa a forma como elas estejam trabalhando. O seu espaço físico deve ter ambientes de convívio. A sua decoração deve incentivar isso. Invista nos eventos sociais do espaço.

Se o pessoal não parece tão engajado a ponto de se encontrar fora do horário de trabalho, leve o happy hour até eles. Faça cafés da manhã, comemore aniversários, ofereça uma rodada free de cerveja para a turma na sexta. Encontre o único cara que não conversa com ninguém  e o coloque na beirada do precipício. Convide-o para falar de seu trabalho. Peça para os coworkers “da casa” puxarem assunto. Coloque esse cara tão perto da beirada a ponto de ele não resistir a cair. Talvez leve uma semana, talvez um mês. Mas, cedo ou tarde, ele vai estar acordando com um sorriso no rosto porque sabe que irá encontrar amigos no trabalho.

É incrível como as vezes os espaços deixam de aproveitar a sua melhor e mais “barata” ferramenta de marketing. Digamos que você gaste R$ 200,00 por mês oferecendo um café da manhã para seus coworkers. O pessoal vai twitar a respeito e postar as fotos no Instagram. Talvez criem hashtags sobre seu evento no Facebook. São depoimentos reais de clientes felizes sendo distribuídos para redes gigantescas de contatos. Me diga outra mídia que proporciona resultados assim com esse tipo de investimento. Não existe.

E, perceba, nada disso tem a ver com ele estar em uma mesa com mais cinco pessoas ou em uma sala particular. Tem a ver com o seu papel como founder. Talvez seu trabalho fosse mais fácil se todos estivessem “com a galera”, mas ninguém disse que seria fácil. Nunca, jamais, de forma alguma pense que é um trabalho fácil. Que só é preciso administrar quantas cadeiras vazias e ocupadas você tem. Isso é exatamente a última coisa que você deveria estar fazendo.

Contrate alguém para essa tarefa. Use um sistema de gestão automático. Eu não sei, essa parte não me interessa. O que eu quero é ver você levantando a bunda da cadeira e criando uma comunidade forte, diversificada e que te dê orgulho. Quando você perceber as coisas acontecendo, as amizades nascendo e os negócios internos sendo fechados, irá perceber que todo o esforço valeu a pena.

Collective, no Rio de Janeiro

 

Não se trata mais de meia dúzia de colegas desmotivados. São profissionais inquietos, interessantes e com uma vontade louca de compartilhar.

E, caso você seja um coworker, pense com carinho em participar dos espaços compartilhados. Converse com o founder e veja se é viável adaptar de alguma forma o espaço para comportar suas necessidades. Procure uma mesa de canto caso seja maníaco por post-it. Veja se o espaço disponibiliza armários (ou se você pode levar o seu) caso precise de acesso rápido aos seus documentos. Converse com os demais coworkers e tente juntar seu time todo na mesma mesa, caso a comunicação seja vital.

Não existe melhor forma de conhecer gente nova e criar laços de amizade que estando junto com a muvuca. Pode parecer um pouco intimidador no início, principalmente se você esteve a vida inteira isolado em sua baia/sala. Mas lembre-se, agora você faz parte de algo maior. Você está compartilhando espaço com dezenas de outras pessoas com a mesma vontade de crescer que você. Não se trata mais de meia dúzia de colegas desmotivados. São profissionais inquietos, interessantes e com uma vontade louca de compartilhar seu conhecimento. Não deixe a oportunidade passar =)

 

Boa sorte e vá construir amizades!
Fernando Aguirre

 

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