Sabe aquela hora em que você olha ao redor e não vê ninguém para contar a novidade que acabou de pintar em seu e-mail? A sala está cheia, até mesmo um ambiente compartilhado de trabalho, mas ninguém interage. Daí, bate aquela sensação de “cadê todo mundo?” Seja bem-vindo ao momento no qual o valor da amizade volta a fazer todo o sentido.

Mesmo que a gente já saiba que as plataformas online, ao possibilitar novos tipos de relação interpessoal mudaram o mundo, trocar ideia com alguém próximo e poder contar com uma ajuda profissional quando a gente mais precisa, faz toda a diferença.

Tempos líquidos, corações moles.

Só para buscar uma referência mais embasada, vamos lembrar que o filósofo polonês Zygmunt Bauman desenvolveu um trabalho monstruoso sobre sua teoria líquida, aplicando o conceito básico a diversos campos da vida. Seus argumentos se concentram no fato de que os tempos pós-modernos e, sobretudo, o mundo interconectado, promoveu uma demolição de todo tipo de instituição estabelecida. Pode incluir na lista o seu País, a sua família, a sua identidade de gênero e, claro, as instituições religiosas. Todas teriam caído por terra.  

Neste cenário, caberia ao ser humano, colher aqui e ali migalhas do que sobrou destas instituições e montar a sua própria. E usar e abusar da troca de modelos. Daí, o termo líquido. No lugar de alicerces firmes em relações sociais, seríamos fluídos, indefinidos, fugazes.

Bom, isso em tese. Porque quando a gente tenta ascender profissionalmente, um dos elementos mais importantes – muitas vezes mais importante do que sua competência – é saber criar e manter as suas amizades.

O poder do networking, cada vez mais forte

Então, se você “super-se-identificou” com a teoria do velhinho polonês, saiba que, lá no fundo, algumas coisas ainda estão com os dois pés firmes na terra, como o caso da necessidade de se estabelecer um bom networking profissional, ou, em português mais claro, ter amizades sólidas faz toda a diferença para o seu futuro. E para um presente mais tranquilo e harmonioso também.

Só para citar um exemplo básico: lembra da teoria (hoje estou cheio das teorias) dos “seis graus de separação”? Já foi até nome de série, claro que lembra. Mas, vamos lá: ela diz que qualquer ser humano no planeta terra está apenas seis conexões distante de qualquer outra pessoa.

Ela nasceu a partir da pesquisa do sociólogo americano Stanley Milgram, que tem uma cinebiografia bem interessante.  Em 1967 ele propôs a voluntários uma missão curiosa: fazer chegar uma carta a um destinatário específico, apenas passando a correspondência através de seus conhecidos. Daí, concluiu que a carta levava em média cinco pessoas até chegar ao alvo. A pesquisa foi desmentida e retestada tanto pela Microsoft quanto pelo Facebook, que alega ter baixado esta distância – agora de forma virtual -, para 3,5 graus. A polêmica completa você pode ler neste post recente do site Gizmodo

Para dar um exemplo mais palpável, deixa eu citar dois exemplos. Eu conheço um técnico do ministério de fazenda, que conhece seu chefe, que conhece o presidente do país, que conhece o Obama. Logo, estou a quatro pessoas do Obama, captou? Mais um exemplo: eu conheço pelo menos um cara do marketing do Facebook, que conhece o chefe dele, que conhece o Mark. Logo, estou mais perto de Zuckerberg do que Obama. Yay!

Então, compreenda: estamos cada vez mais próximos uns dos outros e, trabalhar estes graus de proximidade de forma positiva, pró-ativa e empática ajuda DEMAIS, sublinhe o demais, em sua vida nos escritórios deste mundão. Quer saber o porquê? Na verdade tem vários.

Amigos = time = cultura da empresa

O primeiro deles, pensando aqui como gestor de equipes, é que um time formado por amigos, produz mais rápido! Quando as pessoas estão alinhadas, têm intimidade e abertura para apontar erros e chances de melhorar, adivinhe? O time melhora! Não é magia, nem tecnologia, é empatia!

Com o tempo e desafios vencidos, outra coisa acontece em times que tenham laços de amizade: eles começam a dar forma a uma cultura interna. Sabe aquela “cultura da empresa” no desenvolvimento da qual muitas marcas investem orçamentos consideráveis? A amizade ajuda a construir bem mais rápido. É claro que não estou praticando a leviandade de dizer que ela será a única responsável, mas ajuda!

E, claro, mesmo nas tretas, a amizade circulante tem sua função. Amigos não são aqueles que concordam com tudo e, sim, estão dispostos a ouvir e respeitar a opinião alheia, lembra? Logo, mesmo quando ocorrer, os problemas tendem a ser resolvidos de forma mais amena.

Sabe um tipo de problema que vai diminuir bastante em ambientes saudáveis? A sua taxa de retenção de talentos pode aumentar! A turma hoje (Millenials e Geração Z) precisa ter PROPÓSITO para continuar trabalhando. Remuneração e status há muito deixaram de ser o objetivo, sabe? Logo, onde tem amigos, fica mais fácil encontrar o que se procura!

Bom, tudo muito bem, tudo muito certo. Mas, como focar em desenvolver essa tal “amizade verdaderia” nos ambientes de trabalho. Calma, estou aqui de amigão! Preparei algumas dicas para você!

Dicas para construir verdadeiros amigos no trabalho

Estar disponível é, sem dúvida, o primeiro grande passo para estabelecer amizades em seu ambiente de trabalho. Todos temos as nossas tarefas e prazos, mas, há quanto tempo você não vira para o lado se posiciona de forma inteira e presente para o outro? Não só fingir interesse, mas realmente estar ali de plena presença à disposição e com vontade de ajudar?

Saber ouvir é um ponto importante também. No início do ano fiz um workshop sobre storytelling (que, aliás, indico) no qual o professor dizia que a principal barreira para você se tornar um bom entrevistador é saber ouvir. Você sabe ouvir? Ficar quieto mesmo e absorver todas as dúvidas do outro, já tentou? Acredite, não cair na tentação de ter uma opinião sobre tudo é bem mais difícil do que parece! E é um passo importante para estabelecer uma amizade sólida.

Que tal procurar pontos em comum ao mesmo tempo em que valoriza as diferenças? Principalmente quando a gente é muito novo, tem a ilusão de que boas amizades só funcionarão dentro da mesma tribo, na qual todos pensam igual, se vestem igual, sentem e se apaixonam pelo mesmo tipo de pessoa e até gostam dos mesmo filmes. Mas, com o tempo, você percebe que manter amizades com grupos diferentes tem seu valor. Você aprende a ver a vida sob o olhar do outro, você soma experiências no lugar de repetir a mesma receita de bolo e, em resumo, ganha tempo aprendendo!

Respeite os limites se quiser ter os seus. Parece até “conselho de vó”, mas é por aí mesmo. A gente fala muito de politicamente correto, de limites, de “me respeite, rapá”. Mas, quantas vezes você parou para analisar os seus atos e comportamentos em relação à óptica do outro? Será que aquela piada que você contou não ultrapassou os limites que você mesmo não queria que fossem invadidos em sua vida?

E se você fica tenso na hora de fazer amigos no trabalho, não sabe se vai agradar ou não…relaxe. A gente é social mesmo. Digo o ser humano como um todo e o brasileiro em particular. Lembre-se que, salvo algumas exceções, a pessoa ao seu lado está muito provavelmente doida para te conhecer. Então, vá em frente!

Mauro Amaral é Head da contemconteudo.com e faz reuniões em locais públicos, desde que mantenha privado o pulo do gato. Se quiser conhecer sua metodologia para pesquisa, produção e disseminação de conteúdo para pequenas empresas e startups, visite o nosso site.