Até uns anos atrás, sempre que me perguntavam a minha profissão eu já disparava algo como “eu sou jornalista de formação, mas já faz alguns anos que trabalho com produção de conteúdo e Marketing Digital. Ah, mas não é isso que quero fazer pra sempre, viu. Não me vejo fazendo isso por muito tempo mais”.
Não sei bem se isso começou por um uma necessidade de me justificar ou se era apenas um efeito de eu estar infeliz com minha carreira. O fato é que, sempre que eu me via diante dessas situações, eu acabava por me sentir um pouco mal. A sensação era de que, uma vez que eu não estava exatamente onde eu sonhava estar, era impossível estar feliz.
Nem eu nem você somos os únicos a sentir essa pressão da sociedade. Parece que precisamos ter todos os nossos passos calculados, caso contrário a impressão que fica é de que perdemos o controle da nossa própria vida. E, em uma época que muito se fala em criar e empreender, pouco se fala que está tudo bem se você não tiver vontade de ter um negócio próprio. Pra mim, no fim do dia, o mais importante é você sentir que faz a diferença no que você produz.
Mas então, como eu passei a ser feliz no trabalho?
Um passo bem importante para a minha virada de carreira foi compreender qual era o meu perfil profissional. Hoje eu entendo que eu não preciso ser líder de uma equipe ou a criadora de um produto inovador. Percebo que eu sou melhor em executar tarefas e que sou muito mais útil como braço direito de alguém do que como líder.
Outra coisa essencial é saber que dificilmente vamos escolher uma área só para trabalharmos até o fim da nossa trajetória profissional. Primeiro porque isso seria uma chatice. Segundo porque o mercado muda o tempo todo, então temos que estar dispostos a nos transformarmos constantemente.
Conheço poucas pessoas que se veem fazendo exatamente a mesma coisa até o fim da vida. Por exemplo, um cirurgião plástico que é especialista em mudanças faciais. Ele pode até passar a carreira inteira fazendo esse tipo de procedimento, mas com certeza ele irá, de tempos em tempos, renovar suas técnicas e continuar estudando para se aprimorar.
Mas vamos então a algumas dicas práticas que me fizeram ser uma pessoa feliz todos os dias com meu trabalho, mesmo ele “não sendo o que eu quero fazer para o resto da vida”.
– Sentir que confiam no seu trabalho.
Você já ouviu falar na Síndrome do Impostor? Não sou profissional da psicologia e não sei bem quando esse conceito foi formulado, mas converso bastante sobre o assunto com alguns amigos que sofrem disso. Essa síndrome basicamente faz você se sentir uma fraude, derrubando sua autoestima principalmente quando o assunto é trabalho.
Para você sentir que confiam no seu trabalho, você precisa acreditar nele primeiro
É comum que quando nos sentimos impostores fiquemos inseguros e passemos a desconfiar da nossa própria capacidade. Já me senti assim muitas vezes e tem ocasiões que nem o fato de receber elogios recorrentes ajuda.
Além da insegurança, parte disso vem de uma confusão sobre a ideia de humildade. Há uma certa culpa por se sentir bom no que faz, já que precisamos ser humildes. Então, pouco a pouco vamos nos diminuindo e acreditando menos no nosso potencial.
O que descobri com o passar do tempo é que quando eu confio no meu trabalho, os outros tendem a confiar também. Agora, se eu demostrar que estou insegura com algum projeto, as outras partes envolvidas certamente sentirão o meu medo.
Portanto, para você sentir que confiam no seu trabalho, você precisa acreditar nele primeiro.
Já tive momentos de deslize em que me perdi na minha rotina e não entreguei o trabalho como deveria, e o impacto foi bem forte em mim. Eu percebi que naquele momento eu não era uma pessoa confiável e isso foi uma experiência muito negativa na minha autoestima — porém muito positiva para eu aprender que eu não consigo agir tranquilamente diante da minha própria irresponsabilidade.
– Estar sempre aprendendo algo novo.
Como já falamos, estagnar na carreira é altamente desestimulante. Não há problema em uma pessoa ser empregada da mesma empresa há 20 anos se ela ainda sente que está aprendendo. Porém, carro sem combustível não anda, simples assim.
Eu, por exemplo, sempre fui bastante medrosa para encarar novos desafios na minha carreira. Mas acho que sempre consegui tornar a insegurança de não saber exatamente onde estou pisando em algo positivo. Quando comecei a escrever aqui no Coworking Brasil eu já tinha experiência como escritora de conteúdo para internet, mas eu não entendia nada sobre coworking. Eu poderia ter fugido desse desafio, mas eu preferi encarar de frente e ver no que dava. O resultado é que hoje domino algo que há um ano eu não fazia ideia do que era, além de seguir aprendendo muito todos os dias.
Acho ótimo quando não sabemos onde estamos pisando. É muito provável que, no fim, isso vá significar que temos muito o que aprender.