Compartilhar conhecimento é uma das ideias-chave dos coworkings – afinal, o compartilhar não é apenas sobre o espaço físico, mas também sobre as vivências e a expertise dos coworkers.

Faz parte das atribuições do founder ou do Community manager fazer a ligação entre coworkers. Muitas vezes as relações fluem naturalmente, com o tempo, mas às vezes você tem um time de introvertidos de áreas totalmente diferentes e é preciso dar um empurrãozinho inicial. Sem contar que seu espaço tem uma rotatividade de pessoas, com gente nova embarcando todo mês, então esse movimento em busca de unidade precisa ser constante.

Procure compreender os indivíduos que participam da sua comunidade

Coworking é coletividade, mas é essencial lembrarmos que cada grupo é formado por indivíduos, com necessidades e valores particulares. Esse é o ponto inicial para a Alexandra Santos, do Juntus Coworking: “O primeiro passo é conhecer as pessoas, entender o que fazem, o porquê da escolha que vivem e reconhecer a importância de cada trabalho. Dedicar tempo e ouvir é fundamental neste momento”.

Conforme explica Marcus Nudelman Trugilho, do espaço Ponto de Contato, esse olhar atento ao indivíduo precisa aparecer no primeiro contato com o coworker. “Desde o momento em que apresentamos o espaço a um prospect, já procuramos conhecê-lo um pouco melhor e pensar em conexões possíveis ali mesmo, naquele momento. Depois, no acolhimento, já procuramos entender se ele quer conhecer outros coworkers e, em caso positivo, fazemos algumas apresentações. Se ele não quiser um contato inicial naquele momento, procuramos indicar algumas pessoas que circulam pelo mercado e indicar como possíveis bons contatos”, exemplifica.

Para Alexandra, não há como receitar fórmulas prontas, pois cada espaço precisa respeitar sua identidade e olhar com atenção para os membros da comunidade. “Insisto que o fundamental é o básico: ver, olhar, pensar, ouvir, entender (ou não), mas aceitar e acolher cada um, velar pelos valores, lutar por eles, não abrir mão da identidade que cada negócio precisa ter para existir de verdade, criar, agir, voltar atrás e reiniciar todos os dias”, afirma.

A importância da colaboração

Quem procura um espaço compartilhado nem sempre tem ideia de tudo o que vem no combo. Muitas vezes, em um primeiro contato, o cliente em potencial somente está buscando um escritório para reduzir custos. É papel do espaço fazer esse trabalho de educar e conscientizar, de forma sutil e acolhedora, o coworker. “Uma comunidade que se conhece e se ajuda é muito mais forte do que indivíduos sozinhos”, afirma Marcus.

Um ponto de partida pode ser a construção de comunidade, que não é apenas importante para que seu espaço seja especial e entregue algo único, mas também essencial para que os coworkers se sintam pertencentes a um grupo – e esse é um dos motivos que fará seus clientes voltarem e possivelmente trazerem novos coworkers.

A Alexandra explica que o time do Juntus vive em busca de uma visão educativa para a colaboração, sempre observando o momento que o espaço vive. “Gostamos de pensar que estamos nos formando em ser colaborativos e isso não vai acontecer só com livros, vídeos e cursos. Tem que ser praticado, testado e desenhado para cada realidade, cada momento.

Não consigo achar que a forma com que vamos oferecer colaboração hoje é a mesma de 10 anos atrás. Quando o Juntus nasceu, a conjuntura era de ebulição da criatividade, do empreendedorismo, do empoderamento feminino, numa sociedade otimista com o futuro.

“Velhos mapas não servem mais, mesmo que não pareçam tão velhos assim!” – diz Alexandra.

Hoje vivemos um tempo de pandemia, economia instável, emocionalmente e até profissionalmente caminhamos aos pedaços. Velhos mapas não servem mais (mesmo que não pareçam tão velhos assim!).”

Na opinião dela, o coworking tem todas as ferramentas para que as pessoas se engajem com a transformação social, e esse pode ser um bom caminho para o futuro.

Crie oportunidades

É ótimo quando um coworker aparece oferecendo uma palestra gratuita para realizar no coworking, mas nem sempre isso vai acontecer. É o seu espaço que deve abrir essas portas, criando oportunidades para que todos possam compartilhar.

Lá no Cardume Coworking, a busca pelas interações é diária. “Com rituais semanais e encontros que possibilitam e que fazem com que os Cardumers possam sair de suas salas e interagir e conhecer as outras pessoas do espaço. Temos o Minhas Experiências, onde convidamos sempre uma pessoa em início de carreira e outra com mais experiência no mercado para que juntos possam levar conhecimento, aprendizado e um olhar real à carreira”, conta Cynthia Soares, gestora comercial do espaço.

É preciso existir um movimento inicial, para que os coworkers vejam como essa troca é importante e como pode fluir naturalmente, sem que ninguém se sinta pressionado ou intimidado. O ideal é fazer encontros leves e informais, como uma roda de conversa.

“Frequentemente fazíamos happy hours para ter um momento de descontração entre os coworkers, para que possam conhecer as pessoas e não apenas os profissionais. Isso ajuda a criar vínculos mais duradouros. Coisas tão simples quanto convidar diferentes grupos para almoçar e até para comer um pastel na feira próxima, principalmente quando há estrangeiros, faz a diferença”, destaca Marcus.

De qualquer forma, Marcus lembra que é imprescindível respeitar o momento de cada membro: “é bom sempre ter em mente que a diversidade é muito importante para se buscar complementaridade e é sempre importante respeitar a privacidade e a vontade de abertura de cada membro. Se querem falar, terão um espaço. Se não quiserem, poderão consumir os conteúdos de outros”.

Busque uma conexão profunda

Quando as pessoas compartilham experiências e conhecimento, elas abrem portas para que os outros entrem em seu mundo.

Se não houver troca, seus coworkers passarão a vida toda trocando comprimentos diários como “bom dia” e nada mais. Eles precisam enxergar os outros como indivíduos que podem agregar valor e não apenas como alguém alugando a mesa vizinha. “Acredito que todas as ações do espaço devam buscar, de alguma forma, conectar a comunidade dentro e fora do espaço”, reforça Marcus.

Ele ainda acrescenta que no Ponto de Contato eles promoviam “eventos de pitching e apresentações relevantes no mercado, eventos de empresas que acabam envolvendo os coworkers e eventos temáticos, com foco em assuntos de interesse dos coworkers. Além de dividirem seu conhecimento, estão multiplicando sua visibilidade e isso pode gerar negócios efetivos, como vimos acontecer diversas vezes. E, por fim, há a comunidade nas redes sociais que buscamos incentivar os coworkers a postar conteúdos relevantes para todos”.

E olha que interessante, a Alexandra também destaca que até mesmo a organização dos ambientes do coworking influencia na hora de engajar a comunidade. “Desde áreas abertas, coletivas ou compartilhadas até a disposição dos móveis e escolha da decoração para que seja acolhedora, mas não personalizada demais, de forma a suprimir o que cada um é”, conta.

É importante que o espaço busque um ponto de convergência entre os coworkers, trazendo conteúdos atuais, com novas percepções e que sejam relevantes para o momento. E, conforme Alexandra complementa, para isso é essencial ter um time interno bem formado e que recebe o mesmo tratamento que irá oferecer aos coworkers: “é sempre bom lembrar que todos nós, juntos, somos a comunidade: founders, colaboradores, membros, visitantes, fãs… e todos precisam ser olhados e cuidados como são”.

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