Acompanhando de perto as “novas modalidades” de espaços compartilhados que surgem pelo Brasil, já faz alguns meses que notamos uma presença crescente de coworkings em universidades. Pra gente, essa novidade já era aguardada e nos alegra muito, principalmente porque acreditamos que o empreendedorismo só tem a ganhar quando está dentro de um ambiente tão enriquecedor como o acadêmico.

Para estudantes, ter um laboratório para colocar em prática seus projetos pode ser um ponto decisivo em suas carreiras. Para empreendedores que já estão no mercado, é sempre uma oportunidade incrível compartilhar experiências e também aprender com jovens cheios de energia e vontade de criar.

Quando começamos a observar o crescimento dessa tendência, percebemos diversos estilos de coworkings em universidades. Não há uma regra, um formato fechado. Outro ponto positivo é que os escritórios estão se espalhando por uma grande parte dos estados brasileiros. Ficamos bem contentes de perceber que não é só o eixo Rio-São Paulo que adotou essa trend. Encontramos coworkings universitários em lugares como Belém e Salvador, e mesmo em cidades menores como São Leopoldo (RS).

Na UFRJ, Parque Tecnológico mistura diferentes backgrounds

No Rio de Janeiro, mais especificamente na Universidade Federal do Estado, foi onde surgiu um dos primeiros coworkings em ambientes acadêmicos. Por lá, a inauguração do espaço foi em 2016 e hoje o projeto do Parque Tecnológico abriga 69 instituições.

Nesse espaço, a variedade de propostas é elemento básico. Tem de tudo: desde marcas incubadas até multinacionais. Hoje estão instalados centros de pesquisa de 16 empresas de grande porte (nacionais e multinacionais), 11 pequenas e médias empresas, além de 10 laboratórios da própria UFRJ e 32 startups.

A relação de troca com os estudantes da universidade é constante, e hoje o espaço também é utilizado pelo CrowdRio, programa de pré-aceleração do Parque Tecnológico em parceria com a Telefônica Open Future. O programa está na segunda edição e tem como objetivo incentivar jovens com vocação empreendedora a colocar em prática suas iniciativas, impulsionar o talento local fornecendo infraestrutura de espaço, suporte técnico e mentoria. Atualmente 8 startups de base tecnológica fazem parte do programa e ocupam o espaço.

No coworking, as empresas selecionadas podem utilizar o espaço durante um ano, prorrogável por mais um. Além da estrutura física, elas também têm capacitação e acompanhamento no desenvolvimento de seu negócio.

Por ser um projeto público, os editais vão se renovando, e quem tem interesse de saber como funciona deve ficar atento às novas chamadas que acontecem anualmente. O pré-requisito principal para entrar no time do Parque Tecnológico é que a marca tenha nos planos desenvolver projetos e parcerias com a UFRJ. Dá para acompanhar as novidades pelo site da instituição: http://www.parque.ufrj.br/

Norte e Nordeste também entram no radar

Atentas as novas tendências do mercado empreendedor, diversas cidades do Norte e Nordeste do país já contam com coworkings parceiros de universidades. Em Sergipe, 2018 foi o ano em que a Universidade inaugurou o Espaço Coworking das Empresas Juniores. O principal objetivo do espaço é ver os estudantes colocando em prática o que aprendem em sala de aula.

Na Bahia, o LabGroups é um espaço da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) sediado no Parque Tecnológico da Bahia e gerenciado pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Ensino de Pós-Graduação (PPG), através da Agência de Inovação e Gerência de Pesquisa. Nesse caso a principal ideia é reunir iniciativas e projetos de pesquisas da universidade num ambiente que permite o intercâmbio de práticas das atividades de alunos, professores e demais colaboradores. Este é um ótimo exemplo de que é possível incentivar a pesquisa acadêmica ao mesmo tempo em que se investe em tecnologias e desenvolvimento de projetos com potencial inovador.

Um formato que chamou atenção foi o escritório compartilhado da Universidade da Amazônia (Unama) em Belém. O Espaço Coworking Santander foi uma iniciativa do banco em parceria com a instituição, para que professores e alunos tivessem um espaço mais voltado para os novos negócios.

Este é o terceiro espaço aberto pelo Santander no Brasil. Os dois primeiros foram na cidade gaúcha de São Leopoldo, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), e o outro fica na Universidade de São Paulo (USP).

No Rio Grande do Sul, universidades privadas saíram na frente

Se nas instituições federais e estaduais a burocracia e constantes cortes de verbas podem comprometer novas iniciativas, as universidades privadas acabam abrindo vantagens no quesito inovação. No Rio Grande do Sul, ao menos duas entidades já possuem negócios promissores com bases colaborativas.

A H2h Hub Virtual possui uma parceria com a Unisinos, e uma de suas sedes, o Espaço de Educação Empreendedora e Coworking, fica dentro do Parque Tecnológico São Leopoldo (Tecnosinos), junto ao campus da instituição.

Ali o trabalho é como um “berçário” de ideias, como define o espaço. O Programa LAB Empreendedor é o projeto de fomento entre as duas marcas que beneficia os universitários. Através do programa os alunos podem tirar ideias do papel, através de mentorias personalizadas, sessões de coach, workshops e outros processos pensados de acordo com as propostas de negócio apresentadas.

Não muito longe dali, em Novo Hamburgo há o Techlab Coworking, uma iniciativa da Universidade Feevale. O espaço físico fica fora do campus da instituição, mas os projetos como palestras e workshops são sempre pensados no público universitário e empreendedor.

Como o coworking pode aproximar os estudantes da realidade do mercado?

Os dois campos atravessam momentos de transição, principalmente por conta do acesso à tecnologia e as mudanças constantes. Não é possível dar por certo muita coisa, mas talvez o futuro do trabalho possa ajudar a moldar o futuro do ensino, bem como o contrário pode acontecer também. O mercado precisa estar aberto a todas as possibilidades.

A cooperação entre universidades e espaços compartilhados acaba por ser algo fluido e natural, uma vez que ambas estão em busca dos mesmos objetivos: desenvolver projetos de impacto e sustentáveis.

Quando esses dois caminhos se cruzam, os resultados tendem a ser superpositivos para todos os envolvidos. As trocas proporcionadas nesses ambientes podem ser muito valiosas, uma vez que profissionais com mais tempo de mercado são capazes de ensinar aos jovens estudantes um pouco sobre a vida empreendedora. Em contrapartida, os universitários podem proporcionar novas formas de pensar e insights rejuvenescidos.

Outro ponto importante de se observar é que os jovens, cada vez mais inquietos e com informação vindo de todos os lados, querem saber como colocar na prática o que aprendem. E aí os coworkings também podem entrar para complementar, como uma espécie de segunda sala de aula ou mesmo um laboratório.

Como já dá para perceber algumas iniciativas se espalhando pelos coworkings do mundo, espaços começaram a produzir seus próprios cursos e rumam para a direção de se tornar escolas de empreendedorismo, business, tecnologia, entre outros tópicos. Ok, ok, isso é tema para um próximo artigo, mas vale, tanto para as instituições de ensino como para os escritórios compartilhados, pensarem em como explorar esse nicho.

Que tal aproximar o seu coworking dos universitários da região?

Bem sabemos que já rolaram muitos cases de sucesso que partiram de “um bando de acadêmicos nerds”. Se muitas startups e produtos inovadores surgem sem muito conhecimento prático, imagine se esses jovens tivessem uma base maior sobre temas como empreendedorismo, plano de negócio e assim por diante.

Tem um espaço de coworking e quer se aproximar mais da universidade da região? Que tal pensar em palestras, workshops e outros encontros que chamem a atenção dos universitários? É super possível trazer esse público para mais perto, uma vez que são pessoas sedentas por conhecimento e novas oportunidades.

Ah, principalmente se esses encontros forem sobre como começar a empreender. Em muitas universidades ainda faz falta abordar esse assunto. Porque, por mais que existam cursos sobre o tema, o tópico precisa ser levado para a vida dos mais variados profissionais. Porque empreender não é coisa apenas para administradores, mas também para veterinários, advogados e qualquer que seja a área!

E então, vamos pensar algo instigante para a sua comunidade?