Alguns dias atrás, lendo variados textos pela internet e relendo alguns outros aqui do site, comecei a pensar em algumas questões como carga horária e produtividade. Inclusive recomendo a leitura deste texto aqui escrito pelo Fernando, falando sobre o quanto uma empresa ainda perde por ano com o desgaste de seus colaboradores. Com essa reflexão comecei a pensar em como ainda é extremamente engessado o formato de trabalho da cultura das 8h às 18h e de como ela não acompanha as mudanças de cenário do mercado. A partir disso levantei alguns pontos que acho importante nunca esquecermos e mantermos o debate:

Quanto maior a carga horária, maior será a produtividade?

A resposta para essa pergunta, para mim, é bem clara: não. Absolutamente não. Creio que muitos dos que estão lendo esse texto devem concordar comigo e, além de essa ser a minha opinião pessoal, existem também alguns testes e pesquisas feitas em diversos nichos de trabalho que mostram que o sistema está longe de funcionar assim.

Aliás, desde a Primeira Guerra Mundial já sabe-se que aumentar as horas de trabalho semanais não quer dizer necessariamente que os resultados serão positivos. É extremamente ultrapassado pensar nas pessoas como máquinas, afinal, se funcionássemos assim a indústria não teria criado maquinários incríveis para fazer a economia crescer e ser mais eficiente.

Os computadores, por exemplo, foram desenvolvidos para facilitar a nossa vida, encurtar processos e fazer o trabalho do dia render mais. E como nós fizemos uso disso? Fazendo mais hora extra, levando mais trabalho para casa e até mesmo conferindo os e-mails durante o almoço em família no domingo.

O assunto jornada de trabalho é um debate constante no mundo todo. Enquanto países da Europa projetam redução, outros lugares menos desenvolvidos como a China beiram a escravidão, uma vez que, além da carga que ultrapassa as 8 horas diárias, também exigem uma produtividade sobre-humana.

Em recentes testes, a Suécia diminuiu a jornada de trabalho de 8 para 6 horas diárias e o resultado foi muito satisfatório. Além da maior produtividade, pode-se notar menos faltas por motivos de saúde e uma melhora intensa na disposição e ânimo dos funcionários.

Outra alternativa em teste por algumas empresas mais modernas é o formato de 4 dias de trabalho ao invés de 5. Ainda não existem resultados concretos sobre essa metodologia, que defende que, com mais tempo livre para seu lazer, os colaboradores trabalham mais animados e descansados. Parece fazer sentido, não?

Seguimos padrões, mas não somos máquinas

É fato que as pessoas, em geral, possuem um funcionamento parecido. Ou, no mínimo, um número pré-determinado de padrões e hábitos, criando alguns grupos diferentes. Porém, é importante lembrar que não somos máquinas – mais uma vez, as máquinas foram criadas pois os seres humanos não podiam exercer o mesmo papel, nem em quantidade de produção nem em poder de repetição.

Dessa forma, como podemos exigir que as pessoas tenham exatamente a mesma produtividade em um formato de trabalho pré-determinado? Converse com três amigos e pergunte em qual momento e sob quais circunstâncias cada um trabalha melhor. Algumas pessoas rendem mais à noite, outras pela manhã; algumas pessoas gostam mais de trabalhar em grupo para fazer brainstorm, outras preferem pensar sozinhas; algumas pessoas trabalham melhor sob pressão, outras gostam de deixar todo o serviço adiantado e organizado.

Percebe como, pensando rapidamente, já conseguimos citar variadas formas de “funcionamento” das pessoas? Portanto, se você tiver a sua própria empresa, ou mesmo for líder de um setor, que tal conversar com os colaboradores e tentar entender as particularidades de cada um? É óbvio que algumas regras precisam ser seguidas, mas começar a propor mais diálogos ao invés de imposições impensadas já vai melhorar e muito o relacionamento dentro da equipe.

O horário das 8h às 18h é só para seguir um padrão ou é extremamente necessário para a vitalidade da sua empresa? Você já pensou como impactaria se, uma vez por semana, seus colaboradores pudessem trabalhar de casa? Ou como seria se os profissionais fizessem o horário que sentem ser mais produtivos?

Quais são as consequências de um formato antigo em uma mentalidade nova?

Um último ponto bem importante de prestarmos atenção é que tudo, absolutamente tudo, está muito diferente de 20 anos atrás. Seguimos um modelo  instaurado pela indústria quando, na verdade, trabalhamos massivamente em frente a telas de computador. Com a evolução da tecnologia, hoje é menor a probabilidade de funcionários se machucarem fisicamente nos maquinários, mas, em compensação, os índices de doenças psicológicas só aumentam.

Não é à toa que muitas empresas já têm o dia em que se pode trabalhar tomando cerveja, ou o momento de yoga, de ginástica laboral e outras tantas atividades de lazer. Se ainda não dá para radicalizar e exterminar a obrigatoriedade de bater o cartão logo cedo e no fim da tarde, tudo bem. O que precisa mudar é a mentalidade, que deve se alinhar com a rapidez com que tudo flui hoje em dia.

Obviamente eu não tenho as respostas para a maioria dos questionamentos que lancei neste artigo, até porque, se eu tivesse, seria Ministra da Economia ou do Trabalho e não uma mera produtora de conteúdo para web. Então deixo as questões no ar, e se você quiser dar sua opinião sobre o assunto, fique super à vontade!