Por que você faz o que faz? De todos os negócios pelos quais você poderia optar, sério que você quer ter um coworking?

Founder de coworking passa o dia resolvendo problema. É o banheiro que entupiu, a portaria que está barrando o pessoal, o grupo de coworkers que ficam conversando muito alto (mas que no fim do mês são importantes pra fechar as contas), o cara do escritório virtual que sumiu, a sala de reunião que já tá 15 min atrasada. Enfim, o core de um espaço de coworking é basicamente pegar todos os problemas dos outros e assumir pra si.

É isso que você sonhou pra sua vida? Ou quando você pensou na ideia tinha outra proposta em mente?

Talvez você achasse que ter um coworking seria “divertido”. Talvez você pensasse que conheceria pessoas incríveis, faria amigos. Que veria negócios sendo construídos do zero. Sociedades começando. Casamentos e filhos nascendo. Que as pessoas veriam você como uma referência local, um hub de oportunidades que sabem que sempre podem contar.

De repente você iniciou nisso porque te contaram que era uma tendência, que “não tinha mais volta”. O mundo mudou, e é assim que vai ser o futuro.

Talvez isso tudo seja verdade. O bom e o ruim. Eu já ouvi dezenas de histórias, de motivações. Mas nunca me canso e sempre pergunto: por que coworking? De todas as áreas que você podia abrir um negócio, por que nessa?

Quem não sabia que era impossível e fez

A história clássica, super comum por volta de 2010, era assim:

“Eu precisava de um espaço de trabalho. Estava começando uma carreira autônoma, mas não queria ficar sozinho em casa.”

Nesse modelo, surgiram diversos espaços de trabalho colaborativos pelo mundo. Profissionais independentes, que tinham acabado de sair de um escritório tradicional para encarar uma vida de empreendedor. Mas que, de todas as mudanças da rotina que viveram, uma era insuportável: o fim da “hora do cafezinho”.

Um dia você está acostumado a encontrar dezenas de amigos diariamente; no outro, está sozinho de frente para a parede do seu home office. Algumas pesquisas no Google pra lá, outras pra cá, e logo descobre uma palavrinha mágica: “Coworking”.

Legal, eu quero! Onde é o mais próximo? Ops, não tem na minha cidade? Então vou fazer eu!

Foi assim que aconteceu comigo, foi assim com a maioria dos founders da primeira geração ao redor do mundo.

Quem busca propósito

Depois, já em um momento mais maduro de mercado, comecei a escutar uma história um pouco diferente:

“Ah, eu queria abrir um negócio, mas não uma empresa qualquer. Queria atuar em algo que tivesse significado, que construísse algo.”

Parabéns, você descobriu mais um grande motivo de pessoas empreenderem com coworking: todos os dias você ajuda alguém a construir algo. É fantástico. Às vezes é apenas o fato de apresentar uma pessoa pra outra. Mas, com o tempo, essas pessoas viram amigos, clientes, sócios.

Outras vezes, a coisa é mais profunda. Você vê um coworker que tem um negócio com um super potencial, mas que está patinando com bobagem. Essa pessoa começa a frequentar seu espaço, se organizar, ter uma rotina. Depois de um tempo já assiste aos eventos, troca ideia com os colegas e começa a se desenvolver. Quando você menos espera, ela já contratou 5 pessoas e começa a te pedir mais espaço. Genial, não?

Também tenho esbarrado com uma história um pouco diferente, mas que acaba misturando as duas anteriores: aqueles que empreendem com coworking porque a cidade precisa.

Funciona assim: a pessoa geralmente mora em uma região um pouco menor, mais afastada dos centros. Olha pra um lado, nada acontece. Olha pro outro, nem poeira cruza a rua. O sujeito está feliz ali, não quer mudar de cidade, mas, ao mesmo tempo, sente que, se nada acontecer, vai perder muitas oportunidades.

Um belo dia esse amigo decide que, se a cidade não faz nada por ele, ele vai fazer pela cidade. Então abre o primeiro coworking da região. Em pouco tempo esse espaço se torna ponto de encontro entre outros malucos que pensam como ele. As pessoas se conhecem lá, desenvolvem projetos juntas, criam outros negócios.

E o nosso amigo, finalmente, agora tem um local inspirador pra fomentar o empreendedorismo local. É o famoso ganha-ganha. Algumas vezes esses espaços recebem algum tipo de incentivo do poder municipal, outras, é tudo na raça mesmo.

Quem busca o futuro

Por fim, tem o cara que procura oportunidades. Ele olha os números, analisa o mercado, investiga o futuro. Esse é o perfil que está super empolgado no momento. Que sabe que a pandemia abalou o mercado, mas também acelerou um movimento inevitável de descentralização da força de trabalho.

Ele olha os números de crescimento do segmento pré-covid. Percebe que, apesar das limitações atuais, a demanda ainda existe. Está reprimida, tímida, voltando aos poucos. Esse é o perfil que vê além. Capaz de perceber a mudança de comportamento das pessoas, de ver os novos valores da sociedade, esse cara está realmente empolgado. Em algum momento, a conta vai fechar.

Lembre-se: nem tudo muda

Indiferentemente de qual seja a sua história, ou o motivo que te levou a empreender nessa área, lembre-se sempre de que esse porquê não mudou por causa da pandemia.

Pessoas continuam precisando interagir, se conectar, trocar. Isso é da natureza humana e não vai mudar. Empresas continuam precisando de parceiros, fornecedores, clientes. É do mercado e também não vai a lugar algum.

Talvez a gente ainda não esteja pronto para ter tudo “igual como era antes”. Mas uma hora vai estar. Até lá, nunca se esqueça dos motivos que te trouxeram pra essa jornada em primeiro lugar. Se eles continuam fazendo sentido pra você, 2021 será um grande ano.

Bem-vindos ao primeiro ano do novo mundo. Um mundo um pouco diferente, mas que ainda precisa muito de você.

Grande abraço,
Fernando Aguirre