Dia desses minha mãe perguntou o que o meu irmão queria da vida. Ele disse que queria ser feliz. Para ela, obviamente, essa resposta não era suficiente e sequer fazia sentido. Para mim, que tenho uma idade bem próxima do meu irmão, e vivencio situações semelhantes no dia a dia, a resposta dele era a mesma que a minha, caso a pergunta tivesse sido voltada para mim. Foi então que parei para pensar em como essa relação de ter x ser tem mudado e, acredito eu, evoluído com as novas gerações. 

Ainda que jovem, minha mãe pertence à chamada Geração X, enquanto eu e meu irmão nascemos no período da Geração Y. Apenas uma letra do alfabeto nos distancia, mas os planos de vida e conceitos de realização pessoal são completamente diferentes.

Ela vem de uma época em que um bom projeto de vida era passar em um concurso público, ter carro, casa e filhos antes dos 30 anos. Depois dessa idade, o plano era simplesmente ir levando as coisas até a aposentadoria, sem grandes ambições. 

Logo, ao olhar para os filhos quase balzaquianos que almejam “apenas” a felicidade, talvez bata um certo desespero nela. E, quanto mais ela se preocupa com o nosso futuro, mais nós ansiamos por fugir dos estilos antigos de vida que não mais nos parecem suficientes. 

Ter x ser: de que lado você está?

Certamente minha mãe não vai concordar com isso mas, eu diria que, mesmo fazendo diversos testes e demorando para entender o nosso propósito de vida ou a carreira que queremos seguir para sempre – até a próxima inquietude, claro – nós somos muito mais ambiciosos que nossos pais. 

Mesmo em tempos de uma crise econômica internacional que não parece mostrar muitos sintomas de melhora, eu vejo que a Geração Y segue arriscando e tentando empreender em negócios que realmente acredite e que façam sentido. Em meio a tantas incertezas, não param de surgir novas startups e empresas que trazem uma ideia que vá muito além de apenas lucrar. 

Isso porque nós ultrapassamos o desejo de ter sucesso e bens materiais. É claro que almejamos uma vida bacana e bem resolvida, mas não faremos as coisas de qualquer jeito para que isso aconteça. Eu acredito que transcendemos os limites do ter e demos um passo além: precisamos ser algo que iremos nos orgulhar no futuro, fazer parte de um projeto que deixe algum tipo de legado para o mundo. 

Outro ponto importante é que estamos começando a perceber que de nada adianta ter muito dinheiro ou prestígio se não conseguimos aproveitar a vida de uma forma mais leve. Assim começam a surgir expressões como os Nômades Digitais, por exemplo, que acreditam que dá para viver muitas experiências incríveis todos os dias, não apenas quando chega o final de semana. 

Arriscar é com a gente mesmo

Lá no fundo, por muitas vezes, somos pura incerteza. Todos os dias nos questionamos se estamos pegando o caminho mais apropriado, se vai dar certo e se vale o risco. As respostas muitas vezes não aparecem e a gente se atira mesmo – claro, sempre com um pouco de planejamento, pois esse também é um ponto positivo dos empreendedores da geração atual.

Note que é algo muito natural que, quanto mais possibilidades, maior a indecisão. Hoje já há também um entendimento de que está tudo bem se decidirmos não seguir a profissão que colamos grau na faculdade. Também está tudo bem mudarmos de dentistas para astrólogos se isso for nos fazer plenamente felizes. Sim, está tudo bem recomeçar quantas vezes você sentir que é necessário, ok? 

Pense aqui comigo: lá no fim da vida, quais são as lembranças que você imagina ter? A vida é todos os dias, não somente durante a incrível viagem de férias para uma ilha da América Central. Independentemente da trajetória que você escolher trilhar, que tal colocar como principal foco a felicidade?