Se existe algo que acompanha a trajetória do mercado de coworking desde seu início é a necessidade de diversidade e flexibilidade. As tendências se renovam constantemente, o que é natural para um mercado que tem como premissa a mudança dos antigos formatos de trabalho. Se desejamos um lifestyle mais versátil e personalizado, não podemos criar formatos quadrados e imutáveis.

E, por ser um mercado tão mente aberta, ainda persistem debates sem respostas definitivas. Eu aposto que você já se questionou se o Starbucks próximo do seu escritório poderia estar roubando seus clientes, ou que pelo menos já se fez a fatídica pergunta: “será que café é coworking?”.

Mesmo depois de uma década de crescimento e consolidação dos espaços compartilhados no Brasil, é natural que ainda existam algumas dúvidas como essa. Ainda mais agora com novos formatos de espaços surgindo, novas propostas que misturam coworking com café, restaurante e uma série de outras ideias.

Então, como podemos enxergar os cafés diante dos coworkings? Eles também são espaços compartilhados? Será que o seu negócio pode ficar ameaçado por um café que oferece wi-fi?

Alguém pediu um café?

É bem provável que você já deva ter usado a mesa de um café para responder alguns e-mails ou mesmo para uma reunião pequena de trabalho. Mas você se imagina trabalhando lá todos os dias, de segunda a sexta-feira, da manhã até a noite? Com todo aquele vai e vem de pessoas e sem poder ir ao banheiro com medo de deixar o seu notebook na mesa?

A primeira grande questão que se coloca aqui é que não é porque um local possui mesas, cadeiras e internet disponível que ele se torna um local voltado ao trabalho. Você consideraria a praça de alimentação de um shopping uma área ideal para trabalho porque oferece conexão? E uma praça pública com wi-fi disponível?

Os cafés, mesmo os que têm uma estrutura bacana para passar uma tarde trabalhando, seguem atuando no segmento de comidas e bebidas. É possível que alguns deles usem o wi-fi grátis para atrair mais clientes, ou que ofereçam programas de fidelidade para que você retorne ao estabelecimento com frequência. Mas, no fim do dia, o que eles vendem (ainda) é café.

É bacana tentar olhar para esses negócios como aliados dos coworkings, pois um não exclui o outro. Não há concorrência, uma vez que os serviços oferecidos são diferentes.

E também podemos ficar ligados à tendência de aliar a paixão do café com a cultura coworking. A cafeteria do bairro pode não ser um coworking, mas cada vez mais surgem espaços compartilhados que apostam na união com cafés e restaurantes. E, com a estratégia e o planejamento certos, essa ideia pode dar super certo!

Os cafés como oportunidade no novo cenário

Em um cenário pós-Covid, onde muitas pessoas tiveram que readaptar sua forma de trabalhar, os cafés são um extra para oferecer expansão na mentalidade dos novos profissionais remotos.

Quando todo mundo se viu forçado a ir para o home office, muitos se depararam com um contexto totalmente novo. Ficar o dia inteiro trancado em casa foi um desafio para muita gente, seja porque passavam muito tempo sozinhos ou muito tempo com a família. Sair uma vez por semana para trabalhar na padaria do bairro foi um grande alívio na rotina de muita gente.

Muitas empresas seguem em home office e outras começam a aplicar modelos híbridos, dando mais liberdade para seus colaboradores. E essa ida semanal para um café acaba expandindo os horizontes de quem nunca havia pensado na possibilidade de não ir para o escritório, mas se viu forçado ao home office.

Você já pensou que os cafés podem ser a ponte que o seu futuro coworker precisa atravessar para chegar ao seu espaço?

A essa altura da pandemia, os profissionais que se viram limitados ao home office já estão cansados de trabalhar em casa e começam a buscar novas alternativas.

Nas cidades grandes a Starbucks pode ser essa alternativa, afinal, por anos se pôde observar por lá pessoas com seus laptops e headphones trabalhando. Nas cidades menores, a padaria do bairro passa a ser uma opção quando as pessoas reparam mesas livres com uma plaquinha de “wi-fi disponivel”.

Só que as cafeterias não são espaços pensados para o trabalho e, embora a gente aqui já saiba disso, os novatos do estilo remoto ainda estão aprendendo. É uma questão de tempo até eles perceberem que não podem levar esse lifestyle por uma duração muito longa, seja porque a internet nem sempre é estável ou porque sentem que precisam de uma mesa própria e um lugar menos barulhento para falar ao telefone.

E uma vez que eles entendem que precisam de um lugar mais estável e com mais benefícios para trabalhar, eles podem chegar ao seu espaço. Inclusive falamos sobre como conquistar os profissionais de home office neste post aqui, dê uma olhada.

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O que podemos aprender com a Starbucks?

A rede Starbucks sempre foi moderna, precursora e atenta às mudanças e tendências de consumo. Eles oferecem wi-fi para os clientes desde 2002, quando a maioria dos espaços de coworking do país nem pensava em existir.

Em 2010, lá no início da onda dos check-ins em redes sociais, a Starbucks garantiu sua presença oficial no aplicativo Foursquare. Onde clientes que fizessem check-in em 5 lojas diferentes da marca ganhavam um badge de “Barista”, um selo especial no app. Depois disso criaram várias formas de recompensar seus frequentadores assíduos, construindo uma presença digital forte logo no início da década passada.

E o por que eu estou citando esses fatos? Porque não podemos negar como a Starburcks é uma marca atenta ao seu público. Eles começaram sua trajetória para servir café, porém sempre entenderam que precisavam entregar exatamente o que seu público precisava no momento – mesmo que isso mudasse a cada ano.

É uma marca que sempre acompanhou os amantes da tecnologia e criatividade, então, ao invés de olharmos para a rede como uma concorrência ou então como algo que não chega aos pés de um coworking, é interessante observar o que podemos aprender com eles.

A empresa esteve presente durante toda a revolução do trabalho nos últimos 15 anos, e é inegável que eles estão conectados com o público ou potencial público do seu coworking.

Recentemente a marca inaugurou um espaço de coworking no Japão, com cabines voltadas para quem precisa fazer chamadas de vídeo e até espaços maiores para reunião. Aqui sim o cliente paga para utilizar o espaço de trabalho, e pode fazer as reservas por aplicativo.

O que você oferece para ser mais atrativo que a Starbucks do bairro?

Uma vez que entendemos que um café não é um coworking, vale voltar os seus olhos novamente ao seu espaço.

Se você não quer ser comparado com uma cafeteria, o que você oferece a mais que uma Starbucks para que o coworker pague uma mensalidade?

E aqui não estamos falando do café ou de um croissant para acompanhar com o café, mas sim de todo o resto, que é o que faz um coworking ser um coworking.

Ao optar pelo escritório compartilhado, o profissional remoto busca uma série de coisas que vão muito além do kit mesa e internet, porque isso a Starbucks também pode oferecer – e ainda com uma grande variedade de cafés e outras guloseimas.

Os coworkers certos encontrarão o seu espaço quando você se preocupar em oferecer uma experiência única como espaço de trabalho – que até pode incluir uma pequena cafeteria, por que não? Acredite, uma Starbucks ou qualquer outra rede do tipo não serão concorrentes quando você oferece monta e oferece um produto que atende as necessidades verdadeiras de clientes específicos.

Será que qualquer espaço pode ser coworking?

Aqui no Coworking Brasil nós acompanhamos todos os tipos de tendências e novas inclinações que o mercado pode sugerir, pois temos que ficar de olhos abertos para tudo que está rolando.

Mas existem alguns critérios básicos que gostamos de considerar e tem um texto bem bacana do Fernando Aguirre em que ele explica um pouco do que nós entendemos como um espaço de coworking e também o que compreendemos ser um bom espaço de coworking – acredite, há um abismo entre um e outro. Dá uma espiada no artigo aqui, ele vai te proporcionar vários insights para a gestão do seu espaço.

Existem milhares de possibilidades de negócios e não podemos definir o que está por vir. Será que a Starbucks abrirá outros espaços de coworking? Será que esse formato vai funcionar? Ainda não sabemos, mas ficaremos atentos a todas essas tendências. Por hora, o que percebemos é que tudo isso pode coexistir para criar um mercado cada vez mais rico e abrangente.

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