Por ser um mercado e, consequentemente, um conceito relativamente novo, como escrever coworking pode ser algo ainda meio confuso. Convenhamos que ser uma palavra do inglês também não nos ajuda muito.
Certo é que não existe um aportuguesamento oficial para a palavra.
“Aportuguesamento” é quando a gente mantém a palavra com o som e o significado que ela tem na língua estrangeira, mas acomoda a grafia dela para que fique de acordo com as regras ortográficas do português. Exemplos de aportuguesamento podem ir dos estranhos “leiaute” (layout) ou “escâner” (scanner) até os comuníssimos “filé” (filet)– que em Portugal pode ser “filete” – ou “estresse” (stress).
Enfim, um aportuguesamento para coworking seria algo como “couorquim” ou “couorquingue” (?). Estranho, né?
“Escritório compartilhado” serve?
Outra opção que temos para esses termos novos, quando começam a ser usados por causa de uma nova tecnologia, conceito, comportamento, é encontrar correspondentes na nossa língua que tenham significado bem próximo do que o estrangeiro expressa. Por isso, muitas vezes vemos como sinônimos para coworking expressões como “escritório compartilhado”, entretanto esse é um termo que não define totalmente o ideal do movimento, como o Fernando me explicou e aqui transcrevo:
Em 2011, quando o grupo de fundadores de coworking era bem pequeno (coisa de 30, 40 pessoas), costumávamos nos reunir em conversas pelo Skype. Num desses papos, surgiu a ideia de traduzir o termo, passando a comunidade a chamar o novo movimento de “escritório compartilhado”. O problema era que, justamente, esta expressão não passa a ideia de movimento, conceito, porque está muito ligada ao sentido de espaço físico. Por isso, os gestores da época optaram por manter “coworking”, por entenderem que é um termo com mais impacto comercial, passando melhor a ideia de o que o movimento realmente é. — Fernando Aguirre, fundador do Coworking Brasil
Mas e a treta do hífen? Como escrever coworking?
Bom, já entendemos que nem sempre “espaço compartilhado” dá conta do recado semântico que precisa ser passado pelo conceito de coworking. Então talvez o melhor seja manter mesmo o inglês e usar a expressão em português para dar uma ajudinha na compreensão quando for preciso.
Depois, precisamos entender algumas tretas do inglês para ver de onde vem a polêmica do hífen em coworking.
A verdade é que o inglês não tem regras tão fixas para hifenização quanto o português, por exemplo. (Sim, existe regra do hífen no português!) Então, como na nossa língua materna, tudo que não é registrado em dicionários ou gramáticas pode ser considerado correto, ou opcional, como você já deve ter visto em lições gramaticais.
Quando existem esses casos opcionais, geralmente editoras que publicam muitos materiais escritos adotam o que chamamos de livro de estilo, ou manual de redação. Esses compêndios servem para uniformizar a escrita de todo mundo que trabalha para a empresa, para que tudo demonstre ser feito por essa mesma empresa. E em países de língua inglesa alguns desses manuais de redação são muito respeitados. Exemplos disso são o CMOS (Chicago Manual of Style, da Universidade de Chicago) e o AP Style (conjunto de padrões adotado pela tradicional agência de notícias norte-americana Associated Press).
Dito isso, no mundo anglófono a forma como escrever “coworking” ainda não está registrada em dicionários. Se você for ao Dicionário Oxford ou ao Merriam-Webster, no máximo encontrará “coworker” (mostrando como variante a forma hifenizada – “co-worker”).
Então, podemos resumir assim:
- falta de regras claras para hifenização +
- falta de registro em dicionários +
- muito respeito pelos manuais de redação, principalmente da imprensa que difunde novas ideias =
- redatores que tendem a seguir o manual como última instância de “regra”
“Co-working” vem do AP Style
Em geral, o AP Style recomenda e prefere que sejam hifenizados todos os prefixos. Em termos de comparação, em português nós hifenizamos alguns prefixos sob algumas circunstâncias, e outros nunca são hifenizados; por exemplo, o prefixo “re”, de “reeducar” (educar de novo), nunca levará hífen; por sua vez, “anti” pode levar ou não hífen: anti-inflamatório ou antibomba.