Como o mercado de coworking superou 2020
Este é um artigo de introdução aos resultados do Censo Coworking Brasil 2020 – a 5ª edição do estudo anual.
Este artigo foi escrito por
Fernando Aguirre.
Já discutimos bastante sobre como o último ano foi difícil pro nosso mercado. Na verdade, foi difícil para todos, né? Não teve indústria que não foi afetada pela pandemia. Algumas mais, outras menos. Teve até aquelas que se beneficiaram, como os mercados de e-commerce e educação online.
Mas hoje vamos além, vamos começar uma análise sobre como efetivamente o mercado de coworking brasileiro foi impactado. Este é um artigo de introdução aos resultados do Censo Coworking Brasil 2020 – a 5ª edição do estudo anual.
Primeiro, vamos aos números do efeito pandemia
Existem várias formas de analisar esse impacto: seja do ponto de vista de faturamento, redução ou crescimento no total de coworkers, despesas, capital e etc. Neste artigo, resolvemos apurar alguns números do Censo 2020, para apresentar os reflexos que a pandemia teve no segmento. Lembre-se: esses dados são uma média nacional, que engloba o perfil de espaços pequenos, grandes, do Sul ao Norte.
Em média, o mercado perdeu 53% do faturamento durante o auge da quarentena. Esse percentual mostra uma recuperação gradativa nos últimos meses, mas é sabido que ainda não retomou seu curso normal.
Apesar da receita ter caído pela metade, em termos de número de coworkers, tivemos uma redução média de 38% no total de contratos (cancelamentos). Segundo o estudo, 9 escritórios de coworking no país declararam ter perdido 100% dos seus membros – uma informação que sabemos alarmar o estado crítico de alguns espaços.
Vale ressaltar que os founders que mantiveram seus coworkers ativos tiveram que rebolar para manter seus contratos ativos. Pois, mesmo que um membro que não tenha cancelado seu vínculo, provavelmente não continuou pagando exatamente a mesma coisa. A redução nos pacotes de horas foi identificado como um dos principais motivos para a queda nos ganhos.
Em grande parte dos casos, nenhuma das partes envolvida queria cancelar o contrato, mas com os 53 dias de fechamento obrigatório dos espaços, por contas dos decretos da Covid-19, as flexibilizações foram necessárias.
As estratégias para sobreviver
De descontos para manter os membros antigos até vouchers promocionais para captar o público do home-office, foram algumas das estratégias que os gestores utilizam para manter as contas girando.
Veja mais detalhes das práticas de marketing empregadas pelos founders durante a pandemia.
- 65% declarou ter utilizado descontos na hora de convencer os coworkers permanecer;
- 35% ofereceu um período de carência para o pagamento das mensalidades;
- 27% parcelou os valores abertos e diluiu nos próximos meses;
- 14% ofereceu cupons referentes ao valor já pago que poderiam ser utilizados no futuro.
Um dado relevante foi encontrado, quando comparada a média de dias fechados com número de contratos cancelados. O resultado: os espaços que ficaram mais de 77 dias fechados, perderam mais de 70%, enquanto os que pararam apenas por 47 dias tiveram uma redução com menos de 30%.
Ainda que não se trate apenas de estatísticas frias, se considerarmos que determinadas regiões têm sofrido picos de contaminação e requerem maior cuidado para garantir a segurança de seus coworkers. Parece claro que, os coworkings que conseguiram manter as portas abertas tiveram maior faturamento e diminuição do percentual de cancelamento.
A importância do planejamento de crises
Poucos empreendedores criam negócios pensando: “e se eu um dia precisar ficar 90 dias fechado, o que vou fazer?”. Mas na prática, foi isso que aconteceu com grande parto dos espaços em 2020. Com uma queda tão grande no faturamento do mercado, a gente se pergunta: de onde vem o capital para manter o negócio aberto e gerando receita?
A resposta para a grande maioria foi utilizar o caixa da empresa. Cerca de 40% do capital em todo o país parece ter vindo das próprias reservas da empresa. É, o Brasil não é mesmo para principiantes, então outros 27% empresários correram atrás de investidores e conseguiram novos aportes de sócios do negócio. Apenas 11% vieram de empréstimos bancários e 5% de aporte de investidores terceiros.
Por falar em incentivo, 53% dos espaços disseram precisar de algum tipo de linha de crédito bancário. Desses, 47% tentaram, mas não conseguiram nenhum tipo de crédito. Ainda nesse grupo de espaços que precisam de crédito, apenas 25% obteve um valor suficiente para o tamanho do desafio enfrentado.
Isso mostra que, realmente, menos da metade dos empreendedores estavam preparados para gerenciar crises em seus coworkings. A grande maioria atua a “toque de caixa“, apenas girando com ganhos mensais, sem capital de giro, reserva ou investimentos terceiros. As boas práticas do mercado financeiro, sugerem que qualquer empresa precisa ser capaz de suportar a operação sem dividendos de 3 à 6 meses sem ganhos e lucros, no mínimo.
O cinto apertou
Como vimos anteriormente, sem muitas opções de crédito, uma alternativa para o mercado se manter foi enxugar os custos como dava. Em média, os espaços conseguiram reduzir o custo operacional em 34%, durante os piores meses de quarentena. Renegociando contratos com imobiliária, diminuindo pontos de internet e negociando com fornecedores.
Descobrimos também que buscar ajuda externa, teve um número 3x maior quando os espaços alugavam seus imóveis de terceiros, enquanto apenas 5% dos coworkings em imóvel próprio recorreram aos bancos. É, parece que o cinto apertou de todos os lados, mas que o arrendamento pesou na planilha de orçamento mensal, isso não pode ser negado.
Mais de 1/3 dos espaços precisaram reduzir investimentos em equipe. Desses, praticamente metade demitiram funcionários registrados e a outra metade teve que dispensar profissionais terceirizados.
A boa notícia é que mesmo em meio a quarentena, 4% dos espaços conseguiram aumentar o seu time e se preparar melhor para 2021. Parabéns, se você foi um deles 🙂
As consequências
Sem dúvidas está muito cedo para analisar todas as consequências de um ano difícil como o que acabou de virar, mas esperamos que essas informações apuradas já ajudem a clarear o terreno em que muitos de nós pisamos.
Essa é apenas uma degustação e uma pontinha bem pequena do iceberg dessa pesquisa de mercado que elaboramos todos os anos em colaboração com fundadores de espaços de coworking de todo o país.
Este artigo é o primeiro de uma série que irá analisar os resultados do Censo Coworking Brasil 2020. O estudo está em fase final de desenvolvimento e será divulgado de forma completa em breve. Se você deseja ser avisado quando o estudo completo estiver disponível para download gratuitamente, cadastre seu e-mail abaixo.