Se engana quem pensa que espaços de coworking precisam ter sempre o mesmo perfil generalista. Nem sempre o que importa é uma mesa e cadeiras para trabalhar em espaços descolados. Às vezes, o diferencial é como você ouve a comunidade e supre as necessidades dela.

Conheça dois coworkings que focaram em públicos diferentes e conseguiram aquilo que é o mais procurado por qualquer empreendedor: um negócio único.

Para quem não quer ficar longe dos filhos

Em São Paulo, o coworking Casa de Viver é focado em receber pessoas que gostariam de trabalhar mais próximo dos filhos. A idealizadora e sócia do empreendimento, Carina Lucindo Borrego, tem duas filhas. Ela trabalhava como tradutora em um escritório de advogados e deixava a filha mais velha em uma escola de tempo integral. Quando chegava em casa, tinha tempo apenas para colocá-la na cama e acordá-la no dia seguinte. A rotina fazia com que uma das coisas que talvez seja a maior satisfação dos pais, ver seu filho crescer e se desenvolver, acabasse ficando em segundo plano. “Chegou um momento em que eu não gostava mais dessa situação e comecei a procurar outras formas de me organizar. Foi quando eu tive a ideia de criar este lugar que aceite bem as crianças”, conta.

No Casa de Viver existe um espaço exclusivo para os filhos dos coworkers. O imóvel que serve de sede para o empreendimento é um sobrado. No primeiro andar fica o escritório coletivo e os espaços de atendimento. Já no segundo piso, duas profissionais com experiência no cuidado com crianças e educação recebem os pequenos e os cuidam durante o turno de trabalho. Além disso, há espaço para realizar atividades que muitas vezes pessoas que possuem filhos não conseguem encontrar, como exercícios físicos.

“Estamos bastante felizes com o resultado. Você pode compartilhar experiências sobre a maternidade, além do tradicional networking que o escritório compartilhado possibilita”, diz.

Carina explica também que as sócias da Casa de Viver procuram manter um preço que se aproxime do que alguém gastaria normalmente com escritório e creche para os filhos, fazendo com que a iniciativa não seja vista como um luxo, mas como um modelo de trabalho possível.

Músicos independendes unidos

O slogan do Cohere Coworking, nos Estados Unidos, é “Seja independente em conjunto”. Não poderia ser mais sugestivo para um espaço focado em músicos independentes que muitas vezes não têm condições ou interesse de investir na construção de um estúdio próprio ou na compra de equipamentos caríssimos que serão utilizados apenas em momentos pontuais. Com o amadurecimento das plataformas de divulgação multimídia, como o Youtube e o Soundcloud, este novo perfil de músico precisa reinventar sua forma de atuação.

A revista Deskmag contou a história do Cohere. A ideia de um espaço voltado a músicos surgiu depois que amigos dos fundadores se endividaram quando precisaram comprar equipamentos caros. O mais óbvio seria que músicos se preocupassem apenas em produzir seu som, mas isso acaba ocorrendo apenas ocasionalmente. Daí para criar um novo negócio foi um processo natural.

Essa tendência se alinha muito com outro método usado por artistas independentes para financiar suas obras: o crowdfunding. A relação é bastante compreensível, afinal a atmosfera colaborativa dos espaços é um reflexo das mudanças na economia, que fazem com que o empreendedor precise aproveitar ao máximo os recursos disponíveis.

O jornalista Chris Anderson já dizia, em seu clássico livro “A Cauda Longa”, que as novas formas de produção de conteúdo geram uma grande diversificação de produtos, mas precisam se basear em formas pulverizadas de financiamento. Neste caso, estabelecer uma relação próxima com o público é essencial. Os fundadores da Cohere, por exemplo, gastaram mais de um ano buscando fundos para tirar a ideia do papel e entender o que os músicos queriam em um local como este.

O importante é criar uma comunidade

Uma das principais ações do Cohere Coworking foi conversar com músicos, entender o que eles precisavam e mobilizar estas pessoas para que se articulassem juntos na criação do espaço. Quando você cria algo muito específico é importante ter uma comunidade que fortaleça a ideia e que também se motive a virar cliente do negócio. “Nós abrimos uma pesquisa, fomos a ensaios de bandas em garagens e até salas de estar. Fizemos grupos de discussão com nossos músicos locais e permanecemos em contato com eles”, explicou a fundadora do Cohere, Angel Kwiatkowski.

Nós abrimos uma pesquisa, fomos a ensaios de bandas em garagens e até salas de estar. Fizemos grupos de discussão com nossos músicos locais e permanecemos em contato com eles

Este foi o mesmo caminho que Carina, do Casa de Viver, seguiu. A primeira coisa que ela fez quando teve a ideia foi divulgar em vários grupos de mães no Facebook. Lá ela recebeu diversas sugestões e pôde validar o projeto. O primeiro ano, antes de o negócio se formalizar, foi o momento de realizar eventos e reunir este público conhecido apenas pela web. Um destes encontros possibilitou que ela conhecesse suas duas sócias. O próximo passo foi encontrar uma casa que pudesse abrigar todas as ideias que surgiram. “Este foi um momento essencial. Nós não teríamos nos conhecido, muito menos validado se existia uma demanda real pelo nosso serviço, se não tivéssemos criado uma comunidade”, afirma.

 

O que você acha? Este tipo de espaço pode ajudar no dia a dia? Conte pra gente nos comentários! =)