Se antes os coworkings estavam lotados de profissionais freelancers e por empresas de pequeno porte, hoje as médias e grandes companhias já enxergam os escritórios compartilhados como uma solução ideal. Cada vez mais empresas estão repensando suas sedes enormes e todos os custos que elas envolvem. O jeito de consumir também mudou, e as pessoas começam a compreender a importância do incentivo à economia local.
E a indústria do coworking tem um papel fundamental na construção dessa cultura e mudança de pensamento. Consequentemente, o impacto que esses espaços compartilhados podem gerar é bem maior do que se poderia imaginar.
Compartilhamento e colaboração são as palavras do momento
Se nos anos 90 e 2000 havia um hype nos shoppings centers e no comprar em grandes redes, comer fast food e engrandecer tudo que vinha de fora do Brasil, hoje o consumo é cada vez mais local.
Antes a busca era pelo “bigger, better, faster”, já hoje as pessoas estão buscando uma vida mais desacelerada e com mais qualidade. E a indústria colaborativa se posiciona em prol de um consumo mais consciente, valorizando os pequenos produtores e empreendedores, pois todo mundo ali está no mesmo barco.
A nova geração é feita de profissionais que tentam conquistar seu lugar ao sol, com cada vez mais negócios digitais e pequenos empreendimentos diversos. Você já deve ter percebido que até os termos em foco estão diferentes. No passado adorávamos tudo que era rápido, do fast food ao fast fashion. Hoje, estamos reduzindo o ritmo e consumindo com mais consciência, do slow food ao slow fashion.
Cada vez menos gente almeja trabalhar em multinacionais, enquanto cada vez mais gente almeja ser seu próprio patrão. E isso ajuda a criar uma mentalidade de comprar do negócio do vizinho, ajudar o empreendimento do amigo crescer e incentivar o consumo local.
É hora de viver o bairro
Em cidades de pequeno e médio porte ainda é comum que os primeiros espaços compartilhados se instalem em áreas mais centrais, para abrigar profissionais de diferentes bairros. Mas a tendência dos coworkings nos bairros descentralizados não para de crescer e tem como público quem não quer gastar tanto tempo em deslocamento para o escritório, ou quem já gosta da região em que vive e gostaria de trabalhar ali por perto.
Para quem decide empreender nesse ramo, é essencial pensar bastante em quais são os pontos de referência no entorno do endereço escolhido. Quais outras facilidades existem ali perto para os coworkers?
Quanto mais os coworkers vivem o bairro, mais eles percebem os negócios que estão por ali. Talvez eles não precisem de um advogado hoje, mas quando precisarem, lembrarão que tem um escritório ao lado do coworking, que eles passam na frente todos os dias.
Além disso, o impacto é diário em estabelecimentos como restaurantes, padarias, academias, mercados, salões de beleza, cafeterias e assim por diante. De acordo com o Censo que delineou o perfil dos coworkers, 46% dos entrevistados afirmou que almoça em um local próximo do coworking.
Pense bem: um coworker que faz refeições no restaurante ou na padaria próxima ao escritório diariamente, gastando uma média de R$ 20 por dia. Serão cerca de R$ 400 por mês somente em comida.
Better together!
Além da alimentação, os profissionais que trabalham em seu espaço podem achar mais fácil fazer tudo por ali mesmo, desde as compras de mercado até o corte de cabelo e os treinos na academia. Este modelo de empreendimento alimenta a economia muito mais do que muita gente imagina.
Em Dallas, nos Estados Unidos, o coworking Common Desk – Deep Ellum é um case referência de sucesso do impacto econômico na região onde se encontra. Quando eles decidiram fazer alguns cálculos para estabelecer em estatísticas o efeito do espaço no bairro, os números foram surpreendentes.
O censo realizado apurou que os coworkers do espaço gastam uma média de US$ 23,43 por dia nas imediações do coworking. Quando multiplicado pela média de membros que trabalha no espaço e pelos dias do ano, o valor chegou a US$ 1,5 milhão por ano.
Esses números são de 2016, quando o Common Desk estava há quatro anos nesse local. De acordo com o estudo realizado, a região, que antes era um bairro fantasma, virou uma das áreas mais movimentadas de Dallas. Em apenas um ano, 11 negócios abriram na avenida principal em que o coworking se encontra. O escritório ajudou a trazer vida à área e deixou em evidência tudo o que estava em seu entorno.
Coworking como agente de revitalização de áreas urbanas
Outro papel que muitas vezes os espaços acabam tomando pra si é o de agentes de revitalização. Em áreas há décadas esquecidas, muitos coworkings fazem parte de projetos importantes de ressignificação para seus municípios.
É o caso da Nau Live Spaces que, junto com outros empreendimentos, integrou um movimento de revitalização de uma antiga zona industrial de Porto Alegre. O 4º distrito vem ganhando atenção nos últimos anos, e a Nau ousou e decidiu instalar seu espaço em um prédio clássico da região, construído em 1915. Embora a fachada tenha sido totalmente preservada, a proposta do espaço traz tudo o que combina com uma área que ressurge das cinzas: modernidade, criatividade e vigor.
O projeto recebeu incentivos da prefeitura como uma promessa de integração socioeconômica urbana. Mas, mudanças de rumo como a do 4º Distrito só se fazem possíveis quando os empreendedores estão atentos às tendências de consumo e de comportamento.
Espaços inovadores como a Nau deram um passo importante para oferecer nova vida à uma área abandonada e que, por décadas, não apresentava muitas perspectivas – não é à toa que a prefeitura deu preferência para empreendimentos como foco em inovação se instalarem na área.
Se a Nau chegou no 4º Distrito quando a área já possuía um projeto de revitalização, o STATE, em São Paulo, deu um passo mais corajoso ao se instalar na Vila Leopoldina. O espaço, aberto no início de 2020, escolheu como sede um prédio que seria demolido. O galpão de quase 20 mil metros quadrados foi construído em 1940 e abrigou uma grande metalúrgica quando aquela era uma região industrial.
Hoje, aos poucos, a área virou residencial e com projetos como o do State tenta virar um novo polo criativo. Com capacidade para 3 mil pessoas, o STATE promete fazer da região o “maior hub independente de inovação e economia criativa do Brasil”.