Uma cena das mais clássicas nos escritórios pelo mundo todo: colegas discutindo por conta da temperatura ideal no ambiente de trabalho. No verão brasileiro, então, a disputa é diária. O primeiro a chegar liga o ar-condicionado na temperatura que mais o agrada. Muitas vezes na menor possível, entre 17 e 18 graus. Quem chega depois ou se adapta ou é obrigado a usar casaco. Aquele famoso casaquinho que já fica permanentemente pendurado na cadeira do escritório.

Pensando nesse cenário, resolvemos investigar isso um pouco mais. Será que existe uma temperatura adequada para trabalhar e produzir melhor? Nosso rendimento melhora ou piora quando estamos sentindo calor? E será mesmo que podemos ligar o ar-condicionado na menor temperatura possível? Sem esquecer, claro, do velho debate: mulheres sentem mais frio do que os homens? Vamos aos fatos!

A temperatura recomendada

No Brasil, o Ministério do Trabalho tem um parâmetro, previsto em norma. A NR17 determina que a temperatura do ambiente de trabalho onde são executadas atividades intelectuais, como laboratórios, escritórios, salas de desenvolvimento, análise de projetos, tenham temperatura entre 20 e 23 graus, com umidade relativa não inferior a 40%. Já a ISO 9241 recomenda temperatura de 20 a 24 graus no verão e 23 a 26 graus no inverno, com umidade relativa entre 40% e 80%. Bom, ao que parece, seguindo essas regrinhas básicas, já teríamos uma boa diminuição na quantidade de brigas. Ninguém precisaria trabalhar no universo da Frozen, congelando nos 17 graus que tanto colegas adoram.

Mas será que ligar o ar-condicionado na menor temperatura possível é mesmo o mais eficiente para deixar o ambiente gelado? O especialista em instalações de ar-condicionado Lucas Vasconcelos de Souza garante que não. Ele explica que, ao deixar o ar na menor temperatura possível, você também acaba diminuindo muito a umidade do ar, trazendo ainda mais problemas para a convivência. “Sempre recomendo que o pessoal dos escritórios deixem a temperatura entre 23 e 24 graus. Além de evitar aquele frio congelante, o aparelho também trabalha de maneira mais adequada, mantendo uma temperatura constante”, recomenda.

Vamos combinar que, muitas vezes, na pressa de querer um ambiente gelado o mais rápido possível, a gente acaba ligando o ar na menor temperatura disponível, até quando estamos no home office. Fica a dica, já que a baixa umidade do ar pode desencadear uma série de doenças respiratórias.

Como a temperatura afeta a produtividade?

Um dos problemas com a temperatura vem quando ela afeta a produtividade. Você trabalha melhor no inverno ou no verão? Em temperaturas altas ou baixas? Embora seja uma resposta bem pessoal, já existem vários estudos relacionando temperaturas e produtividade. De acordo com a médica Paula Colpani, a grande maioria dos estudos relata perda de produtividade e maior número de erros cometidos no calor, em temperaturas mais elevadas. Existe uma explicação científica para isso.

O rendimento começa a cair nos 26 graus

“Quando estamos em um ambiente quente, o corpo gasta energia para se resfriar. O mais comum é através do suor, que resfria a pele e ajuda o organismo a manter a temperatura adequada. Acontece que a partir dos 26 graus, essa energia gasta para manter a temperatura do corpo começa a ser maior”, relata a médica. “Assim, a queda de rendimento e o aumento de erros acaba sendo uma consequência, já que parte da energia que deveria estar indo para nosso cérebro, está sendo utilizada para produzir suor e manter nosso corpo resfriado”, ressalta.

Diante disso, vemos que não é a toa que existem recomendações de temperatura ideal para o trabalho ser produtivo. Os extremos não fazem bem para o nosso corpo e nem para a nossa produtividade.

Homens e mulheres têm temperaturas diferentes?

Mas você deve estar pensando: isso acontece muito porque homens e mulheres têm temperaturas diferentes. Será mesmo? Ou o ambiente corporativo está acostumado a privilegiar os homens, mantendo uma tradição dos anos 70 e 80, quando eles eram a maioria em qualquer departamento.

Vamos abrir espaço aqui para uma polêmica recente sobre esse assunto que aconteceu nos Estados Unidos. A atriz Cynthia Nixon (que você deve lembrar pela atuação em Sex and the City), está disputando as primárias democratas para concorrer ao governo do estado de Nova York.

Você pode conferir a história toda clicando aqui.

Cynthia exigiu que a temperatura no ambiente do primeiro debate fosse mais alta do que normalmente é. O pedido foi para que o espaço ficasse com cerca de 24 graus celsius (76 Fahrenheit). A história trouxe à tona esse impasse relacionado à temperatura e como ela normalmente é adequada para agradar aos homens.

Pesquisas deram suporte à afirmação da campanha de Nixon de que as temperaturas dos escritórios são baseadas em preferências masculinas. Um estudo de 2015 disse que as temperaturas na maioria dos escritórios são definidas com base em uma fórmula de décadas que se baseia nas taxas metabólicas dos homens.

Homens preferem temperatura mais baixa, em torno de 20 graus celsius (ou menos, muitas vezes). Para eles, a justificativa acaba sendo o uso de roupas mais pesadas, já que na maioria das vezes não podem trabalhar usando bermudas ou regatas (nos espaços mais modernos já podem!).

De acordo com a médica Paula Colpani, a temperatura corporal do ser humano é a mesma e varia entre 35,5 e 37,5 graus. O que muda entre o homem e a mulher é na verdade a capacidade de adaptação à temperatura externa. Na maioria das vezes, homens se adaptam melhor ao frio porque possuem mais massa magra. Mas isso pode variar bastante de pessoa para pessoa. Teor de gordura corporal e a quantidade de exercício físico pratico também pode interferir no nível de adaptação à temperatura.

A temperatura ideal do escritório é?

Bom, agora que temos dados científicos e concretos, sabemos que a temperatura pode afetar (uns mais, outros menos) a produtividade durante o trabalho.

Analisando a NR17, que diz que a temperatura deve ficar entre 20 e 23 graus, algo entre esses dois números poderia trazer mais paz aos ambientes coletivos e mais produtividade ao seu home office, se for o caso.

Tenha cuidado com o desconforto causado pela baixa umidade no ambiente

Fuja da pegadinha de querer sentir o ambiente gelado mais rápido. Além de diminuir a umidade do ar, isso pode causar muito desconforto quando você precisar sair do ambiente. Lembre-se de que seu corpo se adapta às temperaturas e manter um nível intermediário vai evitar que ele gaste energia à toa!

Para o escritórios, a mesma política funcionaria muito bem. Nada de muito calor, já que a produtividade pode ser comprometida sim, mas também nada de floquinhos de neve pela sala. Fixar uma temperatura média pode acabar com a disputa pelo poder do ar-condicionado e ainda já prepara os funcionários, que podem se organizar e vestir exatamente o que precisam para aquela temperatura.

Então 21,5 graus seria a temperatura da paz e da produtividade? Vamos testar no próximo verão!