O status do mercado de coworking brasileiro em meio ao COVID-19 | Julho
Uma atualização do estudo realizado em abril, com um interessante comparativo entre a percepção dos founders três meses depois.
Este artigo foi escrito por
Fernando Aguirre.
Em abril deste ano realizamos uma primeira pesquisa para medir como o Coronavírus estava impactando o segmento de coworking no Brasil. Agora, passado um trimestre, voltamos no assunto para ver como está o mercado se movimentos, e como os últimos 90 dias de quarentena mudou a opinião de founders e gestores Brasil afora.
Neste segundo trimestre do ano, eu conversei com muita gente do mercado. E o golpe foi grande. Conversei com founder que foi de ampliação em andamento para zero de faturamento. Bati um papo com gestor que teve que fechar diversas unidades, ficando com milhares de metros quadrados ociosos. E claro, conversei com quem tinha acabado de abrir as portas, depois de meses de planejamento. Todo mundo estava assustado. Eu estava assustado.
Mas aos poucos, à medida que a informação ia chegando, que o batimento cardíaco foi diminuindo, a gente começou a pensar com mais clareza e ver uma luz no fim do túnel. Não ia ser fácil, não ia ser bonito, mas todos foram percebendo que se conseguisse se estruturar e aguentar um pouco mais, o futuro tende a ser doce.
40% dos espaços perderam 75% ou mais do seu faturamento nos últimos três meses
Essa é a parte difícil. Não adianta saber que o futuro vai ser incrível, se a gente não conseguir chegar lá. Agora em julho descobrimos que 90% do mercado teve perdas superiores a 15% do seu faturamento. A grande maioria, perdeu e segue perdendo muito dinheiro. 40% dos espaços com quem conversamos viram 75% ou mais de todo seu faturamento mensal desaparecer.
Paradoxalmente, em abril – quando conversamos com o mercado a primeira vez – 73% dos espaços apontaram que só conseguiam sobreviver até 3 meses com o espaço fechado. Não possuíam caixa na empresa pra nada além de julho. Bom, julho chegou, e não vimos um crash completo do mercado.
Vimos, é claro, uma número significativo de espaços fechando. A gente rastreou pelo menos 23 espaços no Brasil que fecharam as portas de vez nos últimos meses. Mas isso não é nem de perto o que o primeiro estudo apontava.
Essa diferença mostra duas coisas:
- O brasileiro é realmente o rei do improviso. A gente sabe se virar, ter jogo de cintura. Negociamos contrato de aluguel, cancelamos fornecedores desnecessários, conversamos com os clientes, buscamos capital onde dava e onde não dava. Mas a gente não deixou a peteca cair. Enxugamos tudo que dava, e ainda estamos aqui. Equilibrando os pratos, matando um leão por dia, o nosso dicionário de provérbios do tipo é ilimitado.
- Às vezes, tudo o que o seu negócio precisa é tempo pra respirar. Olhar com calma pra dentro, entender o que funciona e o que não funciona. Se reinventar por completo se for preciso. Com mais clareza e uma bela planilha nas mãos, a gente consegue ir mais longe.
Estamos reabrindo, mas com cuidado
Em abril, 73% dos espaços estavam parcialmente ou completamente fechados ao público. O novo estudo aponta que esse número reduziu para apenas 43%. Ou seja, a maioria do mercado já voltou a operar, mesmo que com alguma limitação.
Perguntamos sobre os motivos que levaram a reabertura: 39% apontou que foi obrigatório para manter a sobrevivência do negócio (o que mostra que na verdade a quarentena iniciada em abril durou pouco). 14% apontaram que já consideram seguro uma reabertura. Uma ótima notícia é os 42% que estão recebendo demanda de clientes, e por isso optaram a voltar a operar.
Do ponto de vista de saúde, o mercado tem se adaptado de diversas formas. Reduzindo a capacidade de ambientes compartilhados, aumentando o distanciamento social, cancelando eventos de socialização, e claro, promovendo toda edução e higiene necessários e recomendados.
Com essas medidas, 32% dos espaços consideram completamente seguro voltar a frequentar o seu ambiente. Um número similar, porém um pouco maior (37%) mantém a cautela e diz que sim, é seguro, mas tem algum tipo de receio. Geralmente esse receio está atrelado ao comportamento dos coworkers em si, afinal, não adianta o melhor protocolo de higienização se o bom senso das pessoas não estiver afiado.
Ainda assim, 21% dos mais cautelosos ainda não se sentem completamente confortável em recomendar a volta aos espaços de trabalho compartilhados.
As perspectivas futuras ficam cada vez mais animadoras
A medida que o mercado foi acalmando, entendendo o momento atual, e aprendendo a trabalhar com ele, estamos vendo um otimismo no ar cada vez mais forte. Seja pelo constante anúncio de grandes empresas que pretendem adotar o trabalho remoto de vez, ou pelo natural otimismo que fundador de coworking tem.
A gente sabe que coworking faz sentido, é o futuro, e vai continuar evoluindo naturalmente. Todos os números pré-pandemia apontavam o crescimento contínuo do mercado. Este é um tropeço, mas logo a gente se recupera.
Hoje, os gestores parecem ter uma visão mais realista do cenário. Enquanto em abril apenas 23% acreditavam que precisariam de 6 meses ou mais para retomar ao ritmo normal, agora esse número tem um salto pra 65%. Aliás, no início da quarentena parece que a o mercado ainda estava um pouco negacionista. 71% dos espaços pensavam que em até um trimestre tudo estaria normalizado. Aqui estamos, um trimestre no futuro, e as coisas ainda não podem ser chamadas de “normais”, certo?
Outro dado importante que mudou de lá pra cá, é justamente sobre o futuro do mercado de coworkings brasileiro na opinião dos founders. Enquanto no início da pandemia ao redor de 57% estava otimista, agora, mesmo com todas essas dificuldades, esse número cresceu para 75%. Quem indicou estar muito otimista, pulou de 16% para 33%. Incrível, não?
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Este estudo foi realizado entre os dias 24/06/2020 e 01/07/2020, contou com a participação de 170 espaços de coworking de todo o Brasil. O questionário era anônimo. Você pode conferir os gráficos e outros dados disponíveis neste link.