Sempre que viajo faço o possível pra visitar alguns espaços de coworking. Às vezes me apresento como sendo do Coworking Brasil, às vezes vou “à paisana”. As experiências são bem diferentes entre si.

Gosto de visitar espaços sem me apresentar porque consigo notar como é o atendimento para os coworkers. Observo quem é responsável pelo tour, como eles apresentam as características do lugar, a forma como identificam a minha necessidade como cliente e, finalmente, o fechamento do funil com a proposta comercial.

Cada lugar tem suas particularidades. Alguns te tratam como se você já fosse da casa, outros não se importam com você a menos que esteja de terno e procurando 15 estações. É do jogo.

Mas existe uma constante que sempre percebo: a diferença de atendimento de um pequeno/médio espaço para uma rede internacional gigante. Não quer dizer que um seja melhor que outro, mas as características que cada um destaca no seu tour são bem diferentes.

A vantagem dos pequenos espaços

Tenho plena certeza de que, para o meu perfil, os espaços pequenos ganham muitos pontos.

Entendo que pra uma grande rede é difícil receber todo mundo a qualquer hora. Que talvez eles precisem de uma portaria com uma supersegurança, que pede mil dados. Que o treinamento para o tour tem que ser um pouco genérico, já que não dá pra treinar o staff pra todo perfil de cliente. Entendo tudo isso, mas não gosto.

Pra mim não tem nada melhor que ser atendido diretamente pelo fundador ou gestor direto do espaço. A experiência é muito melhor. E, apesar de não ser tão escalável, tenho certeza de que converte mais.

Além disso, a agenda de um espaço menor também é menos atarefada. Você tem tempo de realmente sentar e conversar com a pessoa, fazer perguntas, entender como o espaço pode ajudar o seu negócio a crescer. Por exemplo: quem faz parte dessa comunidade? Que eventos o espaço vai proporcionar pra mim? Quais são as comodidades do bairro? Tem alguma boa padaria na rua? Posso vir de bike? Tem chuveiro, posso ver como ele é?

Todas essas são perguntas muito mais fáceis de aparecer em um papo descompromissado e amistoso quando visito pequenos espaços do que em meio à apertada agenda de uma recepcionista de um grande coworking.

Pequenas comodidades

Além disso, também noto uma flexibilização maior quando consigo conversar diretamente com alguém que toma as decisões.

“Olha, eu sei que você tem um serviço de impressão, mas quero trazer a minha impressora, posso?” Espaços maiores tendem a ser menos compreensíveis e apenas seguir as regras. Pequenos grupos têm muito mais poder de negociação e conseguem entender caso a caso. E mesmo que no fim não seja possível atender ao pedido do coworker, ainda assim eles têm mais carinho na justificativa e fica mais fácil compreender.

O paradoxo da escala

Do ponto de vista do negócio, o grande problema dessa abordagem é que ela não escala. À medida que o espaço vai crescendo, fica cada vez mais difícil alguém com capacidade de decisão fazer o atendimento direto. Aliás, existe ainda um segundo ponto negativo nessa abordagem.

Os coworkers tendem a recorrer sempre à pessoa que fez o atendimento inicial para todo tipo de problema uma vez que já estão inseridos na comunidade. Faltou papel higiênico? O ar está muito gelado? Alguém comeu seu lanche na geladeira? Fale com quem você já conhece.

Como evitar a sobrecarga do gestor

Esse tipo de abordagem no fim acaba sobrecarregando ainda mais o gestor do local e precisa ser combatida para manter uma boa sanidade mental em todos os envolvidos, garantindo que o gestor estará focado naquilo que realmente traz valor para o negócio. Uma estratégia que ouvi de um founder uma vez foi a seguinte:

Ter contato livre com outro cliente antes facilita muito a tomada de decisão

“Quando faço o tour, sempre tento trazer um coworker mais antigo da casa junto. No fim, deixo eles conversando um pouco pra já criarem um entrosamento. Algumas pessoas ficam intimidadas em perguntar algo direto para o dono do negócio, e ter um contato livre com um outro cliente antes de tomar uma decisão facilita muito. Uma vez com contrato assinado, o novo coworker já tem duas pessoas a quem recorrer, e para perguntas mais básicas eles tendem a conversar diretamente com o novo amigo, em vez de comigo”.

Acho esse modelo fantástico e, claro, impraticável dependendo do tamanho e perfil do negócio. É um modelo que apenas os espaços mais íntimos, que têm relacionamento forte com seus coworkers, é capaz de oferecer.

Trazer um atual coworker para conversar com um futuro é a essência do coworking sendo transmitida ali, na frente do seu prospecto. Ele ainda nem é seu cliente, mas já está ampliando sua rede. Além disso, você colocar um cliente real pra passar suas experiências reais é o maior argumento de venda que sua empresa pode oferecer.

Não existem regras

Outro ponto muito bacana que vejo acontecendo com muito mais frequência em espaços menores é a experimentação. A verdade é que não existe certo ou errado na hora de montar um espaço. Por isso, ser flexível e testar coisas novas que podem gerar facilidades para a sua comunidade é um superdiferencial.

Flexibilidade é um diferencial importante

Quando você tem um grupo menor, é muito mais fácil estar atento aos detalhes do dia a dia. Por exemplo, alguém faz um brigadeiro incrível? Convide para fornecer pro café do espaço. O pessoal é super-fitness? Tente buscar parceria e descontos para grupos com alguma academia próxima. Tem alguém que entende muito de vendas? Chame para fazer uma talk para seus coworkers. Todo mundo tem um produto a vender.

Se você precisa gerenciar 200, 500 pessoas no seu espaço, dificilmente vai ter tempo ou flexibilidade para tentar essas pequenas iniciativas, que, no fim das contas, são exatamente o que te diferencia do concorrente.

A análise aprofundada de o que o seu público precisa e tem de melhor a oferecer é onde todo gestor deveria focar seus esforços. Conectar pontos, lembra?

Ainda assim, quantidade pode trazer qualidade

No Censo do ano passado nós analisamos o perfil dos coworkers de acordo com o tipo de espaço que eles frequentam. E um ponto que nos surpreendeu é que mesmo espaços gigantes, acima de 200 membros, também conseguem criar alguns laços para os coworkers.

Se você gerencia um espaço de coworking, responda às perguntas do Censo 2019. Nos ajuda muito!

Acredito que existem dois fatores que contribuem bastante para isso: primeiro, grandes espaços geralmente focam em salas privadas, onde os times estão em um contexto muito próximo. Então esses relacionamentos acabam sendo criados dentro da mesma empresa.

Uma segunda hipótese é que, com quantidade, vem qualidade. Assim, quanto maior for o seu espaço, maiores as chances de o coworker encontrar alguém com quem se identifique. Seja em perfil pessoal ou profissional. Pra mim, esse é um dos principais pontos contra as pequenas comunidades. Elas podem funcionar muito bem e criar grupos de amigos realmente unidos e que dão vontade de encontrar na segunda-feira pela manhã. Porém, às vezes basta uma ou duas pessoas fora da sintonia para acabar com todo esse cenário.

É preciso aprender a lidar com a dinâmica do coworking

As comunidades dentro de espaços são muito instáveis. As pessoas vêm e vão a todo momento. Muitas vezes você está com um grupo fantástico, outras vezes não suporta aquele cara que berra ao telefone do seu lado.

Então, cabe ao gestor estar sempre de olho nesses movimentos e, sempre que possível, tentar filtrar de alguma forma quem entra nesse grupo. Eu sei que não é fácil dizer não para um cliente, mas pensar se aquela pessoa realmente se encaixa no perfil dos seus coworkers atuais pode ser a diferença entre amigos fiéis e clientes esperando a oferta mais baixa. E somente espaços menores, mais íntimos, conseguem conhecer seus coworkers com a profundidade necessária para fazer essa análise. Pense nisso 🙂