Gosto de observar como nós ocidentais temos uma admiração seletiva para os costumes orientais. Artes marciais? São fascinantes! Yoga? Faço e adoro! Acupuntura? Huuum, não sei não, prefiro seguir no anti-inflamatório que é mais garantido. Essa resistência sempre me deixa receosa ao colocar em pauta para discussão assuntos mais profundos e filosóficos, como por exemplo a Felicidade Interna Bruta.

Já faz um tempo que ouvi falar no FIB e lembro que quando li sobre isso pela primeira vez eu fiquei fascinada. Quis saber mais sobre o assunto e por isso resolvi dividir minhas descobertas através deste artigo.

FIB: como funciona essa medida de riqueza?

Foi em 1979 que o rei do Butão, hoje um país de 765 mil habitantes, declarou que eles não mais trabalhariam com as medidas do PIB (Produto Interno Bruto), mas sim com o FIB (Felicidade Interna Bruta). Para o restante do mundo, essa ideia só começou a ser propagada no início dos anos 2000, mas certamente soou como loucura, principalmente aqui pelos lados do Ocidente.

O que essa filosofia prega é basicamente que riqueza material não é sinônimo de felicidade. Uma nação pode ser muito produtiva e estar financeiramente estável, mas não necessariamente as pessoas são felizes. Portanto, o governo do país asiático adotou uma nova metodologia para medir o “sucesso” de sua nação.

Os elementos básicos para calcular o FIB são um tanto quanto complicados de serem mensurados: saúde física, saúde mental, satisfação no trabalho, felicidade social, bem-estar político, bem-estar econômico e bem-estar ambiental.

Essa nova medida de riqueza é polêmica, obviamente. Intrigados sobre a eficácia do projeto, muitos pesquisadores do mundo todo foram para o Butão para analisar mais de perto o cenário. Como era de se esperar, nem tudo são flores. As pessoas levam vidas mais leves, mas muitas crianças não estão na escola, por exemplo.

Como podemos ter a felicidade como propósito e não apenas o lucro ou sucesso profissional?

Por outro lado, quem visita o país enfatiza os valores muito fortes da população. A colaboração e a convivência em comunidade são essenciais no dia a dia das pessoas. Porém, é difícil medir o quanto disso vem do FIB e o quanto vem dos princípios budistas.

A Felicidade Interna Bruta poderia ser aplicada no Brasil?

Em tempos de um Brasil que grita “bandido bom é bandido morto!”, acho que dificilmente o conceito do FIB conseguiria se firmar por aqui. Pouco valorizamos nosso tempo e, consequentemente, a vida.

Essa filosofia pede uma visão mais humanista de mundo e, por aqui, as pessoas, em sua maioria, ainda têm um comportamento muito individualista de crescimento. Aos poucos, mas beeeem aos poucos mesmo, a cultura colaborativa está começando a mostrar sua força, e talvez a felicidade seja um objetivo a longo prazo.

Claro, também não dá para simplesmente deixar de lado os números de desenvolvimento e apenas ir atrás da felicidade. É utópico. Felicidade é um conceito muito subjetivo e, pessoalmente, prefiro primeiramente ver as pessoas com comida na mesa e bem nutridas do que pensar na satisfação pessoal de cada um no trabalho.

Se já é difícil fazer o FIB acontecer em um território com menos de 1 milhão de pessoas, como seria isso em um país enorme e de variedade cultural tão grande como o Brasil? Acho que, por hora, podemos acompanhar os resultados dessa proposta e tentar captar a essência dela. Como podemos ter a felicidade como propósito e não apenas o lucro ou sucesso profissional?

Por hora, que tal tentar implantar o FIB na sua empresa?

Se talvez seja quase impossível usar o FIB como uma referência quando se fala em Brasil, por que não começar de forma gradual? Muitas empresas já estão de olho na satisfação pessoal de seus funcionários. Afinal, profissionais mais alegres e contentes, com a vida e com o trabalho, produzem mais. Quem faz uma empresa são todas as pessoas que trabalham para ela, do dono ao recepcionista. O ânimo (ou o desânimo) de um membro da equipe pode acabar contagiando a todos, um a um.

O FIB é totalmente compatível com a economia do compartilhamento, que é uma das principais tendências de evolução quando o assunto é trabalho e desenvolvimento.

Como é feito no Butão, as empresas poderiam lançar questionários anônimos, por exemplo, para analisar a satisfação do time. Por lá, são 80 perguntas que abordam os diferentes tópicos, dos fatores físicos aos econômicos.

Alguns itens que podem ser analisados:

Quanto maior a instituição, mais importante se torna essa análise. Você sabe o que têm pensado e sentido seus funcionários? O questionário estilo FIB é uma ideia bacana até mesmo para os espaços compartilhados, por mais que os coworkers trabalhem para empresas diferentes. É importante saber como eles se sentem em relação ao ambiente profissional deles e o que poderia melhorar.

Os benefícios são vários: os profissionais ficam mais tempo na empresa, já que sentem que têm um suporte; com pessoas mais felizes, a produtividade dispara; quando sentem que são parte importante da empresa, os funcionários se empenham mais e vestem a camisa; diante de problemas, tendem a reclamar menos e buscar soluções; o sentir-se bem faz com que os profissionais adoeçam menos, evitando faltas e baixo rendimento.

Utópico ou não, o FIB tem potencial para nos ensinar muito. Ele pode, no mínimo, nos fazer pensar.

E você, concorda com o velho ditado de que dinheiro não compra felicidade?

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Leitura extra: super indico o relato de Ulisses Zamboni, que foi até o Butão e conversou sobre a Felicidade Interna Bruta com um dos porta vozes oficiais do conceito.