Em plena economia compartilhada, morar sozinho pode dar lugar ao chamado coliving. Esse conceito envolve uma nova maneira de aproveitar os espaços residenciais disponíveis, em busca de oportunidades e benefícios para todos.

No contexto da pandemia do coronavírus, isso ganhou força. Tanto as dificuldades econômicas, quanto a busca por mais praticidade e estrutura para trabalhar em home office pesam a favor da alternativa.

Mas será que essa aposta é apenas um conceito novo que chama a atenção, ou representa uma oportunidade real de negócio? Será que o coliving no Brasil tem se desenvolvido de forma consistente? Essas são as respostas que fomos buscar para compor esse artigo.

A arte de viver junto

Para começo de conversa, é importante entender esse conceito de forma completa. Se formos traduzir do inglês, temos algo como moradia (living) coletiva (co). E é exatamente isso que o coliving propõe.

Ou seja, várias pessoas ocupam o mesmo espaço habitacional, com o maior número de áreas de convivência possíveis. Além da metragem, todos dividem direitos e responsabilidades quanto ao uso dos ambientes.

Ao mesmo tempo, é comum que cada um tenha sua privacidade. Isso pode significar ter um quarto individual ou até ambientes um pouco maiores, como um escritório privativo.

Olhando assim, pode parecer uma simples configuração de condomínio ou casa de família. Mas a diferença é que o coliving propõe, justamente, unir pessoas de núcleos diferentes, que tenham ou não interesses em comum – e não faz menção a laços familiares.

Coliving x cohousing

Por causa da semelhança entre os termos, é bem comum que as pessoas acreditem que coliving, cohousing sejam a mesma coisa — mas não são.

Na prática, o cohousing é conhecido por envolver unidades individuais em torno de alguns espaços coletivos. É o caso de ter casas conectadas por apenas um mesmo espaço comum, por exemplo.

No coliving, como você viu, a ideia é que todos morem na mesma unidade, como em uma casa ou em um apartamento e tenham o máximo de ambientes para conviver. A principal diferença está na configuração dos espaços e na proposta de compartilhamento. Em comum, ambos têm o fato de criar, fortalecer e mesmo empoderar comunidades. Porém, a execução de cada qual é bem diferente e as oportunidades geradas também.

Presença nas grandes cidades

A chamada bolha imobiliária é um dos principais problemas urbanos. Com o crescimento acelerado dos preços do metro quadrado em metrópoles e grandes cidades, cada vez mais gente tem dificuldades para ter acesso à moradia, ainda que existam diversas propostas e novas plataformas digitais de locação.

A economia compartilhada, então, surge como uma alternativa para que essa necessidade possa caber no bolso. O que antes consistia em “dividir o apartamento com os amigos” deu origem a um modelo de negócio que hoje podemos chamar de coliving. E isso está longe de ser um hostel ou uma república institucionalizada, ok?

Isso porque, a proposta desse modelo de negócios é oferecer serviços que no modelo tradicional acabam sempre se tornando um grande problema:

Coisas como não passar por constrangimentos para pedir à algum parente para ser seu fiador e desentendimentos cotidianos com o ‘roommate’ relaxado com a limpeza, com as contas e gastos da casa/apartamento também ficam de lado nesta categoria de moradia. E mais, chega de perder horas do seu dia esperando técnicos de manutenção da internet, da máquina de lavar e por aí vai… no coliving o foco é no conforto, comodidade e convivência na medida certa. Agora, vamos ver como essa tendência anda por aqui?

Coliving no Brasil

Para entender como anda o cenário de moradia compartilhada no Brasil, o Grupo Zap realizou um levantamento nacional. De acordo com os dados, 30% dos brasileiros estariam dispostos a alugar no modelo de coliving. Apesar de parecer pouco, representa um despertar para uma tendência que ainda não é tão conhecida.

Os principais motivos citados por quem toparia essa alternativa envolvem a parte financeira. Afinal, dividir o espaço ajuda a economizar e, na prática, aumenta a disponibilidade de renda. Por outro lado, a privacidade é o ponto central entre os que não aceitariam estar em uma moradia compartilhada.

A economista Deborah Seabra, do Grupo Zap, avaliou em entrevista à Época Negócios que a crise não é a única justificativa para o aumento da procura dessa modalidade.

“Há moradias compartilhadas que compensam mais do que apartamentos pequenos no centro de São Paulo”.

Oportunidades no mercado

Embora o coliving não seja o modelo preferencial ou mais utilizado no momento, ele já dá sinais de crescimento contínuo ao longo dos anos. Para os fundadores de coworking ou de outros segmentos, que desejam investir ainda mais na economia compartilhada, essa pode ser uma oportunidade para empreender.

Inclusive, já existem cases de sucesso do coliving que estão espalhados em vários pontos do país. São Paulo, naturalmente, é o epicentro do desenvolvimento desse mercado por ser a maior cidade do Brasil.

Em São Paulo, a Yuca oferece apartamentos mobiliados para quem tiver interesse, mas tem foco em jovens profissionais no início de carreira. A ideia é oferecer uma espécie de “flat reinventado” e com custos menores.

Também é em São Paulo que está a KASA, uma empresa de coliving com apartamentos completos. Além dos studios individuais de diversos tamanhos, o empreendimento oferece studios que podem ser compartilhados e que são ideais para quem busca pagar menos.

Oportunidades em nichos

Podemos observar, ainda, o surgimento de nichos no coliving. A Uliving, por exemplo, oferece studios mobiliados e áreas comuns, e já está presente em São Paulo, Rio de Janeiro, Santos, Campinas e Ribeirão Preto.

A empresa foi uma das primeiras a surgir, chegando ao mercado em 2012. Seu diferencial é o fato de aceitar apenas estudantes — como uma república moderna e com mais estrutura.

Já a startup Coliiv é uma plataforma de moradia compartilhada que foi fundada por duas mulheres que, hoje, têm mais de 60 anos. A ideia era criar uma solução que idosos pudessem aproveitar, deixando de lado a ideia de viver em instituições de longa permanência (ILP). No entanto, o serviço aceita moradoras de todas as idades, contando com uma pesquisa prévia entre os futuros moradores.

Moradores à espera

Apesar de cada um desses negócios ter características diferentes, guardam um ponto em comum: a maioria não tem mais vagas e já conta com lista de espera. O Uliving, por exemplo, tinha 80% das vagas ocupadas no começo de 2020, enquanto a Yuca precisou lançar novas oportunidades para atender à procura.

Isso demonstra que o conceito tem feito sucesso, especialmente nas áreas em que a moradia individual representa um desafio.

Ao mesmo tempo, não há tantas alternativas disponíveis, o que fica claro com a dificuldade dos negócios atuais de suprirem toda a demanda. Como a tendência é de crescimento e desenvolvimento do modelo de negócio, existe uma oportunidade a ser explorada.

Como você viu, o coliving consiste em moradias compartilhadas e que buscam trazer praticidade e acesso, em especial nas grandes cidades. Com o avanço do coliving no Brasil, não é exagero dizer que o conceito já tem se transformado em um modelo de negócios com chances de sucesso.

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