Eu já tive a oportunidade de visitar alguns eventos sobre coworking, mas o Encontro Brasil é sempre uma data super especial pra mim. Às vezes eu apresento algum material no evento, às vezes não.

Esse ano foi uma dessas vezes que eu fui pra ouvir, não pra falar. Eu fui pra ver o que o pessoal tem produzido, estudado. Quais os novos debates, o que evoluímos nos últimos anos? E eu vi muita coisa interessante.

Pra quem nunca foi, deixa eu explicar como tem funcionado. Normalmente são dois dias de evento: no primeiro, a maioria das talks. No segundo, geralmente se concentram as desconferências. Um momento lindo, onde gestores levantam tópicos importantes para eles e o grande grupo debate ao redor. É o momento que mais gosto, onde posso ouvir os founders falando. Saber o que tem passado na cabeça deles.

Dentro das palestras, destaco uma importância grande que o pessoal levantou sobre gestão de comunidade e perfil do coworker. Desde dicas simples, como não deixar o seu potencial coworker sozinho em um canto no free-pass promocional, até assuntos mais complexos, como a identificação do perfil social do seu potencial cliente e como isso pode te ajudar a fechar um contrato mais fácil.

Já falamos aqui sobre coworkers introvertidos, lembra? Cada pessoa tem um perfil, e o Felipe ajudou a gente a identificar esses modelos e levantar os argumentos certeiros.

 

E a WeWork, hein?

Essa foi a provocação que o Anderson Costa deixou pra gente pouco antes do almoço. Ele fez uma interessante retrospectiva sobre a história dessa gigante do setor, e nos mostrou como um plano interessante de futuro planejado pelo Adam Neumann acabou sofrendo com uma execução ruim.

O Anderson argumenta que talvez o plano da We Generation fosse realmente bom, mas acabou caindo na armadilha da escala. Talvez, se não tivesse levantado tanto capital, e tantas expectativas, a We poderia ter escalado de forma mais lenta, gradual e saudável.

Ah, pra quem não teve oportunidade de ir, você pode ver um artigo que resume um pouco o pensamento do Anderson neste link.

 

Traz a comunidade pra dentro do espaço.

Esse foi um ponto alto do painel sobre arquitetura de espaços que vi. A ideia de integrar a rua, o mobiliário urbano, toda a comunidade local com o seu espaço é super interessante. Transforma o coworking em uma continuação do sistema urbano, fluído, que abraça quem chega.

Arquitetura para espaços de trabalho é outro tema que me encanta. Como pequenos detalhes podem ser planejados para deixar os seus ambiente mais agradável e inclusivo, aumentando a produtividade e bem estar de todos.

E nos papos pelo corredor foi onde ouvi uma das melhores estratégias arquitetônicas para incentivar que seus coworkers frequentam os espaços de descompressão, em vez de ficar da cadeira pra rua, da rua pra cadeira: “Fizemos uma pequena armadilha no banheiro. A pessoa entra por uma porta, mas pra sair, precisa ir por outra na ponta oposta. Dessa forma toda vez que vai ao banheiro precisa passar pela área de convivência e ver o que está rolando“. Gênio.

 

Desconferências são a melhor parte

Olha, esse ano muito debate interessante rolou nessa hora. Falamos sobre a importância dos founders focar em gerir os seus negócios, e deixar o dia a dia com um community manager.

São papéis diferentes, sabe? O gestor precisa pensar no futuro da empresa, estar na rua, conhecendo gente, parceiros, clientes. O hoje, o agora? Esse fica com o community manager, que é o braço direito do gestor. Com ele os coworkers se sentem mais a vontade de conversar, falar a real. O que está bacana e o que precisa ser melhorado. CM é meio psicólogo às vezes. Ele precisa ouvir e estar atento a tudo que acontece no espaço. Do mais operacional, ao mais pessoal.

Um bom CM conhece a rotina dos coworkers. “Cara, eu sei que você chega sempre às 9h, toma café, vai ao banheiro, e então senta pra trabalhar. Hoje não, o que aconteceu? Tá tudo bem?“. Ouvi isso em um dos papos e achei o máximo.

Outra dica legal que ouvi foi a ideia de levar o seu time todo para fazer um coworking tour. A gente sempre fala sobre a importância de você conhecer outros espaços, mas levar todo seu time nesse passeio pode trazer inúmeros insights pro seu negócio. Eventualmente pontos que não fazem parte da sua rotina só serão observados por quem efetivamente lida com aquela situação.

 

Aliás, a importância de um bom time foi super debatido. O pessoal levantou a bola de como trazer o funcionário para trabalhar “com você, e não para você”. Esse é um sentimento comum entre empresários. A constante sensação de que o pessoal só está ali pelo pagamento, e não pelo negócio. E a verdade é que muitas vezes a pessoa está ali pra isso mesmo, e tá tudo bem. O seu funcionário não é seu sócio. Ele não recebe participação nos lucros, não tem autonomia para chegar a hora que quiser. Em contrapartida, não sofre com os riscos e incertezas do dia 5 de cada mês.

O que você precisa é ter bons funcionários, que entendem que fazer o negócio crescer é fazer a torta inteira crescer, gerando uma fatia maior pra todo mundo. Ter um time com atitude de dono é ótimo, mas não exagere nas expectativas.

 

Smart cities e inclusão

Cidades inteligentes é uma temática que vejo com muito carinho, e vi alguns movimentos bacana nesse encontro. Desde como espaços de coworking podem se juntar a esfera pública para finalmente descentralizar as cidades, até a importância social que coworkings podem (ou não) assumir dentro das suas comunidades locais.

Um exemplo interessante é o próprio STATE, onde o encontro aconteceu. Um espaço incrível, em uma região com sério problemas sociais. O Jorge, um dos responsáveis pelo espaço, falou sobre as dificuldades de conseguir envolvimento das esferas públicas ou privadas para ajudar a melhorar o dia a dia do bairro. Mas ainda assim eles não desistem, e estão tentando contribuir da melhor forma possível.

Pra finalizar o encontro, um debate lindo sobre inclusão e o papel social dos espaços de coworking. Olha ao seu redor, você percebe algum padrão nos coworkers que estão no seu espaço? Será que tem algo que podemos fazer para tornar espaços de coworking mais inclusivos ao pessoal que não está tendo este acesso? Talvez sim, talvez não. Fica de reflexão para cada um de nós.

 

 

Como disse lá em cima, a oportunidade de estar ao redor das 100 pessoas mais apaixonadas por coworking do país é fantástica. As palestras são legais, certamente, mas o corredor é onde rola a magia. Onde os founders abrem o coração e você consegue realmente entender a grandeza desse encontro. Um encontro independente, aberto, de founder pra founder.

O evento certamente não foi perfeito, tem seus pontos a melhorar (precisamos bater um papo João e Laura), mas em resumo foi isso. Esse é o meu recorte sobre o encontro 2020, como é o seu?