Por aqui, sempre falamos da importância de criar uma comunidade colaborativa em seu coworking. A ideia não é apenas atrair cada vez mais profissionais, mas ser capaz de reter aqueles que chegam ao seu espaço, aproveitando o contato para criar integração entre eles. E falar de comunidade coworking hoje só é possível porque o setor passou por uma grande evolução. Saiba os mínimos detalhes dessa história nesse artigo.

O início dos debates sobre coworking na rede

Logo no começo, as discussões sobre coworking no Brasil aconteciam principalmente em comunidades virtuais. O Grupo Coworking, do Google, foi um ponto de partida. Apesar de não ser em português, alguns brasileiros começaram a se encontrar por lá. Mais de 13 anos depois, agora as discussões globais acontecem em um espaço próprio.

Diante da necessidade de assuntos que considerassem as necessidades e os interesses do mercado brasileiro, Cadu de Castro Alves criou o primeiro fórum nacional. Hoje ele não existe mais, mas sem dúvida, foi um dos responsáveis por trazer informações relevantes para empreendedores, coworkers e entusiastas do assunto.

Quanto ao processo de criação da comunidade, Cadu conta que a ideia surgiu da sua afinidade pelo tema, ao realizar um trabalho na faculdade. Após criar uma comunidade chamada Coworking Rio, mais pessoas foram se juntando ao ambiente virtual, inclusive o primeiro sócio dele.

“Eu conheci o meu primeiro sócio por meio dessa comunidade. Ele tinha feito uma viagem para os Estados Unidos, conheceu o modelo de negócio de coworking lá e voltou decidido a investir nesse mercado. Quando ele pesquisou na internet, encontrou essa comunidade, a gente acabou se encontrando várias vezes, até que finalmente a gente abriu o BeesOffice [primeiro coworking do Rio de Janeiro]. Foi uma experiência bem interessante”, conta.

Assim como ele, o encontro virtual também serviu como pontapé inicial para outros fundadores dessa fase.

“Entre as pessoas que participaram dessa comunidade, algumas acabaram abrindo um coworking, outras não abriram, mas foi, realmente, o início da comunidade Brasil”, enfatiza.

O grupo teve uma grande relevância na história das comunidades, pois reuniu pessoas interessadas no mesmo tema, para que essas pudessem trocar referências e impressões de outros lugares e pontos de vista, o que ampliou e muito o potencial de exploração dos membros.

“Foi muito importante a criação dessa comunidade para, efetivamente, atrair quem estava interessado em investir nesse mercado e também unir as pessoas que já estavam se aventurando nesse segmento, para que todas pudessem trocar experiências”, conta.

Depois de um tempo, houve uma mudança de endereço eletrônico do Ning – onde começou – devido ao preço da plataforma. A migração para o Google Groups, que é gratuito, foi natural e conveniente. Por fim, Cadu diz que “as pessoas acabaram migrando para outras plataformas, como WhatsApp e o Facebook Grupos”, justificando o encerramento do fórum.

A comunidade de coworking no mundo dos blogs

Em 2008, os blogs estavam começando a ser canais de divulgação em popularização e com papel relevante na construção de comunidades, como fazem hoje as redes sociais com suas ferramentas de grupos, painéis e etc. Então, o tema coworking também ganhou seu espaço por aí.

Criado por Anderson Costa, o Movebla foi um dos primeiros sites a cobrir o mercado de espaços colaborativos, criado por alguém que não fosse um empreendedor direto do segmento.

A seção exclusiva sobre coworking no blog dele, teve seu último artigo publicado em 2019. E foi ele quem desenvolveu as duas primeiras edições do censo sobre o mercado brasileiro. A partir da terceira edição, o time do Coworking Brasil assumiu as responsabilidades e mantém a pesquisa informativa até hoje.

Anderson conta que o projeto surgiu graças às suas primeiras experiências trabalhando em casa – e por isso, começou a retratar esse cotidiano e buscar escritórios que estavam acolhendo profissionais como ele. Além de se conectar com muitos profissionais, entre empreendedores e coworkers, ajudou a desenvolver o mercado por meio da informação.

“Tenho certeza que minha melhor contribuição foi o censo, porque por meio dele consegui dar uma ‘cara‘ para esse mercado. Ou seja, foi possível mostrar do que se tratava esse mercado e representá-lo com números reais, desde as possibilidades de retorno, média de investimento, número de espaço, distribuição no Brasil e muitos outros dados importantes. Com isso, os investidores puderam avaliar se deveriam entrar ou não e entender melhor o que o mercado precisava”, pondera.

A respeito do futuro, Anderson diz ter definido outras prioridades e projetos, mas percebe um amadurecimento no mercado e na comunidade. No que diz respeito à pandemia, levanta uma reflexão do setor e da comunidade.

“Com todo mundo trabalhando remoto, as pessoas estão repensando esse conceito de colaboração. Como é que você trabalha de uma forma colaborativa sendo que você não tem a presença física? Parece fácil, mas não é. Creio que voltamos ao ponto de partida da discussão sobre ‘o que é coworking’ e ponderar que a comunidade não é só sobre cadeira e mesa. A ideia é dar mais importância para as conexões entre os membros, do que para o espaço físico”, finaliza.

A comunidade colaborativa reunida

Ainda por volta de 2008, a discussão do mercado de coworking não se restringiu ao ambiente online. Foi nessa época que aconteceu o primeiro Encontro Coworking Brasil, que logo de cara, juntou fundadores de todo o país.

Tudo começou em 2015, quando, na Virada Empreendedora, João, Laura e vários outros fundadores se reuniram para falar de coworking. Ali ficou decidida a criação do evento, organizado de modo descentralizado com o apoio de uma comissão. A partir de 2018, ambos assumiram a organização.

“Acho que o maior impacto foi criar um senso de pertencimento para a comunidade”, diz João.

Laura concorda com a visão e vai além, pontuando a importância da aproximação das pessoas e o que isso pode gerar em todo o mercado.

“Nosso primeira grande conquista foi essa: a gente passou a se reconhecer nos outros. Acho que o encontro foi o primeiro grande gatilho, depois as pessoas foram se organizando”, comentou.

Para o futuro, ambos apoiam que a ideia é continuar e alavancar a profissionalização que já vem acontecendo nas últimas edições. Diante do cenário de pandemia, isso ganha ainda mais relevância.

“Nossa intenção é entender como a gente faz para o encontro ser mais educativo para o mercado, seja ele virtual, híbrido ou presencial”, conta Laura.

João completa ao falar sobre a importância de ter uma composição realmente diversa e representativa.

“Queremos pluralizar o coworking, trazer conteúdo de todos as frentes, trazer espaços de todos os lugares. A ideia é fazer o encontro crescer em termos de diversidade — e sempre com conteúdo de empreendedor para empreendedor”, finaliza.

O primeiro grande patrocínio

Com a comunidade de coworking ganhando força, logo surgiu a primeira iniciativa apoiada por uma empresa de destaque: o Cubo do Itaú.

Imagem do projeto do Cubo – Itaú

A intenção da iniciativa era fomentar uma comunidade de empreendedores — com o diferencial de ser um prédio com 5 andares e uma estrutura que ainda não tinha sido montada antes por nenhum outro espaço no Brasil.

Por um lado, isso atraiu a atenção da mídia e ajudou a popularizar o termo e a solução. Por outro, causou apreensão nos espaços vizinhos, que temiam ser engolidos pelo gigante.

Hoje, o espaço se tornou um hub ocupado por startups, com o foco em incubação, aceleração e desenvolvimento de negócios.

Na esteira desses formatos de grande porte, o Google Campus escolheu São Paulo como a capital para receber uma de suas sedes. Novamente, o movimento chamou a atenção do mercado e alguns fundadores se sentiram apreensivos.

Assim como aconteceu com o Cubo, o Google Campus passou a focar mais no desenvolvimento de startups, que buscam um ambiente dinâmico para acelerar, validar e consolidar suas ideias e não necessariamente em ‘vender’ espaço para trabalhar.

O surgimento da comunidade de coworking com atuação colaborativa ganhou força a partir de 2008 no Brasil. De lá para cá, muitas iniciativas se transformaram totalmente ou até mesmo foram descontinuadas ou encerradas.

O que fica como legado, desde o primeiro fórum ou evento, são as informações e as trocas de experiências geradas, sem dúvida, necessárias para o amadurecimento do mercado como conhecemos hoje.

Relembre (ou conheça) esses e outros momentos ao compartilhar o artigo em suas redes sociais e converse sobre isso com a sua rede de contatos – não deixe o movimento morrer.

Você também pode conhecer mais pontos importantes da história do coworking no Brasil.