É complicado já começar um artigo recordando que, infelizmente, o ato de espalhar notícias falsas não é novidade alguma em nossa sociedade. Na verdade, a prática das fake news, muito debatidas e em foco total nos últimos meses, é bem mais antiga do que gostaríamos.

Quando a propaganda nazista divulgava para a população que os judeus bebiam sangue de crianças, a fim de incitar o ódio contra esse grupo e convencer de que os atos violentos e antissemitas do movimento nazista eram justificáveis, o Facebook ainda não estava lá. Ou seja, a prática das fake news não é uma consequência negativa das redes sociais. Ela é apenas reflexo de mau-caráter e más intenções, mas, é claro, ganha proporções estrondosas por conta da potência viral desse meio de comunicação.

O debate e a atenção às fake news tem se feito cada vez mais necessário, tanto no Brasil como no mundo. O quanto você está alerta para isso? Que atitudes você toma antes de compartilhar conteúdos de terceiros?

Gerar fatos irreais e inexistentes tem sido uma prática cada vez mais recorrente em redes sociais como Twitter e Facebook. Não param de surgir “verdades alternativas”, o que muitas vezes as manchetes de grandes veículos da imprensa fazem. O sensacionalismo sempre vendeu, e na era dos clicks não seria diferente.

A grande questão é que não podemos culpar as redes sociais. Sim, as plataformas são responsáveis e devem tomar providências para que isso acabe — ou pelo menos diminua —, mas cada um de nós é igualmente responsável por aquilo que compartilha. Eu posso não ter criado a notícia falsa, mas se eu compartilhar, inevitavelmente eu me torno parte dessa cadeia mentirosa.

As fake news no Brasil

Em pleno ano eleitoral, é impossível não destacar que as fakes news no campo da política são a maioria no Brasil. Palco de uma guerra virtual entre esquerda e direita, o Facebook é uma das principais ferramentas de propagação de notícias falsas e/ou tendenciosas.

Um episódio recente e alarmante sobre a irresponsabilidade no compartilhamento de informações sem checagem de veracidade foi nos dias posteriores a morte da vereadora carioca Marielle Franco. Como verificou um estudo feito pelo Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibertcultura (Labic), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), as principais acusações contra a vereadora, que afirmavam que ela tinha ligação com o Comando Vermelho e que havia sido casada com o traficante Marcinho VP, foram compartilhadas ao menos 360 mil vezes no Facebook. Obviamente, a notícia era falsa.

É preciso um cuidado especial quando o assunto é política, uma vez que é sabido que as acusações falsas são usadas como estratégia de campanha. Como revelou em sua biografia “Política é ciência”, o ex-prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, contou que em 1998 espalhou 150 pessoas em bares de diversos bairros da cidade para espalhar um rumor sobre o candidato de oposição. E, como diz o ditado, “uma mentira contada mil vezes torna-se verdade”. Resultado: o candidato caluniado, Sérgio Cabral, foi derrotado nas urnas.

Como esse exemplo demonstra, o problema está justamente na proximidade. Quando vemos um amigo ou conhecido compartilhando uma notícia, temos a tendência de imediatamente acreditarmos nele, sem sequer suspeitarmos que aquilo pode ser mentira ou um telefone sem fio que distorceu as coisas.

Nos EUA, 65 milhões de eleitores leram ao menos um texto em sites de notícias falsas durante a campanha de 2016

Mais de um ano após a vitória de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, ainda se fala do impacto que as fake News tiveram nos resultados dessa eleição. É claro que não foram os factoides que deram a vitória ao candidato republicano, mas não podemos negar que é preocupante o quão longe as notícias falsas sobre Hillary Clinton, a candidata democrata, chegaram.

De acordo com uma pesquisa realizada por cientistas políticos de três universidades americanas, cerca de 65 milhões de eleitores (27% do total de votantes) leram ao menos um texto em sites de notícias falsas durante a campanha eleitoral de 2016. Você pode conferir mais dados sobre a pesquisa aqui.

Como podemos nos certificar da veracidade dos links que lemos por aí?

O fato é que, dificilmente, conseguiremos cessar o surgimento das fake news. Então, como podemos ajudar a mudar essa realidade? Bom, a nós cabe não ajudar espalhar mentiras fabricadas. Que tal checar se uma informação é verdadeira antes de sair compartilhando para o seu círculo de amigos virtuais?

Tem uma série de dicas que você pode seguir para distinguir notícias verdadeiras de mentirosas:

. Vá além do título: leia o conteúdo de uma publicação

Como jornalista, posso afirmar que é na manchete que ganhamos mais da metade dos leitores. E, para quem escreve todos os dias, criar um título chamativo é mais fácil do que você pode imaginar.

E, infelizmente, o que mais tenho visto por aí são pessoas que leem a chamada do texto e, antes mesmo de clicar no link para ler o artigo completo, já compartilharam em suas timelines. Apenas lembrando que, como já falamos ali em cima, no momento que você espalha um link com informações falsas, você é corresponsável pela notícia.

Então, leia além do título e do subtítulo. As manchetes sensacionalistas têm sido maioria, então tome cuidado para não ser mais um pato que cai nessa armadilha.

. Analise a credibilidade da URL

Esse talvez seja um passo um tanto mais complicado, porque exige um pouco mais de atenção. Mas uma dica bem básica e fácil de identificar que podemos dar: desconfie de URL’s que contêm as terminações “blogspot.com.br” e “wordpress.com”.

Nada contra as plataformas que abrigam blogs, mas o mínimo que se espera de um site que deseja ser identificado como profissional é que a URL seja personalizada. Explicamos: qualquer pessoa pode criar um blog gratuito nas ferramentas que citamos. Mas, no momento que você deseja profissionalizar mais o seu site, você paga para registrá-lo e para obter uma URL.

E, no momento que você registra sua URL, além de pagar uma taxa, você precisa se identificar, colocar CPF e tudo mais. Ou seja, você pode ser rastreado mais facilmente.

Suspeite de “veículos de comunicação” que você nunca ouviu falar e que não permitem que você entre em contato com eles. Afinal, é muito fácil se esconder por trás de uma página na internet e não arcar com as consequências de informações compartilhadas.

. Confira se os autores existem e se são confiáveis

Ao ler uma notícia, procure na página a assinatura da matéria, principalmente se o fato ali revelado for de grande importância ou se comprometer a imagem de alguma pessoa ou entidade. Há um jornalista, blogueiro ou colunista assinando o texto? Se não tiver, desconfie e questione. Se houver, pesquise sobre o histórico desse escritor.

. Procure mais de uma fonte para se certificar

Se você não deseja fazer parte da massa de manobra, sempre duvide. Eu sei, é desgastante viver em um mundo em que não sabemos se podemos confiar nos outros, mas é uma questão de sobrevivência. Então, quando uma notícia for muito alarmante ou soar um tanto quanto sensacionalista, pesquise em mais fontes para conferir a veracidade.

Eu sou jornalista e posso afirmar que, além de cada veículo ter uma linha editorial a ser seguida, também existem interesses políticos e financeiros por trás de uma publicação. Caso você não saiba, na faculdade de comunicação aprendemos desde cedo que a imprensa é o 4º poder no Brasil (não oficialmente, claro), ou seja, é tão poderosa quanto Executivo, Legislativo e Judiciário. Pense nisso.

. Verifique a data da publicação

Eu moro no Rio Grande do Sul, e aqui tem em uma história clássica: como a maior parte do país sabe, há uma enorme rivalidade entre os times de futebol Grêmio e Inter.  Algo bem relevante que os dois têm em comum é um técnico que já trabalhou em diferentes ocasiões dos dois lados, o Celso Roth. E, várias vezes, quando um time ou o outro estava em um momento de crise e demitia o técnico, sempre surgia pipocando no Facebook e no Twitter algum link dizendo “Celso Roth é o novo técnico do Inter” ou “Celso Roth é o novo técnico do Grêmio”. Muitas pessoas liam a manchete e já saíam compartilhando a notícia. Elas sequer abriam o link, afinal, o site normalmente era famoso e de confiança dos gaúchos. As notícias realmente eram verdadeiras, porém com um grande detalhe: eram manchetes antigas, às vezes de anos e anos antes.

Moral da história: além de saber analisar o contexto dos fatos, também é preciso conferir a data de publicação de uma notícia.

. Saiba diferenciar opinião de fato

Por último, é importante atentar para a diferença entre matérias jornalísticas e colunas opinativas. Na internet isso é mais difícil de identificar do que em um jornal impresso, que sempre deixa bem claro as diferenças entre eles.

Não que um texto opinativo tenha o direito de denegrir e inventar fatos, mas é supernormal que uma coluna tenha inclinações para um lado ou outro. Novamente, cabe a você e ao seu poder de questionar para decidir quais informações você irá absorver ou não.

O que o Facebook está fazendo a respeito das fake news?

Mesmo que as redes sociais não sejam as responsáveis pela criação de factoides, elas são responsáveis pela livre propagação delas em suas plataformas. O Facebook tem sido duramente criticado por não se posicionar sobre esse tema, mas parece que agora a empresa está estudando como usar os algoritmos para banir as fake news.

As equipes da companhia têm trabalhado nisso e conseguiram dividir as notícias em três grupos, que exigem pesquisas diferentes e, assim, diferentes formas de combate da “misinformation”.

Eles delimitaram que existem os “bad actors” (maus atores), que são as contas fake, produtores de spam, hackers e etc. O segundo grupo é o de “bad behaviour” (mau comportamento), e inclui sensacionalismo, polarização, spam e táticas para ganhar like. O terceiro grupo é o de “bad content” (mau conteúdo), que aí sim insere as fake news, os discursos de ódio, violência e clickbait.

Por hora, a dificuldade em resolver de vez esse problema é que as vezes pode aparecer mais que um desses fatores em uma mesma notícia. Segundo Dan Zigmond, executivo do Facebook, eles têm trabalhado com um tripé de medidas de combate a desinformação: remover, reduzir e informar.

Serão removidos totalmente os conteúdos violentos, terroristas, e contas falsas e bullying. Já os produtos da “área cinzenta”, que é a mais difícil de identificar pelos robôs do site, são as fake news, o sensacionalismo e clickbait. Esses seriam os conteúdos reduzidos, que teriam sua distribuição diminuída mas não eliminada, uma vez que eles não violam as regras da comunidade, mas incomodam e não são tão desejados pelas pessoas.

E, por último, o trabalho de informar, inserindo nos links mais informações para que as pessoas possam se aprofundar. A ideia é mostrar algum artigo relacionado que proporcione mais conteúdos sobre o assunto e dados sobre a fonte utilizada.

Além dessas melhorias, a empresa prometeu que irá trabalhar em parceria com pesquisadores e acadêmicos, a fim de estudar os impactos da propagação de informações falsas na sociedade.




Agora, que tal compartilhar essas dicas todas com a sua timeline? Vamos levar essa conscientização adiante pra termos um ambiente virtual mais saudável e construtivo? Contamos com você! 🙂