Os primeiros coworkings no Brasil apareceram em meados de 2008 e desde então o cenário é de mudanças contínuas. Primeiro porque esse é um mercado jovem, em constantes descobertas, e, segundo porque é um mercado diretamente ligado às evoluções de tecnologia e tendências do trabalho. E o tópico de mobilidade e trabalho tem sido um dos mais importantes nos debates sobre o mercado nos últimos anos.
Se os primeiros espaços apareceram nos grandes centros urbanos e majoritariamente em regiões centralizadas, hoje o perfil das regiões onde os coworkings se instalam está mais abrangente e variado. Afinal, se eu posso trabalhar de qualquer lugar, porque, necessariamente, eu precisaria me deslocar para o centro da cidade? Portanto, mobilidade e coworking passaram a ser debatidos lado a lado, como aliados na construção de um cenário mais móvel e flexível.
Por que dificultar se podemos facilitar?
Se há 5 anos muita gente acreditava que optar por um coworking tinha como objetivo principal reduzir gastos, hoje o quesito mobilidade já é tão importante quanto a questão financeira. Nossos hábitos mudaram e não aceitamos mais dificultar o que pode ser facilitado. Em tempos em que podemos fazer quase tudo pelo celular, já não faz mais sentido atravessar uma cidade para chegar a um escritório que poderia ser a um quarteirão da nossa casa.
Nas cidades maiores, onde há mais opções de espaços compartilhados, não há por que passar muito tempo em deslocamento até o escritório. Se estou buscando um coworking no Rio de Janeiro e moro em Botafogo, não há razão para procurar um escritório no centro. Se houver um escritório em Botafogo mesmo, que eu possa ir e voltar a pé ou de bicicleta, é por ali que eu vou ficar.
Não faz mais sentido, a não ser para fábricas ou outras áreas em que o seu trabalho esteja totalmente vinculado a uma estrutura fixa, que você tenha que gastar inúmeras horas por semana para exercer seu trabalho. Se as funções de um cargo podem ser feitas através do computador e do telefone, por que uma empresa precisa deslocar times de dezenas ou centenas de funcionários para trabalhar em um mesmo lugar?
A Microsoft, lá por 2016, foi uma das primeiras empresas gigantes que passaram a optar pelo formato do coworking. Hoje, a solução já é a mais adequada para muitas outras companhias, como por exemplo o Spotify, que no Rio de Janeiro fica em um coworking.
Mobilidade é felicidade
Empreendedores ligados às tendências do trabalho já entenderam que a nova geração de profissionais não compreende o deslocamento desnecessário quando tudo poderia ser feito de um escritório perto de casa.
“9% dos entrevistados disse que preferiria ganhar até 10% menos para poder trabalhar perto de casa”
Em uma pesquisa de 2018, produzida pelo Welcome Tomorrow (WTM) e executada pela MindMiners, 49% dos entrevistados disse que preferiria ganhar até 10% menos para poder trabalhar perto de casa – a mesma porcentagem disse, inclusive, que abriria mão de seus benefícios em troca dessa vantagem. Ainda para os participantes do estudo, 53% deles garantiu que abandonaria o uso do carro próprio caso tivessem outras opções de transporte para ir e voltar do trabalho.
A mobilidade é um tópico essencial na vida dos profissionais, e é fato que a distribuição dos centros de trabalho ajuda a desafogar as áreas saturadas. Quando há novas alternativas de escritórios e centros comerciais espalhados por bairros antes vistos como unicamente residenciais, surgem novas perspectivas de uma cidade mais fluida e menos atribulada.
É claro que os coworkings com milhares de metros quadrados nas imediações da Avenida Paulista continuam tendo seu público, mas, muita gente, principalmente em um cenário pós-pandemia, busca tranquilidade para trabalhar perto de casa, mesmo que isso signifique a simplicidade de um coworking menor ou com menos fama no mercado.
Mobilidade é qualidade de vida, é mais tempo para passar com a família, mais tempo para investir nos estudos ou em um hobby, menos carga de estresse em um trânsito caótico e mais economia no fim do mês (e da vida!).
É hora de se conectar com seu bairro
Já falamos sobre o futuro do trabalho ser híbrido, até porque ele é mais sobre como se trabalha do que onde se trabalha. É um momento onde as empresas passam a se importar mais com qualidade do que quantidade.
Não importa tanto se você passou o crachá no ponto eletrônico, mas sim se você conseguiu entregar todas as demandas da semana – e se pôde entregar tudo antes do prazo, melhor, aproveite a sexta-feira para começar o fim de semana mais cedo! E, por afetar na sua qualidade de vida, a flexibilidade na mobilidade impacta até no seu rendimento diário.
Com o home office em cena por conta da pandemia causada pela Covid-19, também aumentou a conexão das pessoas com seus bairros, uma vez que não dava para ir muito longe. Embora o cansaço do home office já comece a dar as caras, a relação com o bairro e o desfrutar das conexões locais só tende a melhorar.
“quanto mais perto de casa, melhor”.
Muita gente entendeu que não é preciso ir até o centro da cidade e se deslocar por longas distâncias para fazer as tarefas do dia a dia. O mercado, a farmácia, a pet shop, a academia, tudo entrou na categoria “quanto mais perto de casa, melhor”. E com o escritório vai funcionar da mesma forma. Para quê pegar trânsito ou passar sufoco para estacionar em regiões super movimentadas se dá para ir para o coworking a pé ou de bicicleta?
No último ano muita gente descobriu restaurantes, lojas e outros estabelecimentos que sempre estiveram ali, mas que não eram percebidos porque vivíamos com a cabeça longe. Então, daqui pra frente é hora de incentivar o consumo local e de desfrutar tudo o que o seu bairro tem a oferecer.