Você já reparou como o mercado de coworking vem aderindo aos escritórios híbridos? Isso é fruto de uma mistura de diversos componentes, como a especulação imobiliária, a economia colaborativa, a busca por custos mais eficientes e a necessidade de praticidade.

O fato é que podemos observar, no Brasil e no restante do mundo, o surgimento de espaços que não são apenas coworkings, unindo duas ou mais funções. Além de aliar funcionalidades, amenidades e serviços distintos, é possível perceber que ambientes vêm se reinventando.

Já tínhamos falado por aqui sobre coworking híbrido para tocar guitarra ou estar com os filhos, mas agora o mercado está indo além.

Híbridos de verdade

Na nossa visão, um coworking é mais que um espaço com mesas e cadeiras onde várias pessoas trabalham juntas. Para a gente, a solução se trata de networking, de oportunidades e de criar uma experiência positiva, que valorize o trabalho.

É por isso que o conceito de coworking híbrido, na verdade, pode ser amplo. Não se trata apenas de um restaurante com área de coworking ou de um hotel que transforma alguns quartos em local de trabalho.

O espaço desse tipo reúne diversos serviços e traz funcionalidades diferentes, que vão além da reprodução de um ambiente de escritório compartilhado. A visão do mercado para escritórios híbridos hoje consiste em unir elementos que criam uma abordagem diferenciada, atendendo às novas necessidades e expectativas dos coworkers.

Transformando os espaços e a economia

Para entender melhor como o mercado enxerga essa possibilidade, fomos falar com quem vive o coworking híbrido todos os dias. Foi assim que chegamos ao GUAJA, de Belo Horizonte.

O local seguia uma proposta tradicional, como conta Stella Nardy, responsável pela comunicação do espaço. Hoje, o ambiente se reinventou e oferece novas possibilidades.

“A ideia do GUAJA veio a partir da vontade de fortalecer a economia criativa em Belo Horizonte. Antes de sermos GUAJA, éramos Guajajaras Coworking, que seguia um modelo mais tradicional. As paredes do escritório já não comportavam toda a potência de nossos projetos e da nossa comunidade”, conta Stella.

Cientes de que era necessário ir além do que já vinha sendo feito na capital mineira, o coworking decidiu entrar no mercado para escritórios híbridos.

“A partir daí, buscamos um novo local — um casarão modernista que tem, além de toda a estrutura de um bom coworking, áreas ao ar livre e outros espaços e serviços que estimulam a criatividade e produtividade dos coworkers. Foi uma forma de potencializar nossa entrega para a cidade, e funcionou! Fomos o primeiro café-coworking do Brasil”, relembra.

A história recente e já bem-sucedida do GUAJA mostra como é possível ser híbrido com soluções eficientes e que trazem uma nova proposta para quem recorre a esses ambientes.

A ideia central é ser mais que um lugar que apresente elementos relacionados ao trabalho e criar oportunidades de interação e integração. E é exatamente assim que o coworking se vê, conforme diz Stella:

“Minha visão é essa: um espaço que se propõe a ser coworking tem que seguir esse propósito a fio, tem que fazer valer o conceito. Se a entrega é positiva, então ser híbrido significa agregar serviços à experiência dos clientes. Vejo como uma forte tendência no mercado”.

Consolidação de mercado

O case de sucesso do GUAJA demonstra a expansão e o amadurecimento do mercado para escritórios híbridos. E a ideia é que essa proposta se torne cada vez mais forte. Na visão de Stella, por exemplo, essa é uma tendência de mercado que veio para ficar.

Guaja, Belo Horinzonte guaja.cc

Hoje, o coworking híbrido tem se mostrado como uma espécie de evolução ou nova onda de escritórios compartilhados. Depois da explosão dos ambientes tradicionais, os coworkers querem mais — até para que seja possível trocar o home office, ainda que por alguns dias na semana.

É por isso que tem se fortalecido a ideia de “casa fora de casa”, em que o coworking passa a oferecer serviços e locais que atendem a necessidades além do trabalho. Ter a oportunidade de comer bem ou de se divertir em um mesmo espaço promove o melhor aproveitamento para o ambiente como ponto de encontro.

A consolidação dessa nova proposta da economia colaborativa também pode ser positiva para todo o ecossistema e criar transformações profundas na forma como esses lugares são utilizados. Tudo isso mostra que eles vieram para ficar e para somar, podendo atrair novos coworkers e fidelizar os atuais, na forma de construção de comunidade.

Os espaços híbridos reúnem pessoas de diferentes áreas de atuação no mesmo lugar.

“Esses espaços agregam uma grande diversidade de pessoas, de diferentes áreas de atuação e lugares e que acabam se encontrando por conta de, por exemplo, um café. Esse nicho tem muito potencial tanto de ser um modelo sustentável de negócio, quanto de ser algo valioso para a comunidade”, comenta Stella.

Aproveitando o poder do comércio local

Depois de conhecer a história do GUAJA, fomos buscar a experiência de quem também tem experiências com uma atuação híbrida e integrada. Foi por isso que conversamos com João Marcos Guirau, fundador da Blocktime.

Como ele conta, a inspiração surgiu com o que outros países já vinham fazendo nesse sentido.

“Minha relação com um espaço híbrido já tem algum tempo. Primeiro, veio quando estudei os conceitos de fachada ativa na faculdade de arquitetura. Sempre vi que pequenos comércios têm o potencial de atrair pessoas, e isso é bom tanto pros negócios em volta como para segurança.

À esquerda João Marcos Guirau, fundador da Blocktime.

O segundo insight veio na pesquisa de montar a Block e descobri o Coworkshop, na França. Sempre usei ele como referência e o café faz parte do conceito.

Então, quando tive a oportunidade de ir para New York e, depois, para a Europa, vi alguns espaços se apropriando desse conceito com ótimos cases. Até mesmo a própria Starbucks”, relembra.

A partir daí, João projetou cafés com salas de reunião rotativas e chegou a ver alguns pontos, mas não levou o projeto à frente por questões financeiras. Tudo mudou quando ele recebeu uma proposta.

“Quando uma amiga me procurou para fazer a reforma da loja de açaí, eu vi potencial no espaço porque era grande demais para ser apenas loja e ela queria fazer um acesso todo separado para alugar as salas. Foi assim que eu apresentei para ela o conceito e entrei na jogada.

Agora, vamos implementar a cafeteria trazendo o café da minha família do interior e dando visibilidade à marca. Assim, temos um espaço multifuncional que pode atender pessoas de diversas formas, seja para um café rápido, uma refeição balanceada ou um espaço de trabalho”, conclui.

Integração para formar ecossistema

Quando falamos de espaços híbridos, também é importante pontuar que cada um tem uma experiência e uma visão sobre o mercado e suas oportunidades. Então, o coworking híbrido costuma ser visto de diversas maneiras. Uma dessas visões quem conta é o Matias Vazquez, do Sharing EC, um dos mais tradicionais espaços de São Paulo.

“A gente chama isso daqui de prédio multiuso. Então, a gente tem aqui dentro coworking, a aceleradora, a gente tem essa parte da faculdade do Arizona, a gente está montando um espaço zen que é pro pessoal fazer ioga aqui de manhã”, inicia.

A ideia híbrida, entretanto, não é vista como novidade por ele, que lembra que o mercado já viu esse movimento em outras oportunidades. Especialmente diante da pandemia, a alternativa tem ganhado destaque.

“Na realidade, a questão híbrida não é uma coisa nova. Há uma sublocação de espaços vazios para aproveitá-los ao máximo e diminuir o prejuízo. Antes, lá em 2015 e 2016, você chamava esse pessoal para aumentar a sua rentabilidade. Agora, você tá fazendo o contrário, você tá chamando essas pessoas para diminuir o seu prejuízo”, pontua.

Na visão de Matias, unir vários serviços no mesmo espaço não é a única possibilidade.

Também é possível pensar em criar um verdadeiro ecossistema, baseado na integração.

“Se o ambiente faz parte de um ecossistema, aí sim, a gente chama de um espaço híbrido, porque eles se complementam. É diferente quando é do mesmo dono, como é o nosso caso, então ela já faz parte de todo um ecossistema”, argumenta.

Entrega de valor de forma híbrida

Para a CEO do Clube de Negócios, Laura Gurgel, a relação com espaços híbridos envolve inovação, disrupção e, também, valor agregado aos coworkers.

“Eu entendo que estar em um ambiente diferente ajuda a sair da sua zona de conforto e eu acho que alguns modelos de espaço têm futuro. A gente viu, por exemplo, o O’Malleys, fazendo coworking no bar”, conta.

Ao mesmo tempo, ela faz ressalvas sobre os movimentos que temos observado no período da pandemia, como hotéis que transformam seus quartos em possíveis escritórios.

“Agora, particularmente, eu entendo que esses modelos, por exemplo, nos hotéis, é meio surto de mercado, é, tipo ‘preciso fazer dinheiro, vou tentar ocupar esses espaços agora, até tudo voltar ao normal’”, aponta.

Independentemente dessas questões, Laura enxerga pontos positivos tanto para os founders quanto para os coworkers, o que pode ajudar a explicar o sucesso no mercado.

“O lado bom é que tira os fundadores da zona de conforto, a galera para de pensar dentro do quadrado e, ao mesmo tempo, faz com que o coworking acabe caindo nas graças do público. Às vezes alguém tá no coworking, por exemplo, de academia e percebe que não faz sentido para ele, mas faz sentido um coworking normal ou padrão”, exemplifica.

Acima de tudo, ela enxerga a necessidade de os founders criarem valor para atrair coworkers e, principalmente, mantê-los por perto. É dessa forma que é possível construir uma comunidade e mesmo viabilizar o modelo de negócio.

“O Clube de Negócios por por si, é um hub de inovação. A gente trabalha outros processos, a gente tem um braço educacional muito forte de acompanhamento, de consultorias e o coworking acaba sendo uma consequência. Então, é uma questão de você achar seu público e entender como esse público funciona e trabalhar em prol disso. Buscamos entender como podemos trazer mais valor para esses caras?”, aponta.

Para que os espaços híbridos sobrevivam e se consolidem, Laura aponta a necessidade de criar uma proposta que realmente favoreça os resultados dos coworkers.

“A minha única grande preocupação com relação a isso é que talvez esses espaços não criem culturas empreendedoras saudáveis ou culturas adequadas para isso.

Por exemplo, o bar tem cadeiras confortáveis? O bar está ali só para vender bebida? Não é todo mundo que tem maturidade para lidar com isso. Em alguns casos, tem hora que o valor cessa. Então, a questão envolve ser capaz de continuar entregando valor e como fazer desse ambiente um ambiente saudável para todo mundo que está envolvido”, encerra.

Crescimento no Brasil e no mundo

De acordo com dados do “Global Coworking Growth Study”, referente a 2020, prevê o alcance de quase 42 mil espaços de coworking no mundo até 2024, contra pouco mais de 19 mil ao final de 2020.

A previsão abrange todas as regiões e inclui países como o Brasil, com suas quase 1500 operações. Na prática, o mercado de coworking híbrido contribui para o crescimento, já que há mais espaços disponíveis que podem ser usados de forma colaborativa.

Inclusive, esse avanço híbrido está consolidado para os próximos anos. Até 2022, a expectativa é que ambientes flexíveis de trabalho cresçam 6% ao ano nos Estados Unidos e 13% anualmente em outros países.

Então, podemos entender que essa integração é mais que uma tendência. É, principalmente, uma evolução na maneira de trabalhar e interagir com os ambientes, permitindo que essas novas soluções ganham tração.

O mercado de escritórios híbridos está aquecido pelas transformações de comportamento e de necessidades dos coworkers e das configurações dos negócios físicos. Então, é possível observar uma oportunidade cada vez mais forte na oferta de um coworking híbrido, visando o máximo aproveitamento de espaços!

Para ficar por dentro de opções que podem estar pertinho de você, conheça os destaques do mês sobre os espaços híbridos!