90 dias de home office após 9 anos de coworking
Uma narrativa sobre os contrastes e o que sinto mais falta da minha rotina desde a mudança do coworking para o home office.
Este artigo foi escrito por
Fernando Aguirre.
Acordar pela manhã e tomar café antes de sair. Não que eu tenha deixado de tomar café, mas é diferente quando não tenho que pensar se está chovendo ou tem sol. Tenho até tentado me vestir normalmente, sabe? Como se estivesse preparado pra sair. Mas às vezes são pequenos detalhes que fazem com que eu não me sinta “pronto” para o trabalho. Como o par de tênis que ficou na porta, e agora acabo trabalhando sem calçado.
A sensação de sair do elevador e tomar o primeiro raio de sol na cara. Dar uma olhada ao redor, ver o comércio abrindo timidamente, ainda sem movimento. Os restaurantes recebendo fornecedor, o pessoal tomando café na padaria.
O metro, pegava por opção. Poderia trabalhar no coworking logo em frente de casa, mas gosto de ter estes trinta minutos de deslocamento. São importantes para esvaziar a mente, e efetivamente virar a chave: “Work mode activate!”. Aproveito pra dar uma passada de olho nos e-mails mais urgentes, e ver a pauta do time. Teve alguma notificação que perdi desde ontem à noite?
Ah, esse é meu período favorito pra ouvir podcasts também. Meia hora pra ir, meia hora pra voltar e o episódio do dia está completo. Sempre aprendo algo novo. Agora, em casa, faz um tempo que vejo a pilha de podcasts só aumentando.
O escritório
Um bom dia com sorriso sempre animava. Minha mesa estava lá, organizada, pronta pro trabalho. Em um lado meu bloco de notas com as tarefas do dia. Do outro, um mimo qualquer que o pessoal do coworking deixou. Adorava quando eles faziam isso. Pode ser um bombom, um bilhetinho. Uma vez ganhei um par de ingressos pra um jogo do Benfica. Nem era torcedor do time, mas foi super divertido.
Sabe o que não encontro ao chegar? Roupa espalhada, louça pra lavar. Nada da minha desorganizada vida pessoal está lá. É foco 100% no trabalho, nos projetos que estou desenvolvendo.
O que faz barulho, normalmente, é aquele seu colega sem noção que atende o telefone no viva voz do seu lado.
Aos poucos o pessoal vai chegando e o espaço vai ganhando vida. As pessoas tendem a pensar que espaços de trabalho compartilhado são muito barulhentos, mas a verdade é que raramente todas as estações de trabalho estão ocupadas ao mesmo tempo. O que faz barulho, normalmente, é aquele seu colega sem noção que atende o telefone no viva voz do seu lado. Isso já aconteceu comigo. Aqui a importância do community manager ficar atento e sempre reforçar as regras de boa convivência.
Mesmo assim, eu te garanto. Nenhum colega barulhento supera a sua casa cheia, principalmente quando todos os vizinhos estão no prédio. As crianças brincando o dia todo no playground lá embaixo, com toda aquela felicidade escalando as paredes até o 7º andar como se fosse mágica. A obra ao lado do seu condomínio funcionando a todo vapor. Dizem que a economia não pode parar. E claro, aquela máquina de lavar que você ligou pra aproveitar que “estava em casa”.
Nossa, já é meio dia, hora do almoço! Saudade de escolher onde eu ia almoçar. O pessoal vai junto ou é cada um por si hoje? Outro dia o cara novo que trabalha com marketing me convidou pra almoçar, mas eu não podia. Talvez deva devolver o convite. Opa, hoje ele não veio, que pena. Quer saber, o dia está meio corrido mesmo. Eu vou dar um pulinho ali no Mc e comer algo voando, consigo voltar em meia hora.
Mentira, estou em casa. A escolha é se almoço na mesa ou no sofá. Só de lembrar que tenho toda essa louça pra lavar depois já desanimo.
Reunião das 14h
Toda segunda, 14h eu tenho reunião. É bom que esse horário já ficava bloqueado na agenda do coworking, então sabia que uma sala de reuniões estava sempre disponível. Dependendo do tipo de conferência, a estrutura muda. Se preciso fazer por vídeo, ter um local com um fundo neutro, bom isolamento acústico e internet mega estável é importante. Passa muita credibilidade pro cliente. Mas a call de hoje vai ser mais rápida, é apenas um alinhamento. Essas eu fazia no sofá do lounge mesmo. Por outro lado, se era um assunto mais sensível, sempre preferia usar uma das cabines telefônicas. Privacidade é algo que temos que levar em conta.
Exemplo de lounge, na Tato Coworking
Eventualmente, quando voltava pra mesa, outra surpresa. Em cima, do lado do monitor, descansa uma caixa de traquitanas que comprei da Amazon. As meninas receberam pra mim e avisaram que chegou ontem, quando eu já tinha ido embora do coworking. Adoro não precisar me preocupar se tem alguém “em casa” pra receber as encomendas. Sempre mandava pro espaço. Olha aí uma vantagem de não sair de casa. Se chegar algo do correio, vou estar aqui pra receber.
Toca o interfone. É a portaria, dessa vez do prédio que moro. Realmente chegou algo e tenho que descer pra buscar. Droga, estava no meio da reunião ainda. Queria que eles pudessem receber por mim.
Aliás, preciso enviar o contrato pro cliente pelo correio. Deixa só eu imprimir e assinar. Nossa, esqueci de comprar envelope. Será que alguém tem pra me emprestar? Claro que alguém sempre tinha lá no espaço. Uma vez um colega inclusive se ofereceu pra levar pra mim ao correio, ele já estava indo lá de qualquer forma. Perfeito!
São 16h, olho pro lado: a parede continua branca. Nada acontece.
Se estivesse no coworking, tenho certeza que veria todos trabalhando empolgados. Lá é todo mundo empreendedor, todo mundo batalhando pelo seu sucesso. Ninguém tá só batendo ponto. Isso deixa uma vibe incrível no espaço, sabe? Nada daquela moleza depois do almoço. A galera tá sempre na ativa, acelerada. Se não fizer virar, ninguém vai fazer pra eles. Então é foco total nos projetos.
São 16h, olho pro lado: a parede continua branca. Nada acontece.
Isso, é claro, também tem um lado ruim. Como cada um está em uma fase diferente, com experiências diferentes, atuando em um mercado diferente, às vezes é meio difícil se conectar. Sabe aquela vitória incrível que você teve? Aquele super cliente que conquistou? Ninguém mais faz a menor ideia do que você está falando. Certamente não é o local onde você vai ter um “sino da vitória” pendurado na parede esperando pra tocar. Apesar de já ter ouvido histórias de quem levou o seu próprio. Parece que não terminou bem.
Pelo menos aqui em casa posso badalar meu sino em paz. Putz, caiu a internet de novo. Segunda vez hoje :/
Happy hour, claro
Toda quinta o pessoal do espaço fazia uns eventos interessantes. Confesso que não participava de todos, mas é sempre legal ver gente nova por perto. Assuntos diferentes sendo abordados. Fora que sempre rola uns comes e bebes pra gente petiscar. Mas hoje não é quinta, é sexta! Então os “mais chegados” davam um pulinho no pub da esquina.
O papo era o mais aleatório possível. Cada um com as suas histórias, suas referências. Diferente do tempo de CLT, ninguém tem o mesmo chefe pra ficar reclamando. Então as conversas acabam sendo mais interessantes.
Um tempo atrás conheci um pessoal que trabalhava com recrutamento de profissionais de TI para a Europa. Indiquei o contato de um amigo, ambos ficaram super felizes. Espero que tenha dado certo.
Voltar pra casa
Antes de voltar ao metrô, passava no mercado em frente ao escritório. Tinha ótimas opções por lá, é uma zona bem comercial. A janta ficava garantida.
Essa vantagem de poder escolher o horário que pego transporte público é incrível. Se fosse obrigado a pegar o metrô às 18h, eu certamente evitaria. Agora, quase 20h, já está tranquilo. No retorno pra casa é uma batalha pra “desacelerar” e esquecer os perrengues do dia. Será que a temporada nova de Better Call Saul já estreou na Netflix?
Chegando em casa, encontrava pessoas queridas. Já tinha dado tempo de ter saudade. Foi uma semana corrida, tenho algumas novidades legais que quero contar. Depois é janta, um pouco de Youtube e, talvez, lavar aquela roupa que deixei espalhada mais cedo. Amanhã é sábado, e não preciso trabalhar. Apesar de que o notebook está logo ali, me olhando. Sinto falta de quando “esquecia” o notebook no coworking 😉
Grade abraço,
Fernando Aguirre
PS: É difícil, mas #fiqueEmCasa.