Alguns dias atrás nós divulgamos o Censo Coworking Brasil 2018. Esse projeto tem o desafio de mapear os espaços de trabalho compartilhados do país inteiro, e apresentar um número final que reflita o panorama daquele ano.
Desde que nós assumimos a produção do estudo (as duas primeiras edições foram produzidas pelo Movebla), eu aprendi duas coisas muito importantes sobre o cenário coworking brasileiro:
- É impossível ter um número exato de espaços de coworking ativos.
- As vezes é muito difícil identificar se uma determinada iniciativa é um coworking ou não.
Explico:
No ritmo que estamos crescendo no momento, nos últimos 12 meses abriram 1,6 espaços de coworking por dia no país. Isso quer dizer que no dia seguinte após o Censo ser divulgado, o número já estava desatualizado. E lembre-se, diversos escritórios fecham mensalmente também.
Mas esse é o problema mais fácil de resolver. O Censo não é feito para oferecer apenas um único número, ele tem o objetivo de mostrar o cenário geral, a evolução do mercado como um todo. Nesse sentido, mesmo que nunca 100% preciso, o estudo traz uma coleção de dados riquíssima para quem deseja entender este negócio.
O problema realmente difícil de resolver vem agora:
O que é um coworking?
Essa é uma pergunta básica, que eu escuto todos os dias. E você deve imaginar que pra quem está envolvido nessa cultura há 9 anos é simples e fácil de responder, certo? Não, não é.
A parte mais difícil e trabalhosa do Censo é quando a gente senta pra fazer a análise dos dados coletados. Filtrar aqueles locais que realmente são ambientes de coworking dos que só levam isso no nome.
- Esse shopping com “área coworking” entra?
- Esse “coworking” só com salas privadas entra?
- E esse business center de 10 andares e só 5 estações compartilhadas?
- Caramba, olha esse café que permite você ficar o quanto quiser e investe em internet estável.
- Olha, esse evento vai ter um espaço coworking temporário, será que entra?
Pra que esse filtro seja possível, é preciso definir critérios claros de corte. Aquelas características mínimas que o local deve oferecer para que seja considerado um coworking. E eu venho trabalhando ano após ano em refinar esse critério. Na verdade, escrevo esse texto inspirado no artigo do Ryan Chatterton, da Coworking Insights, justamente para abrir quais são os critérios utilizados pelo Coworking Brasil na hora de definir um espaço de coworking.
Mas antes, é importante você lembrar que estes são os requisitos mínimos, não os ideais. Funciona assim: se você vai em uma padaria, o mínimo que você espera é poder comprar um pão, certo? Leite, bolo, café é tudo bônus.
Na nossa visão, se uma pessoa for para um espaço de coworking, o mínimo que ela deve encontrar é:
- Um local onde ela possa desenvolver sua atividade profissional. Seja por um curto ou longo período.
- Este espaço deve ter ao menos uma área compartilhada entre diversas pessoas. Essa área deve ser de acesso público, mas não necessariamente livre. Ou seja, critérios para acesso podem ser empregados.
- Estas pessoas também devem estar lá para fins profissionais, e não podem pertencer todas ao mesmo grupo.
Partindo destes três pontos chaves, e assumindo que não exista nenhum tipo de restrição as pessoas conversarem entre si (o que exclui a maioria das bibliotecas, por exemplo), nós asseguramos que as condições mínimas para o “co”, estejam presentes durante o “working”. No entanto, apenas isso é pouco. É muito muito, muito pouco.
Ainda assim, estes são os critérios que nós utilizamos durante a produção do Censo. Não cabe ao Coworking Brasil julgar o que é bom ou ruim. O que é certo ou errado. Pra nós, fica a missão de conhecer e estudar o mercado, entender como ele se comporta, sugerir caminhos e incentivar o seu desenvolvimento de forma sustentável. O resto é orgânico, é imprevisível e é muitas vezes surpreendente.