Espaços de coworking continuam se multiplicando loucamente ao redor do mundo. Durante a coleta de dados para o Censo do ano passado, nós nos deparamos com um dilema importante: o que define um coworking? Qualquer espaço que coloca coworking no nome pode ser um coworking?
A resposta curta é sim. Qualquer espaço pode ser um espaço de coworking. Mas existe também uma resposta longa e muito mais complexa.
Do ponto de vista da cultura coworking, qualquer ambiente que reúna duas pessoas ou mais é o suficiente pra que exista a oportunidade de “fazer coworking”, como uma ação. Tudo que é necessário são pessoas dispostas a compartilhar experiências e ajudar uma a outra a se desenvolver.
Esse processo pode acontecer em um ambiente de 500m², com salas de reunião, cadeiras ergonômicas e eventos de networking semanais ou mesmo aí na sala da sua casa. Os primeiros espaços de coworking, aliás, surgiram em ambientes residencias. Estranhos abriam a porta dos seus lares para outros estranhos participarem do seu dia a dia no home office.
Com o tempo o pessoal percebeu que seria mais eficiente se as reuniões ocorressem em locais mais adequados, com uma estrutura que facilitasse o dia a dia dos negócios que estavam acontecendo, e então chegamos ao modelo de coworking comercial, tratado como um negócio.
No entanto, você realmente não precisa de muita coisa para criar o seu próprio espaço de coworking. Você não precisa nem mesmo de paredes. Se você for capaz de reunir algumas pessoas no mesmo local, com o objetivo de compartilhar e contribuir para o crescimento mútuo, parabéns, você criou um espaço de coworking. Indiferente se é na sua casa, na cafeteria ou no parque.
Coworking como negócio
Então chegamos na parte complexa da resposta. Existe uma grande diferença entre você montar um espaço de coworking e montar uma empresa que atua no segmento de coworking. Uma coisa é as pessoas se reunirem para trocar ideias, outra é elas entenderem o valor disso e estarem dispostas a pagar por essa conveniência.
Quando você quer construir uma empresa que oferece um espaço físico como um facilitador do processo de coworking (vulgo espaço de coworking), você tem muito mais preocupações a pensar do que simplesmente atrair este público.
Você precisa entender o que eles precisam, como eles precisam e quanto estão dispostos a pagar por isso. Esse é um processo muitas vezes complicado, porque pessoas são diferentes, e têm objetivos e necessidades completamente diferentes umas das outras.
E apesar de não ter resposta certa, eu posso te garantir que quando alguém busca o seu espaço, ela não está interessada em saber sobre como é o seu imóvel. Ela quer saber sobre o que acontece dentro dele. Seja esse imóvel um prédio novinho, um casa na periferia ou mesmo um barco no canal.
A crise imobiliária brasileira
Nos últimos meses o Brasil foi pego por – entre outras coisas – uma crise imobiliária bastante significativa. A quantidade de imóveis de todos os tipos e tamanhos que está disponível no mercado é impressionante.
Pra economia, isso é um mau sinal de forma em geral. Mas para o nosso mercado, pode ser uma oportunidade bastante interessante. Conversando com founders ao redor do Brasil é possível perceber como essa crise acaba ajudando no poder de negociação na hora de fechar um contrato com um imóvel.
Já ouvi sobre espaços que conseguiram meses de isenção de aluguel no início do contrato.
Muitas vezes, imobiliárias com grandes imóveis comerciais – parados há meses ou mesmo anos – acabam vendo uma boa oportunidade de movimentar seu ativo ao fazer uma parceria com um espaço. Seja já existente ou novo.
Já ouvi sobre espaços que conseguiram meses de isenção de aluguel no início do contrato, ou mesmo isenção por período indeterminado em troca de percentual dos lucros. É a velha história: enquanto uns choram, outros vendem lenço.
Essa pode ser uma ótima oportunidade pra você procurar um local com muito carinho. Se possível, visite outros espaços antes de fechar um contrato. Veja o que faz sentido e o que é ruim na estrutura interna desses locais.
Um erro muito comum que eu vejo acontecendo aos montes é o espaço não ter estrutura para uma boa área de convivência entre os coworkers. Ou as vezes até tem, mas fica lá no fundinho, isolada. Pra mim, área de convivência deve preferencialmente ficar na entrada do espaço. Assim você acaba “forçando” os seus coworkers a todo dia, logo na chegada, conferirem o que está rolando.
Imóvel vago = espaço de coworking
Claro que as próprias imobiliárias não ficaram de braços cruzados ao verem muito de seus inquilinos trocando a sala comercial pelo espaço compartilhado, agravando ainda mais a crise. Tenho visto cada vez mais empresas imobiliárias enchendo suas salas de mesas e cadeiras e pendurando uma placa de coworking na porta.
Esse movimento é complicado. Por um lado irrita profundamente aquela parcela do mercado que se esforça diariamente para construir um espaço que além de ter uma placa, pratica o que diz nela. Por outro, traz resultados duvidosos para quem abre uma empresa assim.
Porém, não é algo que eu condeno e que acredito que deveria ser impedido. Não, de forma alguma. Acredito que é um movimento que deve ser cada vez mais debatido e trabalhado para que todos ganhem. Já existem no país algumas consultorias especializadas na gestão de espaços de coworking, que têm um bom potencial de ajudar quem está com um imóvel vago. Também já começaram a surgir as primeiras franquias do segmento, que, bem ou mal, pelo menos já trazem um know-how para o negócio.
Pra quem não faz ideia de por onde começar, mas não quer deixar o imóvel parado, pode ser uma boa opção.
O imóvel ideal para coworking
Então, qual o espaço ideal para instalar um coworking? Qual a metragem mínima? Qual a localização? Casa ou prédio?
Bom, você até pode ir no nosso estudo anual e obter parcialmente essa informação. Você pode, por exemplo, filtrar os resultados para ver apenas as respostas dos espaços que estão indo bem e já planejam expansão para o futuro. Isso vai te dar uma visão bastante técnica sobre como estes locais estão estruturados. Porém, coworking não é sobre questões objetivas. Na verdade, a maioria das pessoas liga muito pouco para como é o seu imóvel.