Empreendedorismo virou uma das palavras mais vistas e debatidas na última década. Ao redor do termo, formou-se uma grande aura de glamour e admiração. Afinal, quem não quer ser bem-sucedido fazendo algo que se ama? Essa é a imagem que as pessoas visualizam quando se fala sobre empreendedores, mas não imaginam que também existe um lado obscuro nessa trajetória. O preço psicológico do empreendedorismo é caro, e precisamos falar sobre ele. 

O texto e as reflexões do texto de hoje surgiram a partir de um artigo muito interessante, escrito por Jessica Bruder em 2013, que você pode conferir aqui. Mesmo com quatro anos já, o conteúdo aborda pontos tão relevantes e que ainda carecem de debate. Ao longo do texto iremos usar algumas aspas retiradas diretamente do artigo, mas traduzidas para o nosso bom e velho português. 

A grama do vizinho não é mais verde

Ao observarmos jovens que alcançaram sucesso internacional antes dos 30 anos, idealizamos e até mesmo idolatramos essas pessoas. Mas, o quanto realmente sabemos delas, além do que vemos na Forbes Magazine? 

“Empreendedores bem-sucedidos alcançam status de heróis na nossa cultura. Nós idolatramos os Mark Zuckerbergs e os Elon Musks. E nós celebramos o crescimento extremamente rápido das empresas. Mas muitos desses empreendedores abrigam demônios secretos: antes de eles se tornarem famosos, eles lutaram contra momentos de ansiedade e desespero — em tempos em que as coisas pareciam que iriam desmoronar.” 

Conduzir negócios totalmente inovadores e revolucionários não é nenhuma tarefa fácil. Imagine então quando esses grandes nomes à frente de startups precisam manter a pose de que tudo está indo bem, quando, às vezes, nem mesmo eles têm forças para acreditar no seu próprio trabalho e esforço. 

“Até pouco tempo, admitir tais sentimentos era tabu. Ao invés de mostrar vulnerabilidade, líderes empresariais têm praticado o que psiquiatras chamam de gerenciamento de impressão — também conhecido como ‘fingir até você conseguir’. Toby Thomas, CEO da EnSite Solutions, explica o fenômeno com a sua analogia favorita: um homem cavalgando um leão. ‘As pessoas olham para ele e pensam que ele é realmente bravo e corajoso!’, diz Thomas. ‘E o homem cavalgando o leão só consegue pensar sobre como é que ele foi parar em cima de um leão e como ele faz para não ser comigo pelo leão?'” 

A angústia está muito mais presente do que imaginamos

Porém, todo o desespero desse grupo começa a aparecer em manchetes que não gostaríamos de ler. Aos 22 anos, Ilya Zhitomirskiy, co-founder da rede social Diaspora, cometeu suicídio, bem como Jody Sherman, fundador do e-commerce Ecomom, aos 47 anos. Os sinais começaram a aparecer. 

“Ultimamente, mais empreendedores começaram a falar sobre suas lutas internas na tentativa de combater o estigma da depressão e ansiedade que tornam difícil de procurar ajuda. Em um post profundamente pessoal intitulado “Quando a morte parece uma boa opção’, Ben Huh, CEO da Cheezburguer Network, escreveu sobre seus pensamentos suicidas após a falha de uma startup em 2001. Sean Percival, ex-vice-presidente do MySpace e co-founder da startup de roupas de criança Wittlebee, escreveu em seu site o texto ‘Quando não está tudo bem, peça ajuda’. ‘Eu estava no limite neste último ano com o meu negócio e a minha própria depressão’, ele escreveu. ‘Se você está prestes a se perder, por favor, contate-me.'” 

Não são poucos os empreendedores com sintomas de ansiedade. Com alguns casos começando a aparecer, mais e mais nomes revelaram que também sofriam com silenciosos demônios. Distúrbios mentais e emocionais são bastante comuns, principalmente para pessoas que estão no início de seus empreendimentos, naquela fase em que ainda não se sabe se as apostas vão dar muito certo ou muito errado. 

“Empreendedores muitas vezes conciliam muitos papeis e enfrentam muitos contratempos — clientes perdidos, disputas com sócios, aumento da concorrência, problemas de staff — tudo isso enquanto lutam para fazer a folha de pagamento. ‘Há eventos traumáticos ao longo da linha’, diz o psiquiatra e empresário Michael A. Freeman, que está pesquisando sobre empreendedorismo e saúde mental.” 

Precisamos falar sobre a saúde mental dos empreendedores

Tocar um negócio é estressante e pode acabar gerando turbulências emocionais. Por isso esse debate é tão importante, para que os empreendedores saibam que nem tudo são flores e que as dificuldades irão aparecer ao longo do caminho. Parar de glamourizar o empreendedorismo e alertar os profissionais para as incertezas é essencial para que, quando a crise pegar, eles compreendam que não são os únicos e que devem procurar ajuda. 

“Para complicar as coisas, novos empreendedores muitas vezes fazem-se menos resilientes por negligenciar sua saúde. Eles comem demais ou comem pouco. Eles não dormem o suficiente. Eles falham em se exercitar. ‘Você pode entrar em um modo de startup, onde você se esforça demais e abusa do seu corpo’, diz Freeman. ‘Isso pode disparar o gatilho da vulnerabilidade.'” 

Existe outro ponto bem delicado nesta questão: de acordo com pesquisadores, muitos empresários compartilham traços de caráter inato que os tornam mais vulneráveis a mudanças de humor. 

“‘As pessoas que estão do lado energético e também do lado criativo são mais propensas a ser empreendedoras e mais propensas a ter estados emocionais fortes’, diz Freeman. Esses estados podem incluir depressão, desespero, desesperança, sentimento de inutilidade, perda de motivação e pensamentos suicidas.” 

De acordo com um estudo da Universidade de Tecnologia de Swinburne, na Austrália, os donos de negócios podem ser mais vulneráveis ao lado negro da obsessão. A partir de entrevistas, os pesquisadores descobriram que os empreendedores mostravam sinais de obsessão clínica, incluindo fortes sentimentos de angústia e ansiedade. Ou seja, a mesma paixão de fazer o negócio acontecer pode ser a responsável por consumi-los. 

“Os empreendedores têm lutado silenciosamente. Há uma sensação de que eles não podem falar sobre isso, que é uma fraqueza.” 

 

Para finalizar essa conversa tão necessária, deixamos aqui alguns conselhos básicos para uma melhor sobrevivência. Tente levar uma vida saudável, cuidando da sua alimentação e do seu sono e, se possível, insira em sua rotina alguns exercícios. Mantenha a família e os amigos por perto, eles são uma arma importante quando os primeiros sinais de depressão e/ou ansiedade aparecem. Fale sobre as suas angústias e procure ajuda quando sentir que não consegue lutar sozinho. 

E, lembre-se sempre: você é uma pessoa e não a sua empresa. Sua vida não está acabada porque um negócio não deu certo ou porque as coisas não estão fluindo como você imaginava. 

Mais uma vez indicamos a leitura completa do post da Inc., que possui inclusive dicas de especialistas especificamente para casos de empreendedores em crise. Confira aqui o texto! 

 

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