Disclaimer:“sobrinho” é o apelido carinhoso que profissionais das áreas de criação e tecnologia dão aos colegas iniciantes, que fazem trabalhos com qualidade amadora. Se você não conhece este termo, apenas substitua mentalmente por “trabalho amador”.

 

Ok, se você clicou para ler esse artigo, acredito que vai se identificar com um dos perfis abaixo:

Opção A – Você entendeu o título, provavelmente concorda, e veio confirmar sua visão de mercado: 

Ótimo! Nesse caso, me deixe ajudá-lo, pois você deve estar cheio de trabalho por fazer. O artigo todo é uma argumentação que justifica meu ponto de vista, que provavelmente você já percebeu também. Só sobrinhos reclamam de sobrinhos. Logo, sinta-se à vontade para pular para a próxima leitura do seu feed. Vou compreender completamente.

Opção BVocê veio ver quem é o cidadão que te chamou de amador sem nem ao menos conhecê-lo:

Nesse caso, com a sinceridade de um profissional que está há mais de 10 anos nesse jogo, peço que você dedique alguns minutos do seu dia e continue com a gente. No mínimo, este artigo vai fazer você refletir um pouco sobre sua carreira e lhe dar outro ponto de vista.

Deixo, no entanto, um alerta: você provavelmente não vai gostar do que vai ler. Afirmo, em letras garrafais (como diria nosso presidente interino), que em nenhum momento quero ofender o trabalho de outra pessoa. É apenas minha opinião sobre um assunto comum nos grupos e fóruns da web.

Se no fim você continuar não concordando, tudo bem. Sinta-se livre para me xingar nos comentários. 😉

Vamos lá

Me apresentar não é relevante para o assunto, mas vou pontuar alguns fatos que podem ser interessantes para contextualizar. Você pode conhecer mais sobre mim no meu site, se desejar.

Na verdade, sobre este último ponto existem controvérsias. Costumo separar nossos amigos em “sobrinhos” e “estudantes”. Ninguém nasce sabendo, e os primeiros trabalhos de todos são sempre ruins. Olhe meu primeiro portfólio. Vergonhoso, né?

Logo, quem está na fase inicial da carreira prefiro chamar de estudante em vez de sobrinho. Esteja matriculado em um curso ou não. O resultado prático do trabalho de ambos é o mesmo, com a diferença de que o estudante está em uma crescente de qualidade. O sobrinho está estagnado na carreira.

Descobrindo quem você é

Aqui vai uma dica simples para você identificar em qual das categorias você se encaixa. É apenas uma pergunta, testa aí:

De uma escala de 0 a 10, qual nota você daria para seu trabalho?

Se a sua nota ficou acima de 7, me desculpe, você provavelmente é um sobrinho.

Não queria ser o portador das más notícias, mas alguém precisa te dizer isso, já que seus amigos não falam. Seus professores não falam. Seus colegas de trabalho também não sabem como contar. Tive de ser eu.

A verdade é que, se seu trabalho realmente fosse nota 8, 9 ou 10, você não teria problema algum de competição com outros sobrinhos ou qualquer tipo de profissional. Inclusive não estaria aqui lendo e teria seguido minha dica lá de cima.

Por outro lado, se você tem a percepção de que ainda está aprendendo, que seu trabalho ainda não é tão bom assim, mas acredita que está evoluindo, tenho ótimas notícias: relaxe, você é apenas um estudante. Todos nós já passamos por isso. Continue o bom trabalho porque em breve o sol vai brilhar mais forte.

Shit, sou um sobrinho. E agora?

Calma, amigo, ser um sobrinho não é doença, mas tem cura. Na verdade, ser sobrinho é apenas um estado de espírito. Talvez você tenha sido corrompido pela grana fácil do início de carreira e achou que estava tudo bem. Afinal, ganhar 1.500 ou 2.000 por mês quando se tem por volta de 20 anos não é para qualquer área, certo? Você provavelmente ganhava mais que todos os seus amigos.

O problema vem quando você passa a pensar que já é um profissional porque está nessa estrada há dois ou três anos e que apenas é necessário dar tempo ao tempo para que o mercado o reconheça e o valorize. Você já não estuda com tanta frequência como antes. Parou de comprar livros e ir a eventos. Começa a pensar em “como produzir mais rápido” em vez de “como produzir melhor”.

Quase sem perceber, em pouco tempo está usando templates prontos que encontra na internet, que parecem bonitos e entregam rápido o job que caiu na sua mão. Resolvem o problema do cliente? “Ah, sei lá. Ele pediu um cartão de visitas e eu entreguei um bonito em 1h. Acho que sim.”

Nem sempre.

Outra possibilidade é você ter encontrado um lugar ao sol logo no início da carreira. Uma empresa que paga acima da média, que tem pouco trabalho, uma rotina tranquila. Nada daquela correria que seus amigos passam em agência. Nada de chefe reclamando. Todos elogiam seu trabalho, tudo sempre passa de primeira. Ninguém desafia sua opinião.

Essa, meu camarada, é a pior ratoeira que você pode colocar para sua carreira. E vai transformá-lo em personagem do DuckTales em pouquíssimo tempo.

A falácia da competição desleal

Depois de alguns anos, talvez você flerte com a carreira freelancer. Em vez de ganhar 2k ao mês como funcionário, vale mais a pena vender quatro projetos de 500, certo? Você ganha o mesmo e só precisa trabalhar algumas horas para instalar templates de WordPress.

Um belo dia você tenta vender seu trabalho honesto por 500 e tem aquela galera vendendo a 100. Pô, como o cara consegue vender 5x mais barato? Só podem ser sobrinhos, trabalho sem qualidade, amador!

Aqui vai uma novidade, colega. Enquanto você trabalha num projeto de R$ 500,00, eu vendo o mesmo projeto por R$ 5.000,00. E você me vê reclamando de concorrência desleal? De que você que vende um trabalho por 10x menos está estragando o mercado? Está desvalorizando a profissão? Não, não me vê falando isso.

Sabe quem mais você não vê reclamando? Profissionais sérios, com trabalho de qualidade e carreira sólida. Pode pesquisar aí. Desafio você a ir ao perfil de qualquer profissional que você admira e procurar um post, tuíte ou mesmo GIF animado em que eles falam mal de sobrinhos.

Você vê o Fabrício Teixeira falando que foi demitido porque a R/GA agora usa Wix? Não, não vê. Já viu o Diego Eis dizendo que WordPress tira emprego de desenvolvedor? Ou o Zeno Rocha reclamando que frameworks de desenvolvimento estão banalizando a profissão? Ou mesmo o Bernard de Luna chorando porque o cara que usa templates prontos o deixa passando fome? Perceba, esses caras estão trabalhando enquanto você está reclamando.

E me deixe agora lhe contar outro segredo. Enquanto eu vendo um produto de 5k, existem estúdios de design que vendem exatamente o mesmo projeto por 50k. Você também não vai vê-los me acusando de ser um profissional medíocre que deveria ser eliminado. Eles estão em outro mercado, trabalhando com outro perfil de cliente.

Percebe como profissionais realmente sérios, competentes e seguros do próprio trabalho não dão a mínima para sobrinhos? Na verdade, geralmente a gente até sente um pouco de pena de você. É um sentimento do tipo “putz, onde a carreira desse cara vai estar aos 30? E aos 40? Como ele vai sustentar uma família assim?”.

Tic-tac, o tempo está passando

Como eu disse, ser sobrinho é um estado de espírito. E você pode mudar isso a qualquer momento.

Nunca vou esquecer uma frase que ouvi no meu primeiro estágio, depois de uma bronca por ter retrucado um DA sênior:

“Cara, se tu te posicionar como estagiário, como alguém que veio para aprender, tu pode crescer muito rápido.”

Eu estava na metade da faculdade e meu trabalho era tão à frente de todos os colegas que eu acreditava sinceramente que tinha um talento nato para a coisa. Alou? Eu tirei 10 no meu teste de direção de arte, quem esse cara pensa que é para me falar como faço meu layout?

Ele era um profissional. Eu era um estudante perigando virar pato.

Mas levar essa bronca, aliado a ter caído num time de profissionais muito talentosos, me fez enxergar como meu trabalho era medíocre. Caso eu continuasse usando colegas de faculdade como referência, nunca iria a lugar algum.

Um passo a passo para deixar de ser sobrinho

Veja bem, eu não sou coach de carreira, e sinceramente penso que meu trabalho ainda tem muito a evoluir. Mas já tenho a segurança para saber que ele não é ruim.  Vou te passar algumas dicas que esses anos na linha de frente me ensinaram. Talvez ajude você.

 

1 – Aquele papo de nunca parar de estudar é real.

Leia tudo. Não tenha preconceito. Se coloque no lugar do cliente do seu cliente e entenda como ele pensa. Assista a palestras no online, baixe e-books. As áreas de design/TI justamente atraem muitos sobrinhos porque a curva de aprendizado inicial é muito curta.

Existe muito material de qualidade na internet. Com poucas horas de estudo você já está à frente da maioria do mercado. Mas de forma alguma considere isso vantagem. Sinceramente, a grande maioria do mercado é de mediano pra baixo. Não é uma boa referência para quem quer ser um A Player.

Aprenda inglês. Aprenda inglês. Aprenda inglês. É sério.

 

2 – Pratique sempre, mesmo que não tenha um job na mesa.

Você gosta de design? Tente reproduzir layouts que vê por aí e acha legal. Entenda como o grid foi construído. Como os elementos se complementam. Pintores iniciantes costumam copiar a técnica de grandes mestres até que aprendem a desenvolver a própria identidade. Pode ser um caminho para fugir da síndrome da tela em branco.

Caso seu perfil seja de desenvolvedor, utilize isso a seu favor. Crie pequenas aplicações que automatizem tarefas do seu dia a dia. Mesmo que no fim acabe nem usando. Desenvolva seus conhecimentos de front-end tentando codificar telas aleatórias do Dribbble. Desafie-se e codifique pelo menos um componente por dia durante um mês.

Com o tempo, depois de praticar com tarefinhas aleatórias, você começa a juntar cada pequeno aprendizado num único projeto. Lá na frente os pontos sempre se conectam.

 

3 – Se você é funcionário…

Primeiro, pare de se posicionar como funcionário. Em nossa área, não existe tal coisa. Todos somos pequenas empresas em potencial. Você não precisa virar freelancer ou abrir seu CNPJ, mas encare cada emprego como um cliente. Se você sempre se dedicar para entregar o melhor projeto possível para seu cliente, nunca vai parar de evoluir. Seja dentro da empresa onde está, seja contratado por outra melhor.

Se você se limitar a entregar o que seu chefe acha “ok”, sempre será um profissional “ok”. Legal de ter por perto, porém dispensável. Não vai chamar a atenção de ninguém.

 

4 – Comece um projeto paralelo. Hoje.

Eu acredito que praticar é fundamental, lembra? Se quiser fazer exercícios com mais propósito, pode começar com um projeto paralelo.

Eu me envolvo em diversas iniciativas paralelas à minha atividade principal. Você deve estar lendo este artigo no Coworking Brasil, que nasceu como um projeto paralelo quatro anos atrás. Hoje é uma empresa com um time de 5 pessoas. O seu projeto paralelo não precisa virar uma empresa, mas talvez uma pequena fonte de renda passiva. Se você não sabe o que é renda passiva, descubra.

Talvez iniciar uma carreira freela enquanto ainda é funcionário seja interessante, ou mesmo tentar criar sua própria startup caso atue como freelancer.

Podem ser projetos com ou sem fins lucrativos. O Coworking Brasil nasceu completamente despretensioso nesse sentido. Nunca imaginei 10% das conquistas que ele me proporcionaria.

Uma dica legal é participar de iniciativas open source. Essas comunidades sempre têm demanda, e recrutadores de empresas estão sempre de olho. Inclusive, recrutadores levam participações nesse tipo de projeto bastante em conta na hora de decidir qual candidato escolher. Principalmente na gringa.

Aliás, tente pegar um job de fora do Brasil. Além de pagarem melhor, vai ser uma puta experiência.

O mais interessante sobre projetos paralelos é que eles possibilitam a oportunidade de trabalhar do seu jeito, no seu ritmo. Tomar as decisões e fazer as coisas da forma que você acredita ser correta, não como mandam você fazer.

 

5 – Aprenda o valor do seu trabalho. E respeite isso.

Seja o valor do seu salário, seja seu valor/hora de freelancer, você precisa estar alinhado ao que o resto dos profissionais estão cobrando. Não porque está “desvalorizando o mercado”, mas simplesmente porque está deixando dinheiro na mesa.

Lembre-se: ninguém liga se você vende seu trabalho a R$ 50,00 + uma coxinha. Meu cliente entende a diferença entre um projeto de 2k e um de 5k. Cliente não é burro – ele sabe avaliar custo-benefício. E aqueles que não sabem são os piores tipos para se ter.

Uma coisa que você aprende quando começa a cobrar valores mais realistas: clientes que pagam mais o respeitam e confiam em você. Eles percebem que você tem expertises que eles não têm, por isso o deixam assumir o controle do projeto. Caso contrário, tentariam eles mesmos fazer ou teriam pegado um sobrinho por um quinto do valor.

Você precisa estar alinhado ao que os profissionais estão cobrando. Não porque está “desvalorizando o mercado”, mas porque está deixando dinheiro na mesa.

Com raras exceções, cliente que paga pouco tende a dar muito mais dor de cabeça. Eu, inclusive, tenho uma regra pessoal de recusar qualquer contrato cujo cliente mesmo antes de ver o orçamento já tente negociar com frases do tipo: “Estamos em crise, não faz um orçamento muito alto, tá?” ou “Você consegue fazer um preço mais camarada pelo motivo X?”. O cara nem sabe o preço e já está tentando desvalorizar meu trabalho? Não, obrigado.

É importante perceber que existem faixas de mercado para todo mundo. Um ótimo exemplo disso são as companhias aéreas. Já reparou como elas vendem o mesmo serviço (levar do ponto A ao ponto B) em diferentes faixas de preço?

Uma passagem na classe executiva custa, em média, três vezes mais que na econômica. Já a primeira classe sai em torno de cinco vezes o preço da executiva. Para algumas pessoas, essa diferença de valor simplesmente não importa, desde que percebam que receberão qualidade de entrega proporcional.

Dessa forma, quando você vende um projeto por um terço do que eu vendo, é um favor que me faz. É um e-mail de orçamento inútil a menos que preciso responder no final do dia. Valeu, sobrinho!

Impact Hub Coworking, em Florianópolis

6 – Tenha postura profissional.

Postura é tudo. Demostrar interesse no projeto para seu chefe, fazer questão de ir às reuniões de apresentação com o cliente, aprender a defender e argumentar sobre suas decisões é um passo fundamental para as pessoas pararem de enxergá-lo como o carinha do computador.

Caso você seja autônomo, a importância triplica, porque é sua imagem na linha de frente. Demonstrar ter a mínima estrutura para atender bem seu cliente é fundamental. Lembre-se: você é uma empresa. Comporte-se como tal. Nada de economizar 50 centavos na impressão, ficar com internet cai-cai na hora do Skype, ou mesmo ser aquele freela que vive sumindo.

A diferença de percepção que meus clientes tiveram a partir do dia que passei a apresentar meu cartão de visitas, com o endereço do meu escritório, e os convidei para vir tomar um café foi absurda. Naquele minuto, meu valor/hora subiu 50% automaticamente. Dica: que tal participar de uma comunidade num espaço de coworking?

Uma luz: talvez o problema não seja seu trabalho, seja você

De vez em quando, quase como raridade, é possível encontrar alguns profissionais travestidos de sobrinho. Funciona assim: o cidadão tem entrega de qualidade, é talentoso, os clientes adoram o que recebem.

No entanto, o cara não sabe vender seu peixe, não conhece nada sobre branding pessoal, não está antenado ao mercado e está acomodado na zona de conforto. Costuma também furar prazos, errar nos orçamentos, não dar suporte pós-venda, enfim, não cria um relacionamento profissional com o cliente.

Esse é um caso complicado. E, infelizmente, já caí nele também. Por um período da minha carreira já deixei alguns clientes na mão. Não é algo que me orgulhe, mas preciso admitir. Foi um período importante de transição.

Nesse caso, dou duas notícias. Uma boa e outra ruim.

A boa é que na parte mais difícil você está indo bem. Entregas de qualidade são algo relativamente raro de achar no mercado. Não que exista pouca, mas toda que existe já está feliz onde está e atolada de trabalho até as orelhas. É super difícil contratar. Pergunte para qualquer recrutador.

A notícia ruim você já deve imaginar. Que tal parar de ser preguiçoso e desorganizado e começar a dar um jeito nessa carreira?

Isso quer dizer começar a estudar coisas que talvez você não goste, como metodologias de projetos, financeiro básico, técnicas de negociação, marketing, etc.

Dica: Um bom ponto de começo para aprender gratuitamente conceitos básicos sobre contabilidade, marketing, administração entre outras coisas é nossa Biblioteca para Empreendedores.

Você não precisa virar um profissional de cada uma dessas áreas, mas precisa de conhecimento básico. Foque também nas soft skills, além das hard skills. Enfim, pare de tratar sua carreira como um passatempo e comece a considerá-la um legado. Seu legado para a sociedade. Talvez aquele pequeno job para a padaria do Zé não signifique nada para você, mas lembre-se de que para o Zé pode ser a diferença entre sucesso e fracasso do negócio dele.

Esse será o maior favor que você pode fazer para seu eu do futuro. Se o seu trabalho for realmente bom e você continuar evoluindo, literalmente não existem limites para onde você pode ir. Basta querer e se organizar para conquistar qualquer objetivo de carreira.

Quer trabalhar no Google? Criar seu próprio estúdio? Viajar o mundo enquanto toca projetos pelo notebook? Claro, sem problemas! Eu nunca conheci um profissional nota 9 e 10 que esteja com problemas para arrumar clientes. Nunca.

Então, bora trabalhar?

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