Dentre as variadas alternativas de espaços compartilhados que surgem, os coworkings públicos no Brasil vão, lentamente, aparecendo em algumas cidades. A pluralidade de perfis no país é cada vez maior, como confirmam os dados levantados pelo Censo Coworking Brasil 2018.

E o que é possível perceber é que algumas prefeituras e governos estaduais já estão por dentro da evolução dos formatos de trabalho. Como ainda estamos todos desbravando esse mercado, é difícil afirmar se essas iniciativas irão se espalhar para todos os estados ou, pelo menos, para as capitais.

Entre os espaços compartilhados públicos já existentes dá para notar dois estilos diferentes: os escritórios abertos onde basta chegar e trabalhar, que são normalmente conjugados com bibliotecas e outros locais de fomento da cultura; e os espaços que funcionam quase como aceleradoras ou incubadoras, em que as empresas precisam participar de uma seleção prévia, preenchendo os requisitos que o projeto exige.

De qualquer forma, este tipo de oportunidade tem tudo para ser bem positivo para os novos empreendedores. Compartilhar experiências e promover conexões é uma tendência totalmente sustentável, e insere cada vez mais a sociedade na cultura colaborativa.

Em Curitiba, foco é nas empresas de cunho social

Ao projetar o Worktiba, o primeiro coworking público no Brasil, a capital paranaense decidiu dar preferência para empresas que tenham como core business projetos de responsabilidade social.

O espaço funciona desde março de 2017, e pode ser uma boa inspiração para outras cidades que desejem promover ações semelhantes. De acordo com a prefeitura de Curitiba, o projeto saiu do papel com custo zero, uma vez que o local já existia e apenas foi adaptado para as necessidades de um local de trabalho.

São 35 estações de trabalho ofertadas através de edital público. As empresas selecionadas não possuem custo algum para utilizar o coworking, mas devem ser compatíveis com os critérios de seleção. Por lá já passaram empresas de diferentes nichos, de banco de desenvolvimento comunitário até doulas que orientam o processo pré-natal de gestantes.

O projeto está ligado ao Programa Viva Curitiba e deu tão certo que o governo municipal já planeja abrir outros Worktibas pela cidade.

ItabiraHUB, espaço aberto com esforços da prefeitura, Sebrae e UNIFEI.

ItabiraHUB, em Minas Gerais, foi pensado para startups, micro e pequenos empreendedores

Como parte do plano de diversificação sustentável de Itabira, em Minas Gerais, o ItabiraHUB levou cerca de um ano para sair do papel. E para que o projeto acontecesse, diversas entidades se envolveram no processo.

Enquanto a prefeitura pensava no planejamento e nos editais de chamamento público para as empresas interessadas, a Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) auxiliou com eventos promotores da cultura empreendedora e o Sebrae doou diversos livros para a biblioteca do coworking, além de fornecer qualificação para os empreendedores. Foi a partir do Startup Weekend, promovido na UNIFEI, que o ItabiraHUB fez a primeira seleção das startups que utilizariam o espaço.

E, assim como em Curitiba, a prefeitura também aproveitou um espaço ocioso que já pertencia ao município. Quando se fala em investimento inicial, em números, a assessoria de imprensa da prefeitura relata que foram gastos cerca de R$ 6 mil.

O espaço é gerido e custeado pela prefeitura, sem que nenhum valor seja cobrado dos coworkers. E como o objetivo é acelerar empreendimentos e auxiliar no crescimento de novas empresas, há ainda uma equipe multidisciplinar a disposição. Os empreendedores podem contar com advogado, contador, um administrador do Sebrae e professores universitários que contribuem no processo de aconselhamento.

“O que se busca, a médio e longo prazo, é a geração de renda e emprego em decorrência dos empreendimentos”, comenta a Secretaria Municipal de Desenvolvimento econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação.

Esse é um case de sucesso que mostra como uma prefeitura pode construir um projeto bacana sem necessitar de um investimento absurdo. Através de conexões e parcerias, é superpossível criar um coworking público para fomentar o empreendedorismo da cidade.

São Paulo possui diferentes tipos de coworkings públicos

De acordo com o Censo 2018, o Estado de São Paulo já possui quase 500 espaços compartilhados. E o governo parece estar atento a essa tendência, tanto que a capital paulista já possui alguns locais destinados para profissionais remotos.

No estilo “chegar, conectar e trabalhar”, é possível aproveitar o espaço do Centro Cultural São Paulo. O lugar não foi construído para ser um coworking, mas oferece estações de trabalho e internet liberada.

Já para quem busca uma oportunidade que pense no longo prazo, dá para se inscrever no Acessa Campus. Desenvolvido pelo governo estadual em parceria com a Fundação Telefônica Vivo, o projeto oferece 100 posições de trabalho.

São cerca de 80 selecionados para ocupar o coworking durante 10 meses, o que faz com que o ciclo vá sempre se renovando. Desse total, 60 coworkers terão acompanhamento da metodologia Pense Grande, programa que busca estimular ações de empreendorismo social entre jovens.

Além disso, em paceria com o projeto Acessa Campus, foram criadas vagas também na Biblioteca do Memorial da América Latina, na Barra Funda, e na Biblioteca do Parque Villa-Lobos, na região de Alto de Pinheiros.

Oficina Design de Processos no Programa HubGov.

Formato inovador que inspira a esfera pública

Falamos constantemente sobre o quão inspirador é o movimento coworking. Debatemos todos os tipos de espaços, para todos os estilos de profissionais e empresas. Mas o que nem passa pela nossa cabeça é como toda essa inspiração pode ser transportada para o setor público.

Em Florianópolis, um projeto chama a atenção por ser voltado para profissionais dos três poderes. O WeGov é um coworking que surgiu em 2015 e nasceu para atender órgãos do Executivo, Legislativo e Judiciário. Um coworking para servidores públicos, que tal?

“O HubGov é um programa interinstitucional no setor público que reúne instituições públicas a fim de resolverem um desafio-problema institucional. São entre 4 e 6 meses de duração, onde as equipes desenvolvem uma proposta de solução a esse desafio através de uma trilha de aprendizagem com base nos passos do Design Thinking. Com isso, as equipes têm a sua disposição ferramentas e metodologias colaborativas para inovar, além de contar com mentorias, reuniões interinstitucionais, encontro de líderes da alta administração, espaço colaborativo de trabalho e por aí vai”, explica Ana Camerano, que faz parte da equipe WeGov.

A primeira edição do programa aconteceu em 2017 e reuniu 14 instituições públicas e 55 servidores de Santa Catarina. Em 2018, o programa começou em março e conta com 26 instituições públicas e 128 servidores públicos de Santa Catarina, São Paulo, Distrito Federal e Goiás.

O projeto, que é um misto de coworking com incubadora, é um modelo super interessante de como a esfera pública pode fugir um pouco dos moldes engessados e lentos da burocracia diária. “Nosso trabalho é identificar as boas práticas, iluminá-las e disseminá-las para que todos possam melhorar o processo”, diz a fundadora e diretora administrativa da WeGov​, Gabriela Tamura.

Espaço Rio Criativo, que tem como foco fomentar o desenvolvimento da economia criativa.

Iniciativas começam a se espalhar pelo país

Pouco a pouco, diversos estados brasileiros começam a pensar em iniciativas de coworkings públicos. E não são somente as capitais que despontam nesse cenário.

Uberaba, em Minas Gerais, por exemplo, é uma cidade com menos de 300 mil habitantes e já possui cinco espaços com estrutura para trabalho compartilhado. Os ParqueLabs, como são chamados, são todos gratuitos e fazem parte do projeto Parque Tecnológico, idealizado pelo Programa Uberaba Inovadora.

Uma das cidades mais inovadoras do Brasil, o Rio de Janeiro possui o Rio Criativo que, como o nome já diz, tem como foco fomentar o desenvolvimento da economia criativa. Por lá, a cada 6 meses novas empresas ocupam os 40 postos de trabalho disponíveis. O coworking é considerado como uma etapa de pré-incubação, e as empresas são escolhidas a partir de edital público.

Em Porto Alegre, o POA.hub funciona desde março de 2017. O espaço compreende três ambientes distintos de inovação: o coworking, onde profissionais independentes podem desenvolver seus projetos e estimular o networking; o criaPOA, um laboratório de experiências em processos para resolução de problemas; e o POAlab, um laboratório experimental que visa a pré-certificar técnicas, produtos e serviços.

Com o amadurecimento do mercado coworking, as novas alternativas vão aparecendo, e esperamos que os coworkings públicos no Brasil ganhem força e rendam ainda muitos frutos. Conhece algum projeto que não citamos aqui? Conta pra gente nos comentários que vamos adorar acompanhar todas as novidades!

 

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