Coworkings segmentados: essa tendência vale mesmo a pena?
Com o dinamismo do mercado dos coworkings, os espaços de nicho começam a ganhar cada vez mais expressividade.
Este artigo é uma coprodução entre
Fernando Aguirre e Tuani.
Seguindo o fluxo natural das tendências para o mercado dos escritórios compartilhados, os coworkings segmentados no Brasil ainda aparecem de forma tímida e menos expressiva que os espaços que recebem diversos tipos de profissionais. Mas, de qualquer forma, a tendência tem se consolidado em diversos países e tem tudo para ser uma alternativa no cenário brasileiro em meio a tantas mudanças aceleradas do mercado.
Assim como as salas privativas já foram uma ideia que parecia ir contra os princípios do coworking e hoje já predominam nos principais centros urbanos, os espaços de nichos específicos ainda podem provocar questionamentos.
Como escolher o nicho certo?
Pesquisando e analisando diversos espaços compartilhados de nicho é muito fácil identificar um padrão: a maior parte dos empreendimentos específicos para alguma área de trabalho foram criados por um profissional desse mesmo setor. E, obviamente, isso tende a dar mais certo, uma vez que o profissional já conhece as necessidades e possibilidades do seu potencial cliente, afinal, ele mesmo pertence ao mercado.
É claro que não basta ser um advogado e abrir um espaço de trabalho para advogados. É preciso ter a noção que dali pra frente essa figura também será uma administradora, bem como a líder de uma comunidade.
Uma ideia que pode funcionar muito bem é um negócio com mais de um sócio, onde pelo menos um possui o conhecimento sobre o nicho escolhido e o outro tenha uma noção mais ampla de empreendedorismo. Foi basicamente assim que nasceu o LAB Fashion, primeiro coworking com foco na moda sustentável de São Paulo.
Junto com um sócio fundador, Diogo Hayashi apostou na ideia, já que pelo menos um deles já tinha experiência com moda. A vontade sempre foi de criar um espaço compartilhado e que gerasse um impacto social positivo, e eles vislumbraram uma oportunidade única ao apostar nesse segmento.
“A grande vantagem é que você se torna referência muito mais rapidamente e as pessoas passam a lhe procurar por você ser especializado. A desvantagem é que quando as pessoas não são do segmento acabam não frequentando o espaço, mesmo sendo um espaço multiuso”, opina Diogo.
LAB Fashion: espaço possui estúdio fotográfico e ateliê compartilhado
Quais são as vantagens dos coworkings segmentados?
Com essa tendência ganhando força em diversos continentes, os founders e futuros fundadores de espaços compartilhados devem estar se perguntando como explorar um determinado setor e como oferecer aquele algo a mais que os coworkings tradicionais não podem proporcionar.
Bom, vamos aos principais pontos positivos:
○ Oferecer mais opções para necessidades específicas
Para diversas áreas, um coworking comum pode ser uma aposta bem melhor do que o home office, mas, com o tempo, algumas necessidades diferenciadas começam a aparecer.
Vamos pegar como exemplo um profissional da área de criação. O trabalho dele pode ser 100% feito no computador, ou seja, uma estação de trabalho com internet parece ser o suficiente. Mas, se ele quiser expandir seus negócios e começar a criar conteúdo em vídeo, um espaço que seja equipado para isso vai ser muito mais vantajoso e até mesmo motivador.
Se o coworking é a solução que o profissional ou que as empresas buscam, o founder deve pensar em todas as possibilidades para proporcionar tudo o que eles precisam em um só lugar. É aí que os espaços de nicho saem na frente, uma vez que um coworking habitual não consegue atender as demandas específicas de todos os tipos de coworkers.
○ Maior possibilidade de se destacar no mercado
Essa é uma via de mão dupla: o coworking segmentado tende a se destacar mais no mercado da cidade em que está inserido, pois dificilmente existirão dezenas de espaços semelhantes. E, do outro lado, os coworkers lá instalados também ganham visibilidade uma vez que o espaço é reconhecido no setor.
Lembre-se: quando você se posiciona como autoridade em um determinado assunto, você não é apenas um peixe em meio a um cardume.
○ Troca de experiências
É claro que todos os tipos de coworking promovem trocas superconstrutivas. Afinal, é isso que move esse lifestyle. Mas, quando se fala em coworkings segmentados, é muito perceptível como a troca diária é positiva.
Quando os profissionais estão cercados por pessoas com objetivos semelhantes, ainda mais em um ambiente de economia do compartilhamento, um acaba incentivando o outro e o gás para alcançar novos sucessos só aumenta.
The Wing: os semelhantes se atraem e têm ainda mais força
○ Novas possibilidades de negócios e parcerias
A partir da troca de experiências proporcionadas pelo networking, as parcerias acabam fluindo naturalmente no dia a dia. O trabalho do community manager no espaço segmentado também é importante, mas as articulações tendem a acontecer de forma muito mais simples.
Cada profissional, ou mesmo as empresas de pequeno e médio porte, tem uma área de atuação específica, por mais que abra algumas exceções vez ou outra. Um arquiteto, por exemplo, que trabalha com interiores e é chamado para projetar uma reforma. É muito provável que ele vá precisar de alguém que trabalhe com iluminação ou paisagismo. Não fica mais fácil se o contato certo estiver logo ali, na mesa ao lado?
Como explorar todo o potencial desse formato de escritório?
A base do coworking são as conexões, independente dele ser segmentado ou não. Caso contrário, seria somente um escritório comum. É claro que um espaço de nicho terá características físicas especiais para atrair o público certo, mas é preciso ir além e investir em troca de conhecimento.
Para criar novas articulações, tanto para o seu espaço como para os seus coworkers, crie oportunidades de encontros e cursos, por exemplo.
Se o founder pensar grande e tiver um certo background, dá até para criar uma espécie de escola para o segmento escolhido. Já imaginou que ótimo ser referência dentro do seu ramo?
Sem contar que esse é um ciclo que se retroalimenta: os coworkers fazem os cursos oferecidos pelo coworking, assim como novas pessoas podem chegar ao espaço através dos cursos, tornando-se potenciais parceiros.
Um espaço que pode ser referência nesse assunto é o House of Food, de São Paulo. A ideia inicial era abrir um local com uma cozinha profissional totalmente equipada, um lugar para que chefs e amadores pudessem preparar suas receitas. A ideia já era ótima, mas ficou ainda mais especial quando eles começaram a promover aulas de gastronomia, jantares e outros projetos.
House of Food: casa cheia para um dos tantos eventos gastronômicos promovidos no espaço
Algumas tendências de coworkings segmentados:
– Coworkings familiares
Embora seja uma tendência crescente, esse nicho ainda tem muito a aprender e aprimorar. Isso porque não basta ter uma estrutura para os coworkers. Aqui, o mais importante é pensar na parte de cuidados dos filhos dos profissionais, então o assunto é bem mais delicado, pois envolve até mesmo regulamentação de órgãos educacionais.
O fato é que essa é uma tendência a ser explorada, uma vez que cada vez mais mulheres se firmam como empreendedoras e não querem deixar de constituir família. A Casa de Viver foi o primeiro espaço deste estilo no Brasil, fica em São Paulo, e é um bom case de sucesso.
Para quem quer se aprofundar neste assunto, aqui tem um artigo bem interessante que debate o tema.
– Coworkings gastronômicos
Como já citamos ali em cima o exemplo da House of Food, os espaços dedicados a gastronomia começam a aparecer no cenário com maior expressão. Muitos deles são tratados como “laboratórios de comida”, e fomentam os pequenos empreendedores que desejam se inserir nesse mercado.
A boa notícia é: tem tudo para dar certo! Com o incentivo aos produtores da culinária independente ganhando cada vez mais força, quem tem apostado no nicho não está arrependido.
– Coworkings de beleza
Quem já foi em um salão de beleza e conversou com os profissionais que lá trabalham já deve ter percebido como muitos deles normalmente estão um pouco frustrados com a porcentagem dos ganhos que fica com o “patrão”. É por isso que muitos deles saem e abrem seus próprios espaços. O problema é que, depois de um tempo, eles acabam fechando as portas por conta dos altos custos e retornam para a vida de funcionários.
A rede My Salon Suite, com espaços espalhados pelos Estados Unidos e Canadá, é a prova de que os coworkings de beleza têm potencial para dar certo. Com a estrutura toda pronta, o profissional pode agendar horários esporadicamente ou ter uma sala só sua. Mesmo com os custos mensais do espaço, os lucros ainda são maiores e ele pode trabalhar por conta própria.
– Coworkings de saúde
Outra tendência que já aparece até mesmo no Brasil é dos coworkings de saúde. Médicos são profissionais que, frequentemente, atendem em mais do que um lugar e possuem uma agenda bem dinâmica. E, muitas vezes, os custos de alugar uma sala comercial com uma boa localização acabam sendo elevados demais. Por que não alugar um consultório equipado apenas quando fará atendimentos? Localizado em Cotia, o Espaço Saúde Granjardim é uma alternativa para profissionais que não precisam de uma sala em tempo integral. Interessante, hein?
– Coworkings femininos
Essa é uma segmentação que, obviamente, não tem a ver com o uma determinada área de atuação, mas sim com um conceito. E o fato é que, nos lugares onde se instalaram, os coworkings femininos são sucesso total! O mais expressivo deles é o The Wing, em Nova York, que chegou a ter uma lista de espera de 3 mil mulheres e já possui quatro unidades nos Estados Unidos. Nos planos estão a abertura de mais sete unidades, incluindo Toronto e Londres.
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